A peça Anual

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**Capítulo 15: A peça anual**

O cheiro de tinta fresca e madeira polida envolvia o ar do teatro da escola, onde as luzes ainda brilhavam em um tom suave, criando uma atmosfera mágica. A peça anual estava se aproximando, e a equipe de produção estava em polvorosa, preparando tudo para a grande apresentação. Para Alice, o teatro era um santuário; um lugar onde ela podia se perder nas histórias e personagens, longe da dor e das complicações da vida.

Mas esse ano seria diferente. Com Felipe ao seu lado, Alice esperava que a experiência fosse ainda mais especial. Após o tumulto da biblioteca e a revelação da dor que Felipe carregava, ela estava determinada a apoiá-lo em cada passo do caminho. Ele havia aceitado participar da peça, e isso a deixou aliviada. Seria uma oportunidade para ele se distrair e, quem sabe, encontrar uma nova forma de se expressar.

Nos ensaios, Felipe se destacou como um ator natural, capaz de encarnar seu personagem com intensidade. No entanto, havia momentos em que a escuridão em seus olhos voltava, especialmente quando ele se sentia pressionado ou exposto. Alice observava de perto, pronta para oferecer apoio a qualquer momento.

Enquanto os ensaios avançavam, o clima na escola começou a mudar. A popularidade de Kauê e Flora estava em alta, e rumores sobre a nova peça estavam se espalhando. Os alunos se dividiam entre os que torciam por Alice e Felipe e aqueles que ainda não acreditavam que um "psicopata" poderia ser parte do espetáculo. Isso era algo que pesava sobre os ombros de Felipe.

"Você está bem?" Alice perguntou a ele durante um intervalo, enquanto se sentavam em um canto tranquilo do teatro, longe do burburinho.

Felipe olhou para o palco vazio, sua expressão pensativa. "Às vezes, sinto que não pertenço aqui. Como se todos estivessem esperando que eu falhe."

"Não pode pensar assim," Alice respondeu, pegando sua mão. "Você é incrível. Lembre-se de que isso é uma nova chance. Vamos juntos, e se você cair, eu estarei ao seu lado."

Felipe sorriu, embora a preocupação ainda estivesse em seu olhar. "Obrigado, Alice. Você realmente acredita em mim?"

"Eu sempre acreditei," ela disse, e nesse momento, algo se iluminou entre eles, como se o mundo ao redor desaparecesse.

O dia da apresentação finalmente chegou. O teatro estava lotado, e a expectativa pulsava no ar. Alice estava nervosa, mas também animada. Ela se vestiu com seu traje e, enquanto olhava para o espelho, viu uma versão mais confiante de si mesma refletida.

Felipe estava nervoso nos bastidores, sua respiração rápida. "Alice, o que acontece se eu não conseguir? E se eu...?"

"Se você não conseguir, não se preocupe. Ninguém está aqui para te julgar," Alice interrompeu, colocando a mão em seu ombro. "Apenas se lembre de que estamos juntos. Vamos fazer isso."

Quando as luzes se apagaram e o primeiro ato começou, a adrenalina tomou conta de Felipe. Ele subiu ao palco, e a energia do público era eletrizante. Alice observava, seu coração batendo forte. Ela sabia que aquele era um momento decisivo para Felipe.

À medida que a peça avançava, Felipe encontrou sua voz. Cada linha que ele proferia parecia libertá-lo de algum peso, e a mágica do teatro o envolvia. O público estava cativado, e Alice sentiu uma onda de orgulho e amor por ele.

Mas, quando o ato final se aproximou, algo aconteceu. Uma lembrança perturbadora cruzou a mente de Felipe, trazendo à tona o peso de sua culpa. Durante um momento de hesitação, ele hesitou em seu diálogo, e os olhares de preocupação começaram a se espalhar pela plateia. O silêncio se fez presente.

Alice percebeu o desespero em seu olhar e não hesitou. Ela se levantou e, com a voz clara, gritou: "Você consegue, Felipe! Lembre-se de quem você é!"

As palavras dela ressoaram na sala, como um farol em meio à tempestade. Felipe olhou para ela e, com um profundo suspiro, recobrou a confiança. Ele retomou seu papel, a intensidade retornando ao seu olhar.

O ato final foi aplaudido de pé, e a emoção no ar era palpável. Alice sorriu, sentindo uma mistura de alívio e alegria. Eles haviam superado aquele desafio juntos, e a performance de Felipe era mais do que apenas um ato; era um testemunho de sua força e resiliência.

Depois do show, quando os aplausos se calaram e a emoção começou a se dissipar, Felipe encontrou Alice nos bastidores. Seus olhos estavam cheios de gratidão. "Eu não teria conseguido sem você," ele disse, a voz emocionada.

"Fomos nós, juntos," Alice respondeu, segurando sua mão. "Isso foi apenas o começo, Felipe. Estamos apenas começando a escrever nossa história."

Naquele momento, entre os restos do espetáculo e os sorrisos dos colegas, Alice percebeu que o teatro não era apenas um palco. Era um lugar onde as emoções podiam ser vividas intensamente, e onde as histórias de dor e superação se entrelaçavam, criando novos começos e amizades indestrutíveis.

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