O céu estrelado trazia lembranças calorosas, um sentimento que havia esquecido a décadas. Jamais poderia ver tamanho brilho celeste da cidade, e era reconfortante sentar perto de uma fogueira e sentir seu calor aquecendo meu corpo como um abraço afetuoso.
Algumas horas passaram despercebidas enquanto me mantinha imerso naquele momento de serenidade. Logo notei passos se aproximando, quando olhei, era Débora. Com o cabelo amarrado por um pequeno coque, deixando apenas algumas mechas repousarem sobre seu rosto. Estava usando algumas roupas largas, mas que pareciam confortáveis.
- O que faz sozinho? - perguntou ela, sentando ao meu lado.
- Apenas, apreciando o momento. Galen saiu para resolver certas coisas, e decidi fazer uma fogueira e admirar o céu.
- Um ótimo passatempo - disse ela, com um sorriso - Marta acabou me expulsando do chalé para passar um tempo com o Bryan. Acabei vendo você por aqui e decidi me aproximar.
- Bem, fique a vontade. Apesar que não tenho um mísero assunto para abordar.
Débora soltou uma pequena risada que acabou me contagiando. Após isso, ficamos horas falando sobre assuntos diversos, desde sobre a época de escola, até o acabamos fazendo após a formatura.
A conversa com Débora fluiu naturalmente. Ela me contou sobre suas dificuldades em se adaptar à vida adulta, suas ambições e seus medos. A timidez dela, que sempre fora marcante, parecia se dissipar à medida que nos envolvíamos em conversas profundas.
- Você sempre foi a pessoa mais engraçada da turma - eu disse, relembrando os momentos em que suas piadas aliviaram a tensão durante o período de provas.
- E você sempre foi o mais reservado - respondeu ela com um sorriso - Mas eu sabia que por trás daquele silêncio havia alguém cheio de histórias.
Enquanto conversávamos, outros começaram a se juntar à fogueira. Tommy apareceu primeiro, seguido de Marta e Bryan, que estavam rindo de uma piada interna. Tommy, sempre responsável, trouxe marshmallows para assar.
- Vocês dois parecem estar se divertindo - disse Marta, sentando-se ao lado de Débora.
- Sim, estávamos apenas relembrando os velhos tempos - respondeu Débora.
Bryan, com seu jeito confiante, pegou um graveto e começou a assar um marshmallow.
- Sabe, William, você deveria relaxar mais. Aproveitar o momento.
- Estou tentando - respondi, forçando um sorriso.
Apesar que em minha mente, gostaria apenas de apreciar as estrelas e relembrar os velhos tempos.
À medida que a noite avançava, a conversa mudou para histórias assustadoras e lendas urbanas, típicas de acampamento. Bryan, sempre o contador de histórias, começou a narrar uma lenda local sobre um assassino que usava uma máscara de coelho.
- Dizem que ele aparece quando menos se espera - disse Bryan, a chama da fogueira refletindo em seus olhos - E que ele some tão misteriosamente.
Senti um calafrio percorrer minha espinha. A menção da máscara trouxe memórias indesejadas. Tentei disfarçar meu desconforto, mas Marta percebeu.
- Você está bem, William? - perguntou ela com preocupação genuína na voz.
- Sim, estou bem - respondi rapidamente - Só cansado, acho.
- Talvez seja melhor descansamos um pouco - sugeriu Tommy - Amanhã será um dia cheio.
- Tem razão, a viagem foi longa, precisamos recompor as energias - acrescentei.
Todos concordaram e, um a um, foram se retirando para seus chalés. Fiquei sozinho por um momento, observando as brasas da fogueira se apagarem lentamente. O silêncio da noite era perturbador, e a sombra dos eventos parecia mais presente do que nunca.
Enquanto caminhava de volta ao meu chalé, tentei afastar os pensamentos sombrios. Mas a sensação de que algo estava prestes a acontecer não me abandonou. Mal sabia eu que aquele fim de semana traria à tona segredos há muito enterrados reabriria feridas que nunca cicatrizaram.
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O Coelho e o Machado
Mystery / ThrillerEm 1993, um acampamento juvenil foi palco de uma série de assassinados brutais que ceifaram a vida dos pais de Willam Cray. Atormentado por esses eventos, William mergulhou em um estado mental caótico, forçado a depender de medicamentoso para contro...