Cheiro de paginas

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**Capítulo 8: cheiro de páginas**

O sino da escola tocou, anunciando o final do intervalo e a volta às aulas. Alice sentiu seu coração acelerar ao lembrar que tinha combinado de se encontrar com Felipe na biblioteca. O que deveria ser um momento de estudo em grupo se tornara uma oportunidade para aprofundar a amizade deles e, quem sabe, aliviar um pouco a tensão do dia.

Quando entrou na biblioteca, o cheiro de livros antigos e o silêncio acolhedor a envolveu. Era o lugar perfeito para se esconder do mundo exterior e das fofocas que circulavam pelo colégio. Ela avistou Felipe em uma mesa no fundo, sentado com um livro aberto, mas sem prestar atenção a ele.

"Ainda bem que você veio," Alice disse, sorrindo enquanto se aproximava. "Espero que não tenha lido tudo isso sozinho."

Felipe olhou para cima, seus olhos escuros se iluminando ao ver Alice. "Oi, cachinhos. Não, eu estava apenas tentando me distrair," ele respondeu, fechando o livro. "Na verdade, estava pensando em nós e no trabalho."

Alice sentou-se à frente dele, observando suas expressões. "Sobre o trabalho ou sobre o que aconteceu ontem?" ela perguntou, preocupada.

"Um pouco dos dois," Felipe admitiu, sua voz suave, mas com um tom de seriedade. "Estou tentando entender como lidar com tudo isso."

Alice respirou fundo, decidida a ser o apoio que Felipe precisava. "Se precisar desabafar, estou aqui. Você pode me contar tudo. Eu me preocupo com você."

Felipe hesitou, mas então começou a abrir-se. "Às vezes, parece que sou um peso para as pessoas. Como se eu estivesse sempre arrastando alguém para baixo comigo." Ele olhou para baixo, como se as palavras fossem pesadas.

"Você não é um peso, Felipe. Você é meu amigo, e eu quero que saiba que não estou aqui apenas para o bem do trabalho. Estou aqui por você," Alice disse, tentando transmitir toda a sinceridade que sentia.

"É só que... eu não quero que você se machuque por causa de mim. A escola, Flora e os outros... tudo isso é muito complicado," Felipe continuou, o tom de sua voz revelando a dor que sentia.

"Olha, a vida é complicada para todo mundo. Todo mundo tem suas batalhas. O que importa é que estamos juntos nisso. E eu não vou deixar que ninguém nos separe," Alice respondeu, sentindo a conexão entre eles crescer.

Felipe sorriu um pouco, mas a sombra da tristeza ainda estava em seus olhos. "Você é realmente especial, Alice. Não sei como você consegue ser tão forte. Às vezes, eu só quero desaparecer," ele confessou, a vulnerabilidade transparecendo em sua expressão.

"Você não precisa desaparecer. Você é uma pessoa incrível e tem muito a oferecer. E, mesmo que pareça difícil agora, vai passar. Estou aqui, e juntos podemos enfrentar qualquer coisa," Alice afirmou, segurando a mão dele sobre a mesa. A conexão deles parecia mais forte do que nunca.

Nesse momento, a porta da biblioteca se abriu, e alguns alunos entraram, mas Alice e Felipe estavam tão envolvidos em sua conversa que mal perceberam. Contudo, as risadinhas e os sussurros começaram a ser ouvidos. Alice olhou para o lado e reconheceu Flora e suas amigas, que estavam prestando atenção a tudo.

"Olha quem está se divertindo," Flora disse com um tom sarcástico. "A rainha do grêmio e seu amigo 'problemático'. O que vocês estão fazendo, discutindo como esconder os cortes?" O comentário fez o coração de Alice disparar, mas ela se esforçou para ignorar.

"Não se preocupe com elas," Felipe sussurrou, percebendo a tensão. "Elas não importam."

Alice se virou para Flora, decidida a se defender. "Sabe, Flora, você poderia tentar ser um pouco mais gentil. Não é porque você tem suas inseguranças que precisa atacar os outros," ela disse, sua voz firme.

Flora revirou os olhos. "Oh, por favor. Não venha se fazer de vítima. Todo mundo sabe que você só está aqui por pena dele."

Alice se sentiu queimar por dentro, mas sabia que precisava ser forte. "Não se trata de pena, mas de amizade. Algo que você claramente não entende," respondeu, olhando firme para Flora.

Com isso, Flora e suas amigas riram e se afastaram, mas Alice percebeu que as palavras de Flora tinham afetado Felipe. "Desculpe por isso," ela disse, sentindo a tristeza dele. "Eu não queria que você se sentisse mal."

"É só que eu... às vezes, sinto que não mereço pessoas boas ao meu redor," Felipe confessou, os olhos cheios de emoção.

"Você merece, sim. E eu estou aqui porque escolhi ser sua amiga. Vamos continuar nosso trabalho e deixar essas fofocas para trás," Alice disse, tentando mudar o clima.

Felipe sorriu um pouco, e Alice percebeu que, apesar das dificuldades, a amizade deles estava crescendo a cada dia. A biblioteca, apesar de ser um refúgio, não poderia proteger completamente de fofocas e julgamentos, mas ali dentro, eles tinham um espaço seguro, onde podiam ser verdadeiros um com o outro. E isso era tudo que importava.

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