Capítulo 6

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Na manhã seguinte, com a alvorada aquecendo o acampamento. Logo cedo, procurei Tommy para falar sobre a chave inglesa. Encontrei-o conversando com alguns funcionários do acampamento sobre o ocorrido.

- Tommy, tem um minuto? - perguntei, mostrando a chave inglesa - Encontrei isso perto da caixa telefônica. Está rachada, como se alguém a tivesse usado para quebrar a caixa.

- Sim, tenho - disse ele, gesticulando para o funcionário sair.

Tommy pegou a chave, examinando cuidadosamente.

- Isso muda as coisas - disse ele, pensativo - Se alguém realmente sabotou a caixa, precisamos descobrir quem foi. Tem algo em mente?

- Tenho uma suspeita - continuei, hesitando - Bryan estava agindo estranho ultimamente, e ele fez uma piada de mau gosto com uma máscara de coelho ontem.

- Vou falar com ele, mas precisamos ser cautelosos. Não podemos acusar ninguém sem provas - disse Tommy, franzindo a testa - Obrigado por ter me comunicado.

2

Depois da conversa com Tommy, decidi explorar mais o acampamento. Acabei encontrando uma área onde pedaços de madeira eram cortados para fazer lenha. Notei um tronco de madeira, um pouco envelhecido, mas em seu topo tinha um machado. Havia algo perturbador na presença dele, mas ao mesmo tempo, eu sentia uma estranha familiaridade com a ferramenta.

Peguei o machado, testando seu peso nas mãos. Comecei a cortar algumas todas de madeira, surpreendendo-me com a facilidade com que manejava a ferramenta. Havia uma espécie de liberação na repetição do movimento, cada golpe uma forma de extravasar a tensão acumulada. Sentia até mesmo minha mente espairecer a cada golpe bem direcionado.

Enquanto estava imerso na tarefa, ouvi passos se aproximando. Era Galen, que observava minha prática com curiosidade.

- Você está ficando bom nisso - disse ele, sorrindo - Nesses últimos tempos você acabou ficando mais forte, mesmo não sendo muito atlético.

- Isso é terapêutico - respondi, sorrindo de volta - Ajuda a limpar a mente. Me aconselharam a treinar o físico uma vez ou outra, ajudou bastante por um tempo a manter minha cabeça no lugar.

- Bem, não exagere - alertou Galen - Ainda precisamos de você inteiro.

- Pode deixar - respondi, um pouco eufórico.

Depois que Galen saiu, continuei cortando madeira, mas os flashbacks começaram a surgir novamente. Sentir minha euforia desaparecer em um piscar de olhos. Meu coração acelerou, e minha respiração ficou ofegante. Liguei o machado, tentando me acalmar, mas a ansiedade aumentava.

Com as mãos trêmulas, procurei meus medicamentos pelos meus bolsos. Encontrei no bolso da jaqueta que havia deixado em cima de uma pilha de toras de madeira. Acabei exagerando na dose. Sentir a amargura dos comprimidos na boca, esperando que a sensação de sufocamento passasse. Lentamente, a calma começou a retornar, mas o medo persistia, um lembrete constante dos horrores do passado.

Fiz uma rápida checagem na cartela de pílulas. Sobraram apenas duas de seis, sabia que isso iria me fazer um estrago mais para frente, entretanto me apeguei a sensação de alívio e quis me livrar de preocupação por um momento.

Mas, a paz temporária foi quebrada por um grito agudo vindo do outro lado do acampamento. Corri em direção ao som, encontrando uma cena horrível. Um dos funcionários do acampamento estava morto, seu corpo brutalmente mutilado. Partes de seu rosto em carne viva, totalmente esmagado por algo,  seus braços totalmente cortados em uma falha tentativa de defesa. O sangue manchava o chão e as paredes próximas.

Todos estavam horrorizados. Tentaram chamar a polícia, mas o sinal do telefone estava fraco, e a caixa telefônica quebrada impedia qualquer comunicação.

A atmosfera de medo e suspeita tomou conta do acampamento. Olhei para os rostos de meus amigos, tentando discernir quem poderia ser o responsável. Bryan estava visivelmente nervoso, sua habitual arrogância substituída por uma tensão palpável. Marta estava seriamente assustada, suas mãos tremendo enquanto tentava se acalmar.

Débora não conseguia olhar a cena e Galen foi ajudá-la. Sentia que ela poderia desmaiar a qualquer instante.

- Temos que ficar juntos e descobrir o que está acontecendo - disse Tommy, tentando manter a calma - Não podemos nos deixar dominar pelo medo.

Dizer era fácil. Mas o medo já havia se instalado, e a desconfiança começava a corroer a unidade do grupo. Eu sabia que precisava estar alerta, mas a linha entre a realidade e meus próprios demônios internos estava se tornando mais tênue.

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