O amor nunca morreu.

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GABRIEL
MEDINA

Mais um dia de paralisação e o que deveria ser o último. Foram dias bons pra focar em nos prepararmos, mas péssimos porque todos alí que ainda estavam competindo só queriam surfar e ter seu trabalho finalizado se uma vez por todas.

De qualquer forma, entendíamos que todas as vezes que adiaram a competição tinha sido para o nosso bem, então apenas focamos em treinar e ficar de boa o restante dos dias antes das baterias que iriam ditar os pódios.

Hoje fizemos um churrasco na nossa casa e foi muito legal ver geral junto. Os pais de Tati estavam aqui, Charles também tinha vindo torcer por mim e até o pai de Nayama tinha vindo.

Tainá havia ido para a Califórnia já que o Lexus US aconteceria nos próximo dias e ela estaria competindo. Era pra onde Charles iria também para acompanhar Sophia assim que as estapas se finalizassem aqui.

O Fê e o João ainda estavam aqui, então aproveitamos para tomar umas cervejas que Scooby levou — sem álcool — e descontrair.

— Eai, beleza? — disse cumprimentando Óscar, pai de Nayama, com um toque de mão e um meio abraço.

— Eai, quanto tempo, cara — ele respondeu me analisando.

— É, pois é — concordei rindo sem graça. Eu não tenho muitas memórias de Óscar, só que ele levou a minha garota pra longe de mim ainda cedo. Eu tinha muito contato com Yara, a mãe de Nayama, já que ela morava em Maressias e era próxima da minha mãe até hoje. Inclusive, era pra ela que eu perguntava várias coisas sobre Nayama, mas depoia de uns anos elas pararam de manter contato e eu acabei desistindo de saber sobre a caiçara.

O pai de Nayama sempre foi muito descolado, sempre foi um cara da academia, tem várias tatuagens e um estilo surfista jovem.

— Preciso te parabenizar pela Nay, ela manda muito mesmo — disse depois de uns segundos. Ele foi treinador dela por muitos anos, e, se ela chegou onde chegou, é porque Óscar é bom pra caralho. — Sempre me contavam dos campeonatos que ela liderava.

— Pô, 'tamo junto, Medina — ele agradeceu com seu jeito paulistano. — Faço tudo pela minha princesa, ela disse que queria viver de surfe e eu jamais negaria algo pra ela, só pude apoiá-la. — Ele disse a encarando de longe. Ela ria com Tati e Filipe enquanto ele falava algo com elas. — Mas quem manda muito é você, ser tricampeão não é pra qualquer um.

— É, tem que ralar muito né?! — eu disse rindo. — Eu tento. — ele riu de mim.

Ficamos um tempo conversando até ele dizer algo que congelou meu cérebro:

— Ela sempre perguntava muito de você — disse ele no meio da frase. Foi tudo o que meu cérebro prestou atenção.

Ela perguntava de mim, ela se importava comigo. Mesmo longe, ela ainda queria saber como eu estava.

— Ela teve uns problemas com a mãe depois que decidiu que queria que eu ficasse com a guarda dela — ele completou. — Por isso ela demorou pra voltar pra Maresias e visitar Yara e o Yago, a mãe dela é cabeça dura, dizia que não queria ela lá. Depois de um tempo ela deixou de fazer questão e não tentou mais ir. — ele explicou.

De repente algo se acendeu em mim.

— Mas elas estão brigadas até hoje? — perguntei. Meu coração batia tão acelerado que eu senti medo de infartar.

— Não, elas se resolveram há uns anos, tem 3 natais que ela passa lá em Maresias com eles — disse se referindo a Nayama ir visitar a mãe e os irmãos.

Meu coração se acalmou um pouco, ela poderia ter me procurado se quisesse.

Eu a encarei de longe antes de Óscar finalizar o assunto e ir até o treinador da seleção. Eu ainda tentava assimilar tudo: ela foi perdendo o interesse aos poucos? Ela sempre pensou em mim? Eu sempre fui importante pra ela? Até que momento ela me procurou?

Eu só queria sanar todas essas dúvidas antes que meu coração se apertasse tanto a ponto de sumir no peito.

🌊

NAYAMA
SUASSUNA

Charles era um amor! Tinha me esquecido do quão fofo ele era.

Conversamos sobre várias coisas, até sobre Sophia que eu não havia conhecido pessoalmente quando ainda morava em São Sebastião, mas que era impossível não ouvir falar seu nome entre as competições.

Contei até de uma vez que me assustei quando ouvi dizerem seu nome e sobrenome em uma competição em que eu estava, afinal, não via Medina há anos e havia ouvido seu sobrenome junto ao nome de outra pessoa.

— Acho que o destino não quer os Medinas e o Suassunas separados nunca — ele disse rindo. — Simone e sua mãe são grudadas até hoje.

— Saudades da tia Simone, ela sempre me defendia quando minha mãe ficava uma fera com a gente — disse rindo. Minha relação com a minha mãe sempre foi muito conturbada, ela sempre foi marcisista, e, quando fiz seis anos, foi diagnosticada com transtorno Bipolar. Era muito difícil lidar com ela e seu humor oscilante, o que mais acontecia era eu correr para a casa dos Medina quando ela ficava brava — o que acontecia com muita, muita frequência.

— Ela pergunta de você até hoje — ele comentou. — Pediu até pra eu puxar sua orelha por você não ir mais visitar ela lá em Maresias. — eu ri sem graça, abaixando meu olhar para meus pés. — Todo mundo sente sua falta por lá, Nay. Você era a alegria do bairro, os meninos todos ainda lembram de você e como você aprontava com eles no mar, deixando eles pra trás. — eu ri com ele lembrando o quanto aprontei. — Mas principalmente Gabriel, ele sim nunca te esqueceu. Sabia que ele perguntava se tinha chance de te encontrar quando viajávamos em competições?

Meu coração se quebrou em pedaços milimetricamente pequenos. Eu sabia que Gabriel havia sentido minha falta, mas não conseguia imaginar o quanto. A ponto de Charles me contar, provavelmente havia sido muito.

Eu senti meu estômago se revirar no mesmo instante que imaginei o quão monstruosa eu consegui ser fazendo ele esperar por mim, ansiar por uma visita minha, perguntar por mim para várias pessoas.

Eu sorri sem graça, evitando encará-lo já que meus olhos estavam cheios de lágrimas.

— Pega leve com ele, tá? Sei que ele pode ser meio rabugento, mas isso tudo é só saudade, ele não sabe lidar — disse baixinho, colocando a mão em meu ombro. Eu balancei a cabeça em confirmação, segurando as lágrimas. — Sei que vai dar tudo certo entre vocês. — ele deu um beijo no topo de minha cabeça e saiu.

Eu segui meu caminho pro lado de dentro, aproveitando que estávamos perto de uma das entradas da casa e fui direto para o banheiro.

Passei mal de tamanha ansiedade, em meio as lágrimas quentes que caíam em meu rosto. Eu sentia vontade de me redimir, mas tinha vergonha do que eu tinha feito e sabia que nem conseguiria olhar nos olhos de Gabriel e pedir desculpas.

Eu era definitivamente uma enorme convarde, e era isso que mais me enojava. Eu queria fugir de mim, mas sabia que cedo ou tarde teria de encarar essa situação.

𝒐𝒄𝒆𝒂𝒏𝒐, gabriel medina.Onde histórias criam vida. Descubra agora