O Coelho e o Machado

Capítulo 9

1

Meu corpo estava tenso, acordei suando frio, minha mente um turbilhão de imagens confusas e fragmentadas. Cenas abstratas peregrinavam diante de meus olhos, dançantes, como flashes de um pesadelo que não conseguia lembrar completamente. Eram similares às lembranças do passado, mas nada claro o suficiente para entender.

Sentei-me na cama, tentando organizar meus pensamentos e olhei ao redor do chalé. Os primeiros raios de sol começavam a penetrar pelas janelas, mas a luz não trazia conforto. Cada som, cada sombra parecia mais ameaçadora do que nunca.

Me arrumei para sair, e notei que meus sapatos estavam mais surrados. Mas não lembrava de ter caminhado tanto com eles, talvez deva ter sido durante minha exploração pelo acampamento dias atrás. Minhas mãos estavam mais ásperas, e calos eram visíveis na palma da mão. Talvez eu tenha usado demais o machado nesses últimos dias para retirar o estresse acumulado. Meus remédios fazem falta para controlar o humor.

Fortes talvez, mas minha mente era um verdadeiro chiqueiro. Uma bagunça que não estava conseguindo organizar para ter certeza de meus últimos afazeres.

Sair para fora e notei uma movimentação na cabana central. Quando cheguei todos estavam reunidos no refeitório, Tommy com uma expressão tensa enquanto conversava com Galen e Marta.

- Não podemos continuar assim - disse Tommy, sua voz firme - Temos que fazer algo antes que mais alguém morra. Uma armadilha, ou nos preparar para uma autodefesa.

Bryan, sentado no canto, parecia mais perturbado do que nunca. Seus olhos estavam vidrados, e ele murmurava algo inaudível.

- Você está insinuando que sou o assassino? - ele explodiu, levantando-se abruptamente.

- Você está agindo estranho desde a primeira morte - respondeu Tommy, seus olhos cheios de desconfiança - Não podemos confiar em você. Se for preciso, vou prender você em algum lugar até encontrar uma maneira de sair daqui.

Bryan deu um passo à frente, a raiva evidente em seu rosto.

- Me prenda então, pelo menos assim não vou morrer. Prefiro estar sozinho do que cercado de possíveis assassinos - disse ele, andando entre as mesas com passos pesados.

- E você - disse ele, apontando para Marta - Tenho certeza que está fazendo tudo isso para me incriminar, se eu for matar alguém, pode ter certeza que é você.

Marta claramente aterrorizada, se afastou de Bryan quando ele tentou se aproximar.

- Fique longe de mim! - ela gritou, correndo para Galen.

Galen abraçou Marta, tentando acalmá-la.

- Estamos todos com medo, não queríamos ter que desconfiar de você Bryan. Mas depois disso, não podemos manter você perto de ninguém.

Marta estava tremendo, lágrimas escorrendo pelo rosto.

- Eu só quero sair daqui. Não aguento mais isso.

2

Com todas essas emoções à flor da pele, a tensão aumentou ao ponto de qualquer movimento poderia desencadear em desastre. Todos estavam no limite. Eu tentava focar em encontrar uma solução, mas minha mente continuou a me trair com lapsos de memórias.

Caminhei novamente para meu chalé e acabei pegando Bryan saindo dele completamente assustado. Corri, para tentar pegá-lo e questioná-lo sobre o que estava fazendo.

- Bryan, o que estava fazendo? - gritei, para tentar fazê-lo notar de uma vez minha presença.

Mas ele apenas me olhou com espanto e correu rumo ao lago. Tentei encurtar a distância, mas sentia meu corpo pesado pela falta de sono adequada. E todos os meus músculos estavam cansados.

Entrei no chalé, e tudo estava revirado. Minhas roupas jogadas pelo chão e minha mochila vazia. Meus remédios, alguns esmagados, outros revirados e misturados. Sentia meu coração bater forte a cada detalhe que observava, meus punhos cerrados ao ponto das minhas unhas machucarem levemente a palma das minhas mãos. Entretanto, tudo silenciou no momento em que notei a presença de algo que me assombrou por anos. Uma máscara, a fatídica máscara de coelho, com manchas vermelhas que percorriam por quase toda ela.