Cachos Encaracolados

Cortes

**Capítulo 8: Cortes**

A manhã na escola começou como qualquer outra, mas algo parecia diferente no ar. Alice sentia um nó na garganta enquanto caminhava para o colégio. Ao avistar Felipe no pátio, seu coração disparou. Ele estava com um casaco grande que cobria boa parte do corpo, mas algo na maneira como ele andava a fez sentir uma pontada de preocupação.

Assim que Felipe se aproximou, Alice notou os cortes visíveis em seus braços, cobertos apenas parcialmente pelo tecido do casaco. O coração dela afundou. "Felipe, o que aconteceu?" ela perguntou, sua voz tremendo de preocupação.

"Ah, nada, só... só um acidente," Felipe disse, tentando desviar o olhar, mas Alice não se deixou enganar.

"Não é só um acidente! Você precisa de ajuda," ela insistiu, a voz começando a falhar. O desespero tomou conta dela quando viu o sangue seco em sua pele. Sem pensar duas vezes, ela pegou a mão de Felipe e o levou em direção ao banheiro.

"Vem, vamos limpar isso. Não se preocupa com nada. Eu só quero que você fique bem," Alice disse, enquanto os dois entravam no banheiro masculino, ignorando as regras. O importante era cuidar dele.

Assim que entraram, Alice pegou toalhas de papel e um pouco de água para limpar os cortes. "Isso vai arder um pouco, mas você precisa deixar cicatrizar," ela falou, tentando manter a voz calma, mesmo com as lágrimas escorrendo por seu rosto.

"Eu não quero que você se preocupe comigo," Felipe murmurou, mas Alice não estava ouvindo.

"Não importa! Você é meu amigo, e eu não posso simplesmente ignorar isso," Alice respondeu, pressionando delicadamente a toalha sobre os cortes e vendo como a dor refletia em seu rosto.

Enquanto tentava cuidar dele, a porta do banheiro se abriu, e Flora entrou. Assim que a viu, Alice ficou paralisada. Flora olhou para Felipe, depois para Alice, e um sorriso malicioso se formou em seus lábios.

"O que temos aqui? A queridinha do grêmio com um psicopata?" Flora disparou, rindo.

A expressão de desprezo dela era como uma faca que cortava ainda mais o coração de Alice. "Você não sabe o que está dizendo, Flora," Alice disse, tentando ignorar os olhares julgadores.

Flora não parou. "Ah, mas todos vão saber. Olhem só! A boa moça está se envolvendo com o problemático. Isso vai ser a fofoca do colégio!" ela exclamou, saindo do banheiro e chamando as amigas.

Alice sentiu o mundo desmoronar ao seu redor. As palavras de Flora ecoavam em sua mente, e a humilhação a atingiu com força. Ela não estava preocupada com a fofoca, mas sim com Felipe. Ele estava ali, ferido e vulnerável, e agora sua dor seria exposta a todos.

"Vamos sair daqui," Alice disse, puxando Felipe, mas ele estava paralisado, os olhos perdidos em pensamentos.

"Eu não posso deixar que você sofra por minha causa," Felipe disse, a voz embargada.

"Mas eu não me importo com o que dizem! Você é mais importante do que a opinião deles," Alice respondeu, segurando firme em sua mão.

No entanto, enquanto saíam do banheiro, Alice pôde ouvir as risadinhas e os sussurros atrás deles. As fofocas sobre ela e Felipe já estavam se espalhando como fogo em palha seca.

"Você não pode deixar que isso te afete," Alice disse, mas no fundo, seu próprio coração estava despedaçado com o que Flora havia dito.

Felipe parecia desanimado. "Talvez seja melhor eu me afastar," ele murmureou, a dor e a vergonha em sua voz.

"Não! Não faça isso. Precisamos nos apoiar um ao outro, e eu não vou deixar você sozinho nessa. Vamos enfrentar isso juntos," Alice insistiu, decidida a não deixar Felipe sucumbir ao que as pessoas diziam.

Mas enquanto caminhavam pelo corredor, Alice sentia que a batalha estava apenas começando. Ela tinha que lutar não apenas pela amizade de Felipe, mas também contra os demônios que ele carregava — e os que estavam prontos para atacá-los a todo momento.