O Coelho e o Machado

Capítulo 5

1

Acordei com o som de vozes do lado de fora do chalé. Levantei-me e fui até a janela, observando o acampamento acordar lentamente. Decidi aproveitar a manhã para explorar um pouco e tentar clarear a mente.

Enquanto caminhava pelo terreno, a brisa fresca da manhã ajudava a dissipar à sensação de opressão que me acompanhava desde o pesadelo. O lago de águas cristalinas refletia o céu azul, criando uma visão serena e pacífica. Mas minha mente estava longe de estar em paz.

Passei pela cabana central onde a caixa telefônica quebrada estava localizada. Meu objetivo principal era conseguir um pouco de café para espairecer um pouco, entretanto algo chamou minha atenção. Um brilho metálico entre as ervas daninhas. Abaixei-me e encontrei uma chave inglesa, observei com cuidado e curiosidade e acabei notando algumas rachaduras na superfície.

Segurei a ferramenta, observando mais atentamente as marcas. Não era um dano causado pelo tempo ou uso comum. Alguém havia usado essa chave inglesa para quebrar a caixa. As rachaduras indicavam que foi aplicada força excessiva. Levantei, e com a chave na mão, e me perguntei quem poderia ter feito isso e por quê.

2

Mais tarde, enquanto caminhava em direção ao lago, encontrou Marta sentada em uma pedra grande, observando a água. Sentei ao seu lado, e por alguns minutos, apreciamos o silêncio.

- Como você está? - perguntei, quebrando o silêncio.

Ela suspirou, olhando para mim com um sorriso cansado.

- Estou bem, eu acho. E você?

- Tenho lidado com algumas coisas - respondi evasivamente, não querendo entrar em detalhes sobre meus pesadelos e descobertas - E você? Parece que passou por momentos difíceis.

Marta balançou a cabeça levemente.

- Odeio ser tão expressiva assim. Mas, é verdade. Ando tendo dificuldades com o Bryan, ele é uma boa pessoa, mas é difícil lidar com todo o ego dele. Às vezes, sinto que não tenho espaço para respirar.

- Você já pensou em terminar? - perguntei, tentando ser o mais delicado possível.

- Sim - ela admitiu, sua voz cheia de hesitação - Mas não é fácil. Ele pode ser muito intenso, e não quero machucá-lo. Mas ao mesmo tempo, não sei quanto tempo mais posso aguentar. Já estou bastante cansada.

- Vocês já tentaram conversar sobre tudo isso?

- Já - disse ela, abraçando os joelhos - Tivemos algumas brigas, e depois disso ele tentou mudar e realmente conseguiu melhorar. Mas tem momentos que tudo muda da água para o vinho.

- Não sou o melhor conselheiro, mas caso isso esteja lhe deixando sufocada, creio que já seja a hora de terminar e finalmente respirar. Mesmo que se apegue aos momentos bons, precisa encarar os ruins e jogar na balança qual o que pesa mais.

- Uau - disse ela, soltando uma pequena risada - Não imaginei receber um conselho tão bem construído assim, mas, agradeço. Realmente preciso pensar sobre tudo isso. Obrigada por me ouvir, Will - acrescentou ela, com um olhar meigo.

- Não há de quê - respondi, gesticulando para ela se levantar e receber um abraço.

Nos abraçamos e continuávamos nossa conversa, minha mente estava trabalhando para juntar as peças do quebra-cabeça. A chave inglesa quebrada, os pesadelos, a máscara. Tudo parecia conectado de alguma forma, mas as conexões ainda estavam nebulosas.

Lembrei-me de ver Bryan perto da cabeça central na noite anterior, logo após a tempestade. Poderia ser apenas uma coincidência, mas a provocação com a máscara e agora a chave inglesa me deixava desconfiado. Será que Bryan estava tentando assustar todos para se divertir? Ou havia algo mais sombrio por trás de suas ações?

3

Com a chave em mãos, decidi que precisava falar com Tommy. Se alguém estava tentando sabotar o acampamento, todos precisavam saber. E se Bryan estava envolvido, Marta merecia saber a verdade.

Enquanto caminhava de volta para o chalé, meu coração estava pesado com a incerteza. Talvez tenha sido apenas uma coincidência, mas, sentia que estava perto de descobrir algo importante. Ou talvez, quando a verdade fosse revelada, poderia ser mais terrível do que eu imaginava.