Amor, medo e adrenalina.

395 35 3
                                    

NAYAMA
SUASSUNA

Eu jamais poderia imaginar que seria selecionada junto a atletas de elite no surfe para disputar por medalhas para o meu país em um dos eventos mais importantes do mundo.

As olimpíadas era um sonho pra muitos atletas, agora ainda mais, com
novos esportes dentro da competição. Eram mais do que só medalhas, significava muito mais do que só vitórias, visibilidade ou pódio: tinha a ver com orgulho, amor a pátria, ao esporte. Tinha a ver com o compromisso consigo mesmo, com sua paixão, com sua família e seus treinadores e colegas de equipe. Tinha a ver com todos aqueles que acreditam em você, toda a nação do seu país, você está lá para representá-la.

É uma responsa e tanto, e que eu estava preparada para cumprir.

Surfo desde pequena, e, para o desespero da minha mãe, sempre foi meu esporte preferido.

Ela sempre quis uma garota que fizesse ballet, vivesse de lacinho na cabeça e brincasse de boneca o tempo todo. Bom, eu adorava brincar com Barbies ou de casinha, quando eu não quebrava as Barbies ou dizia que minhas bonecas bebês estavam mortas.

Eu adorava andar de moto com meu tio, jogar videogame com meu irmão, assistir futebol com meu pai e surfar com os meninos do meu bairro, e isso nunca me fez menos feminina que as outras garotas.

Sempre fui conhecida como "a menina da prancha rosa", e até meu leash tinha um lacinho rosa. Meus maiôs eram coloridinhos, e, em minha defesa, eu tentei fazer ballet — mas era muito entediante, com todo respeito.

Eu sempre gostei de adrenalina, coisas que faziam meu coração bater acelerado, errar batidas ou parar de bater por uns segundos, coisas que faziam meu estômago parecer vazio e meu corpo gelar ou pegar fogo.

Além do surfe, a única coisa que me deixou assim na vida, foi amar o Gabriel Medina.

Ele foi meu primeiro e único amor, e, por algum motivo, esse sentimento me impedia de voltar para ele. Eu sabia o que poderia acontecer comigo pilotando uma moto de grande porte na sua maior quilometragem, sabia o que podia acontecer comigo se eu surfasse em mares perigosos e agitados, sabia o que poderia acontecer comigo se eu esquiasse em lugares inapropriados, mas não sabia o que poderia acontecer comigo se eu me perdesse no amor.

E eu não conseguia lidar com isso. Não era sobre se entregar, e sim sobre ter controle. Eu tinha noção de todas essas coisas, e, por mais que eu adorasse, eu sabia controlar e dosar para que não me prejudicasse, mas no amor não, e isso me assustava.

Eu tentei voltar, inclusive cheguei a ir a Maresias várias vezes, mas nunca contei a Gabriel, nunca o encontrei e sempre pedi para que as pessoas mais próximas também não o comunicassem.

Quando eu fui classificada para as olimpíadas eu senti uma felicidade que jamais conseguirei descrever, mas não pude evitar me recordar que meu maior desafio não seria o mar, as baterias ou os adversários, e sim Medina.

GABRIEL
MEDINA

Eu tentava não pensar em nada. Tipo, literalmente não pensar. Em nada, e em ninguém. Muito menos nela.

Sempre fui muito frio em qualquer competição, sempre deixei meus sentimentos de lado para não me afetar em provas, e o resultado foram 3 títulos mundiais.

Quando ousei colocar meus problemas pessoais acima do surfe, fui eliminado e completamente roubado durante o maior evento esportivo do planeta.

Eu me prometi jamais passar por isso de novo, é por isso que me fechei tanto para relações de 4 anos pra cá. E estava indo muito bem, fazendo ótimas competições, alcançando cada vez melhores resultados.

Mas meu mundo parou quando soube que Nayama havia sido classificada para as olimpíadas.

Em 2021 ela havia ficado de fora, mas esse ano a caiçara tinha conseguido sua vaga. E eu perdi o sono por noites.

Eu não sabia o que esperar quando nos encontrássemos, foram 20 anos longe, mais de 15 só nutrindo a esperança de que ela voltaria.

Eu me sentia um idiota, até hoje.

Minha maior vontade era vê-la outra vez, e, agora, eu estava prestes a dividir um dos mais memoráveis momentos da vida de um atleta com ela, mas não sabia o que sentir ou pensar. Era uma misto de raiva com saudade, um pouco de amor, muita dúvida e principalmente medo.

Medo dela não ser mais a mesma pessoa, de não lembrar de mim, de não fazer questão.

Medo de não me amar mais, nem um pouco, nem 1% que seja. Mas principalmente medo dela mexer com a minha cabeça e me desconcentrar.

Eu não poderia errar esse ano, e ela era a única pessoa capaz de me fazer perder o foco.

𝒐𝒄𝒆𝒂𝒏𝒐, gabriel medina.Onde histórias criam vida. Descubra agora