Pedido ao sol.

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GABRIEL
MEDINA

Cada dia que adiavam as etapas minha ansiedade aumentava. Não só por conta das baterias, mas porque era mais um dia encontrando Nayama em todos os cantos da casa.

Eu fazia de tudo pra ficar longe dela: treinava bem cedo, ia andar de bicicleta pelo vilarejo, ia pra praia pegar umas ondas, jogava altinha com os meninos e até me forçava a dormir mais tempo do que o necessário. Mas ela sempre dava um jeito de aparecer, fosse nos meus sonhos, cantando no cômodo ao lado ou rindo alto com a Tati.

Era sempre um jeito diferente de me lembrar que, não importa o que eu fizesse, ela ainda estava alí, não só na mesma casa, mas também no meu peito.

Tratamento de silêncio é a coisa mais estúpida que eu poderia fazer, mas era por um bem maior e era isso que eu tentava me convencer, mas estava ficando difícil.

Toda vez que eu a via jogando algo com as meninas, correndo na praia, cantando e tocando violão sozinha ou dormindo serena em um dos sofás do deck eu sentia vontade de chegar nela e dizer tudo o que eu sentia de verdade e como eu sempre senti isso em mim.

Hoje decidimos pegar algumas ondas e saímos juntos em um barco, eu, João, Tati e Nayama.

A gente se divertiu muito, eu tinha me esquecido como a morena sempre foi engraçada. Alí eu me permeti rir e brincar das palhaçadas que ela fazia, afinal, foram 3 dias de paralisação e eu não iria perder o foco se relaxasse um pouco.

Como passamos praticamente a tarde toda no barco, tinham comidas e bebidas e em algum momento Tati e João se afastaram pra comer enquanto Nayama estava bem na ponta do barco, olhando o lindo pôr do sol que estava se formando. Ela virada pro horizonte, era uma das vistas mais lindas que eu já vi na vida.

Me aproximei por trás e disse no seu ouvido:

- Quando você quiser muito alguma coisa, muito mesmo, pede pra Deus no pôr do sol que o sol vai levar seu recado. - ela conhecia a frase como uma boa fã do Chorão, eu sabia que já tinha ouvido.

Percebi ela fechando os olhos com força enquanto eu me sentei ao seu lado, sorrindo largo e encarando seu rosto.

Quando ela abriu, procurou rapidamente meus olhos e sorriu sem mostrar os dentes.

- Ele nunca falha. - ela disse calma. Eu concordei com a cabeça.

- Nunca. - disse também calmo. Seu cabelo castanho escuro ficava vermelho no sol e eu achava isso lindo. Seus olhos redondos brilhavam e ela, na frente do sol, naquela paisagem única, era uma das coisas que eu jamais esqueceria na vida.

Eu adoraria saber o que ela pediu ao sol, mas eu preferia acreditar mais no meu pedido: conquistar a medalha de ouro e ter ela ao meu lado pro resto da vida.

Ela mudou de lugar, vindo até o meu lado e me abraçando de repente.

Eu congelei por uns segundos, mas retribui o abraço, de olhos fechados, aproveitando pra sentir melhor seu cheiro. Ela cheirava a morango e a sal, o que era engraçado, mas com ela combinava.

As vozes de Tati e João se fizeram presente e então nós nos afastamos. Eu tive que segurar meu sorriso porque estava louco pra gritar pro mundo todo que tinha ganhado um mísero abraço de Nayama, mas consegui me conter.

Ela pareceu ficar tímida de repente, e ficou calada até voltarmos pra casa.

Já havia anoitecido quando chegamos na vila, tomamaos uma ducha rápida e fomos jantar.

- Ei - a voz da mais nova foi ouvida enquanto eu estava na ducha do lado de fora. Ela parecia querer dizer algo, mas ainda estava excitante. - Esquece o aconteceu mais cedo, tá? O abraço, aquilo não deveria ter acontecido. - ela disse antes de virar as costas e entrar na casa.

Eu fiquei confuso, imóvel. Por que não? Era a vergonha de Tati e João terem nos visto próximos? Eu nào consegui entender.

Uma simples coisa conseguiu mexer com a minha mente e me deixar inquieto o restante da noite. Eu tentava me convencer de que tinha sido só um abraço, mas meu coração interpretava muito além disso.

𝒐𝒄𝒆𝒂𝒏𝒐, gabriel medina.Onde histórias criam vida. Descubra agora