Capítulo 7

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1

O ar pesado pairava sobre todos nós, uma tensão palpável. Desde a morte do funcionário, todos estavam em alerta, observando cada movimento dos outros. Qualquer coisa poderia ser uma suspeita levantada sobre você. Eu não era exceção. Meus olhos fixavam-se em meus amigos, tentando encontrar alguma pista de quem poderia ser o assassino.

Bryan continuava a agir de forma estranha. Seu comportamento arrogante e nervoso não ajudava a acalmar as suspeitas. Marta, por sua vez, parecia constantemente à beira de um colapso, sua expressão assustada e mãos trêmulas sugerindo que ela sabia mais do que estava dizendo.

Débora estava ansiosa e com medo, Galen tinha que ficar quase que constantemente ao seu lado para acalmá-la. Segundo ele, isso reviveu um trauma severo nela que havia sido esquecida a anos.

Havíamos deixado o corpo em uma velha cabana para o cheiro não incomoda e também não chamar a atenção de animais carniceiros. Colocamos uma lona branca sobre a vítima, e a chave do cabana ficou na responsabilidade de Tommy.

Noites em claro ficaram mais frequentes por causa do medo, uma ansiedade crescente não permitia eu fechar os olhos que já estavam pesados. Foi durante uma dessas noites insones que me dei conta de algo preocupante. Sentei-me à mesa circular no chalé, meus olhos fixos nos frascos de remédios espalhados. Comecei a contar as pílulas restantes, e um frio percorreu minha espinha quando percebi a verdade: meus remédios estavam acabando.

Olhei para o calendário na parede, percebendo que estava há dias sem tomar as doses corretamente. A minha investigação sobre o sabotador havia tomado minha atenção completamente, e a morte do funcionário agora era um complemento para minha distração.

Na manhã seguinte, estava sentado no chão do chalé, comecei a sentir os primeiros sinais da falta dos remédios corretos. Minha ansiedade estava mais evidente, sem contar que meus flashbacks mais frequentes. Uma tortura que ia se estendendo a cada instante.

- Preciso me concentrar - disse a mim mesmo, tentando manter a calma - Preciso descobrir quem está fazendo isso.

Mas mesmo enquanto tentava focar, uma parte de mim estava cedendo. Sentia como se houvesse uma presença dentro de mim, que revirava meu interior querendo sair. Fechei os olhos, tentando afastar tamanha presença, mas estava mais próxima, sufocante.

2

Durante o dia, tentei interagir normalmente com os outros, mas era difícil esconder o turbilhão interno.

Enquanto caminhava perto do lago, Marta se aproximou, tentando puxar conversa.

- William, você está bem? Parece distante e péssimo.

Sorri, tentando tranquilizá-la.

- Estou apenas preocupado com tudo isso. E você? Parece que está à beira de um colapso.

- Eu… - começou ela, com hesitação na voz - Tive uma conversa com Bryan, sobre nós, e terminamos. Mas ele não aceitou isso da melhor forma e ficou uma fera.

- Por isso ficou tão assustada?

- Sim… - começou ela, cruzando os braços - É que, tenho a suspeita que foi ele que matou o funcionário em um ataque de raiva. Por isso, estou assustada, com medo dele fazer alguma coisa quando tiver a chance - disse ela, apertando levemente os braços, pressionando as unhas contra sua própria carne.

- Ei, eu vou ficar ao seu lado, caso eu não possa. Esteja ao lado de Tommy, ele precisa de uma companhia para manter a cabeça no lugar nessa confusão toda - disse, colocando as mãos sobre seus ombros.

- Obrigada, você parece bastante calmo com tudo isso, bem, temos um corpo dentro de uma cabana e um possível assassino - disse ela, aumentando a voz a cada frase.

- Precisamos manter a calma, para achar uma solução rápida. E principalmente, encontrar o responsável por tudo.

Ela sorriu, mesmo eu sabendo que no fundo seu pânico estava a um passo de a deixar em um estado preocupante. 

Enquanto a noite se aproximava, o conflito interno intensificava-se. No chalé, sentado na cama, senti a presença tomando conta novamente. Tudo estava voltando.

- Não, não posso deixar isso acontecer - sussurrei, segurando a cabeça com as mãos. Mas era uma luta contra uma maré irresistível.

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