O mar é seu.

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GABRIEL
MEDINA

Eu tentei dar o meu melhor, mas às vezes, isso não é o suficiente.

Se sentir impotente é uma merda, querer mostrar seu valor e não poder é tão frustrante que sufoca. Não consegui nem contar quantos minutos eu fiquei parado, sentado em cima da prancha, olhando a imensidão do mar azul de Teahupo'o parado, sem ondas.

Eu olhava para trás com um intervalo curto de tempo, tentando enxergar o tempo no telão, mas já estava sem esperanças de pegar boas ondas e conquistar o segundo ou primeiro lugar no pódio.

Eu me sentia o mesmo Gabriel de dez anos: fraco, sem experiência, sem esperanças, sem minha fortaleza, sem minha sorte, sem Nayama.

Ela. Pela primeira vez em meio a uma bateria eu pensei nela. Meus olhos queriam se encher de lágrimas, eu não entendia o motivo disso bem agora, nesse momento, definitivamente isso não deveria estar acontecendo agora.

Eu escutei o barulho do fim da prova soar ao fundo e me tirar do transe. Não era o fim da linha, ainda podia ganhar a medalha de bronze, mas eu estava sentindo um turbilhão de coisas que me faziam pensar que eu jamais conseguiria. Era o mesmo sentimento da última olímpiada e isso me fazia querer chorar como uma criança.

Assim que saí da água, subi em um dos barcos de apoio ao lado já que duas baterias depois eu disputaria o bronze. Eu poderia ir até a praia já que teria muito tempo até minha próxima bateria, mas preferi ficar por ali.

Tati estava na primeira bateria feminina e, consequentemente, Nayama iria estar na próxima. 

Eu conversei com Charles, que me acalmou, mas tudo o que eu queria era ficar sozinho antes da minha próxima bateria, pensar no que fazer e me acalmar. Pódio é pódio, medalha é medalha e, independente da posição, vitórias são vitórias. Eu batalhei muito para chegar até aqui e não desperdiçaria chance alguma.

Mas não podia evitar me sentir cansado.

— Gabriel — a voz de Nayama, baixa e ofegante, cortou o silêncio como um sussurro urgente. O som me fez levantar a cabeça, o coração acelerado, tentando entender o que estava acontecendo.

Ela apareceu, correndo apressada até a parte de dentro do barco, onde eu estava sozinho, e me envolveu em um abraço inesperado e intenso. O cheiro dela, tão familiar e reconfortante, acalmou meu coração em um instante, trazendo uma sensação que eu nunca conseguiria descrever. Eu me senti pequeno e protegido, como o garoto de 10 anos que ainda guardava em seu coração o sonho de vê-la outra vez.

— Uma vez você me disse que eu era seu amuleto da sorte, lembra? — murmurou quando levantou o rosto que estava apoiado em meu ombro e colou nossas testas. Seus olhos cor de jabuticaba brilhavam como nunca. — Eu estou aqui, e não vou embora nunca mais. Esse mar é seu. Mostra o que só você sabe fazer.

Ela se afastou, mas ainda manteve suas mãos em meus ombros, olhando-me nos olhos com uma intensidade que me fez perder o fôlego. Com um sorriso travesso, ela se levantou na ponta dos pés e pressionou um beijo suave em minha testa. Então, fez uma careta fofa e bagunçou meu cabelo com carinho antes de se afastar, saindo apressada.

Somente então percebi o jetski lhe aguardando para levá-la embora.

Naquele momento, senti uma paz profunda. O Gabriel de 10 anos, que sempre esperou pelo amor da infância, sentiu que tinha tudo o que sempre desejou. Eu estava fazendo tudo isso por ele, e ia até o fim, porque finalmente havia recuperado minha sorte e esperança. Eu a havia recuperado ela: Nayama.

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⏰ Última atualização: Oct 10 ⏰

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𝒐𝒄𝒆𝒂𝒏𝒐, gabriel medina.Onde histórias criam vida. Descubra agora