Capítulo 1 | I'm trying

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Metade do tempo eu mal consigo sobreviver
Half of the time I'm just barely surviving
Mas estou tentando, estou tentando
But I'm trying, I'm trying
Tentando ser tudo para todos
Tryna be everything to everybody
Sinto tanto que quase não sinto nada
I feel so much that I almost feel nothing

I'm trying - Alexander Steward

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Sempre odiei hospitais. É difícil gostar deles quando você cresce cercado pelas muralhas de concreto frio. Bip. Bip. Bip. Biiiii. O som costuma em minha mente como algo intrínseco a ela. Ainda está lá, posso escutá-lo distante, quase como uma miragem. Miragem... esse termo se aplica ao conceito de uma ilusão auditiva? Eu não sei dizer. Talvez o acidente tenha afetado meu cérebro mais do que aparenta. Espero que não, ainda tenho muitos anos pela frente. Muitos anos sem você.

É realmente uma droga. Não posso sequer amaldiçoar ter uma vida longa, você ficaria irritado se eu o fizesse. Diria que sou sortudo pelas vezes que ainda poderei ver as flores de cerejeira caírem. Você as amava. Me lembro que havia uma delas na frente do seu quarto. O vento costumava soprar os retalhos rosa e eles decoravam o chão sem vida. Uma por uma você as recolhia, não para si, mas para que voassem como borboletas para alguém que pudesse se regozijar da esperança que fora negada a você.

Nos conhecemos assim, não foi?

Ansioso, eu havia passado horas abaixo de uma cerejeira, mas não importa o quanto eu esperasse e quantas centenas de pétalas caíssem, nenhuma me alcançava. Um feito incrível contra todas as probabilidades. Mas, então, quando eu pensei que não havia mais chance para mim e me levantei, você soltou um punhado delas pela janela. Foi apenas uma que me alcançou; ela pousou na ponta de meu nariz, e eu espirrei. Não sou alérgico a flores, mas havia ficado muito tempo a mercê do vento frio.

É estranho como você está em todo o lugar, ou talvez eu seja sentimental demais. De qualquer forma, não posso mudar isso: sentir sua falta, te amar, vê-lo desde que acordo pela manhã. Mesmo que eu esteja apenas caminhando para o trabalho, você está lá. Não me ajudei muito nesse sentido. Trabalhar no seu lugar favorito é doloroso. Chan acha que estou punindo a mim mesmo, sabe? Me punindo por sobreviver. Talvez seja, mas não posso dizer isso. No fim, não é tão ruim. Eu gosto de lá. As pessoas são gentis, mas, às vezes, embaralho os pedidos e os clientes ficam irritados.

Ultimamente, meu cérebro se parece com uma televisão velha, em preto e branco, como se o mundo estivesse parado. É estranho. Umas batidas fracas o fazem funcionar, mas ainda é tão difícil pensar ou reagir. Preciso de tempo para formular ações, por isso, quando um garoto passa de bicicleta pela calçada enquanto grita para que eu saia da frente, sou lançado no chão. O garoto me olha por segundos antes de continuar seu caminho.

Pisco várias vezes, mas quando entendo o que aconteceu, ele já está longe demais para que eu possa ficar com raiva. Levo minha mão até o cabelo, tirando-o da minha visão. O deixai crescer desde que você se foi. Gosto dele assim.

— Ei, você tá bem?

Estranho. As pessoas costumam não se importar com as outras. Elas passam sem sequer olhar ao redor, não imaginam a história por trás de cada rosto. Dizem palavras que podem ferir. É estranho que alguém pare para perguntar se você está bem, elas sempre param para julgar.

— Estou — as palavras fluem dos meus lábios com a facilidade de um mentiroso.

Posso ouvir a voz da minha mãe me chamando, preocupada. Era assim quando criança. Cair era assustador, mais para ela do que para mim.

Miss You (HyunIn + Minsung)Onde histórias criam vida. Descubra agora