Diferente, mas ainda o mesmo.

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NAYAMA
SUASSUNA


A energia das olímpiadas era algo surreal! Chegamos em voos diferentes, mas quando nos encontramos na pequena vila olímpica do Tahiti, todos dividiam a mesma energia contagiante e forte.

Tati e eu chegamos antes do restante do time já que viemos direto do Hawai. Chumbinho, Filipe, Medina e Tainá viriam do Brasil, o que dava mais de um dia inteiro de viagem (com conexões, claro), por isso acabamos chegando no começo do dia, bem cedinho, e eles pela tarde.

Quando eu tinha em torno de 6 anos, me mudei para o Hawai com meu pai que também gostava muito de surfar e praticamente vivia disso. Quando ele e minha mãe se separaram, minha guarda ficou com ele e a do meu irmão mais velho com minha mãe. Mantemos contato até hoje, eu os visitava em Maresias quando dava, mas sempre fui mais próxima do meu pai. Minha mãe nunca apoiou muito minhas loucuras, apesar de sempre torcer por mim e pelo que me deixava feliz, já meu pai me incentivava mais, e, bom, vemos que deu certo.

Foi assim que eu conheci a Tati. Na verdade, como eu visitava muito Floripa e ela também, um dia, por coincidência, nossos pais pegaram onda junto lá e viraram bons amigos, e nós também.

Nos mudamos para o Hawai na mesma época e nunca mais nos desgrudamos. Até quando fui morar na Austrália, ela também estava lá comigo. Tínhamos absolutamente tudo em comum e ela era minha melhor companhia, definitivamente não sei viver sem minha Barbie surfista em tamanho real.

Depois de tomar café e conversar com algumas pessoas da comissão técnica das olímpiadas, fomos dar uma volta em Teahupo'o e ver como estava o mar.

— Então... como você tá se sentindo em saber que vai passar quase duas semanas morando com o Gabriel — perguntou enquanto andávamos pelo vilarejo que era próximo ao mar.

— Não sei... — disse encarando meus pés. — Tipo, eu não sei o que esperar dele, mas acho que ele nem se lembra direito de mim também. — dei de ombros.

— Ah, qual é?! — ela reclamou me encarado. — Se você, que é a pessoa mais anti-romântica que eu conheço, a pessoa mais desapegada que existe, lembra dele até hoje, porquê ele não lembraria de você?

— As pessoas levam as coisas de forma diferente, senhora Tatiana — a encarei de volta enquanto andávamos sem pressa. Era já de tarde, o sol não estava forte apesar do clima estar mais quente. — Sei lá, realmente prefiro não achar ou esperar nada.

— Mas a carne é fraca, né? Será que não vai ter uma recaidinha? — ela perguntou sugestiva. Eu ri encarando o horizonte.

— Sem chance, Branca de Neve — brinquei e ela riu. — Não tem recaída,  nós éramos crianças.

— Hm, sei — ela disse semicerrando os olhos e eu ri.

Assim que nos aproximamos da nossa casa na vila, que era mais perto de onde iríamos competir e longe dos demais competidores dos outros países que estavam hospedados em um cruzeifo, vimos um carro parado na frente e sabíamos que eram os demais.

— VAMO BRASIL! — gritou João ao nos ver, de longe. Era o único que estava do lado de fora da casa. 

— OI CHUMBINHO — comemorei correndo para abraçá-lo. 

— Eai, Pocahontas — retribuiu meu abraço. — Eai Tati. — cumprimentou a loira logo atrás de mim.

Ajudamos João a pegar suas coisas, aparentemente ele era o último a recolher suas malas e pranchas enquanto todos os outros já tinham o feito.

Chegamos dentro da casa, deixando as coisas de joão em uma das salas e indo encontrar o restante que estava na área ao fundo.

Meu coração estava acelerado, eu estava muito nervosa para ver o Medina a minha frente, me dava vontade de virar as costas e sair correndo. Eu estava de boa até então, mas agora estava um poço de ansiedade.

Quando atravessamos a casa, chegando nos fundos dela, onde os demais estavam, meu peito apertou e quase me faltou ar. Obviamente ele havia mudado muito, nada que eu não tivesse visto de longe em algumas competições ou na internet e na TV. Muitos mais alto, com cavanhaque e bigode, cheio de tatuagem e um bronze surreal. Seu cabelo estava mais longo do que ele mantinha antes, e, claro, seu fisico estava diferente, bem mais trabalhado.

Mas seu sorriso ainda era o mesmo. Sua covinha na bochecha esquerda, os olhos castanhos e pequenos, o cabelo ondulado e escuro. Ele ainda era o mesmo Gabriel.

— Tati — ele disse abrindo um sorriso largo e indo cumprimentar a loira ao meu lado. Enquanto isso cumprimentei Tainá e Filipe que estavam logo atrás de Gabriel.

— Abre o olho, Fê — brinquei com o mais velho que riu alto e me abraçou logo em seguida. Também abracei Tainá que elogiou meu cabelo e eu sorri manhosa. Também éramos muito próximas, afinal, Floripa era uma dos meus lugares favoritos no mundo todo e eu sempre estava por lá, consequentemente nos encontrávamos já que ela é de lá também e eu adorava pegar ondas com ela, além de, claro, nos vermos nas competições.

Em seguida, a mais nova foi cumprimentar Tati e eu me virei para Medina. Ele estava parado atrás de mim, e, quando seus olhos encontraram os meus, eu senti minha boca secar e minhas pernas bambearem. Ele abriu os braços para um abraço e eu fui até ele, calmamente, retribuindo o contato. Ele tinha um sorriso envergonhado de canto, tímido do jeito que sempre foi.

— Oi — ele disse baixinho em meu ouvido.

— Oi... — disse no mesmo tom. Me afastei após alguns segundos. O clima tinha ficado estranho, os dois calados mas ainda se encarando.

Dei um sorriso sem graça e sem mostrar os dentes e ele fez o mesmo, se virando para falar algo com Chianca. Eu olhei para Tati que me olhava com os olhos arregalados e um sorriso no rosto, e apenas arregalei os olhos também. Duas tontas.

Não soube dizer o que senti, mas havia sido estranho. Mas decidi que não iria ficar pensando nisso o tempo todo, então afastei os pensamentos e fui pro lado de dentro com as meninas para escolhermos melhor nossos quartos.

Amanhã aconteceria a cerimônia de abertura, e, no dia seguinte, a primeira fase das baterias e eu estava muito ansiosa pra isso tudo acontecer o quanto antes possível e eu poder correr d'alí pra longe do Gabriel.

𝒐𝒄𝒆𝒂𝒏𝒐, gabriel medina.Onde histórias criam vida. Descubra agora