Voltando a realidade.

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NAYAMA
SUASSUNA

A terceira etapa do feminino aconteceria hoje juntamente das quartas de final, já do masculino seriam apenas as quartas de final.

Chumbinho e Medina e eu e Tainá caímos juntos respectivamente, o que era uma pena, dava um aperto no peito saber que ou você passa e elimina um amigo, ou seu sonho de trazer uma medalha acaba.

Eu, Tati e Medina estávamos na sala de força, treinando para as baterias mais tarde. Apesar do foco, eu e Tati conversávamos uma hora ou outra sobre coisas aleatórias e Medina se mantinha calado o tempo todo.

Tati terminou sua bateria de treinos antes de nós dois, então ficamos alí por um tempo, ambos calados, focados em fazer nossa bike.

— Cabelo longo com certeza é a sua cara — disse para Gabriel que estava na bicicleta ao meu lado. Estava tentando puxar assunto, afinal, minha consciência estava pesada e eu estava tentando correr atrás do tempo perdido pelo menos pra melhor o clima energético entre nós.

— Valeu — disse simples, focando o olhar no chão com os braços apoiados na máquina. Estava meio ofegante, focado em seu cardio.

— As tatuagens também, a do tigre nas costas é linda — disse ainda o encarando. Ele não disse nada e não moveu um músculo sequer para me encarar de volta. Depois de uns segundos de silêncio eu resolvi voltar a falar. — Como tá sua mãe? — perguntei como quem não quer nada. Ele finalmente levantou a cabeça para me olhar.

— Se você quisesse mesmo saber teria mantido contato — disse simples, voltando sua atenção para frente e arrumando sua postura. Eu estava imóvel, sem saber o que responder.

Ele tinha razão. Eu não estava no direito de perguntar isso.

Ele se levantou da bicicleta e saiu da sala enquanto eu permanecia sem me mover.

Foi um choque, mas foi necessário pra fazer eu cair na real: não seríamos mais amigos, não seríamos nem sequer próximos, e eu precisava aceitar isso logo, antes que doesse mais.

🌊

Ver meu pai em um dos barcos enquanto eu surfava foi surreal! Era a energia que eu precisava pra ir adiante.

Com dois minutos de bateria eu peguei um tubo muito bom, e olha que o mar estava mais para manobras. Passei a mão na parede de água enquanto passava pelo tubo e, quando sai, consegui mandar uma batida vertical numa onda, voltando com um layback e finalizei mergulhando no meio da espuma.

Foi simples, mas me rendeu uma nota boa de 7.50 pra começar.

Tainá pegou uma onda, mas não conseguiu finalizar bem.

Até o final da bateria eu peguei mas 3 ondas e garanti uma nova alta: 16.70, e estava classificada para as quartas de final que seriam mais tarde.

Assim que a buzina tocou, indicando o final da bateria, abracei Tainá de lado e ela estava emocionada.

— Sinto muito, amiga — disse fazendo carinho em seu ombro. Ela sorriu sem mostrar os dentes.

— Tudo bem, vai lá e traz nossa medalha, tá? — disse chorosa. Enconstei minha cabeça na sua antes de sair remando até o barco em que Scooby berrava meu nome. Tainá passou reto pelos barcos que estavam alguns repórteres.

— PUTA QUE PARIU, POCAHONTAS! — ele gritou no microfone quando o Jet-ski que eu estava se aproximou do barco dele. Eu sorri largo, com meu óculos rosa no rosto. — Foi difícil essa bateria, né?! Com a Tainá, pô, sua amiga e tal, como que foi pra você?

— Ah, é muito triste ter que tirar uma amiga da competição né — disse olhando pra cima, pro rosto dele. — Tainá é uma ótima surfista, tem muito o que mostrar pra gente ainda, tenho certeza que ainda vai trazer muita medalha pra gente no futuro e muitos outros títulos.

— Pode crê, ela ainda tem bastante olimpíada pela frente, você já tá idosa, tem que correr atrás da sua né — ele disse zombando da minha idade o que me fez rir alto.

— Aprendi com você né Scooby, dá pra ser velho e surfar muito ainda — brinquei e ele riu.

— É isso aí, valeu, Nanay! Até mais — disse fazendo um toquinho comigo e se despedindo.

O jet-ski saiu em direção a terra firme e eu cumprimentei meu pai no caminho. Vi também que Charles, padrasto de Medina estava junto dele e acenou pra mim também. Ele ainda era praticamente o mesmo, jamais me esqueceria do Charlão.

Depois das quartas de final dos homens, onde Medina passou e João infelizmente ficou de fora, eu e Tati fomos disputar nossa vaga para a semifinal.

Ela contra uma espanhola e eu contra uma costa-riquenha. Minha disputa foi complicada, minha adversária também conseguiu pegar muitas ondas e fazer boas manobras.

Ela estava na frente faltando 2 minutos para a bateria finalizar. Não vinham mais onda alguma. Eu tentava não ficar nervosa, afinal, as coisas acontecem por um propósito e eu aceitaria o que viesse, mas, até a buzinha ecoar, a minha esperança ainda existiria.

1 minuto e 20 segundos e uma onda se aproximava. A prioridade era minha. Era agora ou nunca.

Avancei subindo pela parede da onda e me equilibrando dentro do tubo que se formava. Era uma onda forte, devia ter quase ou 3 metros e meio, se não mais. Meu único medo era cair dela, mas incrível consegui sumir dentro do tubo e fazer 3 manobras ao sair dele.

Sensação era indescritível e eu queria gritar até minha voz acabar.

Assim que terminei minha última manobra, pulei na aguá junto da minha prancha, mergulhando no oceano. Ao sair, faltavam alguns segundos para a bateria acabar, eu sabia que havia conseguido uma boa nota, e não demorou muito para sair a confirmação: com uma nota final de 16.80 contra a dela, de 13.00, eu estava oficialmente dentro da semifinal.

𝒐𝒄𝒆𝒂𝒏𝒐, gabriel medina.Onde histórias criam vida. Descubra agora