O limite da dor

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**Capítulo 15: O Limite da Dor**

Após a saída abrupta de Felipe, o coração de Alice estava em tumulto. A biblioteca, que antes era um refúgio, agora parecia um lugar de desespero e confusão. Ela se sentou em uma mesa, a mente girando com as palavras de Guilherme e a raiva de Felipe. O que estava acontecendo com ele? E por que ele não conseguia se abrir?

Enquanto pensava, a porta da biblioteca se abriu novamente e, para seu desgosto, Felipe entrou. Seus olhos estavam escuros, cheios de uma intensidade que a deixou alerta. Ele se aproximou dela, e Alice sentiu um calafrio.

"Felipe," ela começou, tentando manter a calma. "Precisamos conversar."

"Sobre o que?" ele perguntou, a voz fria e distante. "Sobre a fofoca que você ouviu? Ou sobre o que eu não estou pronto para falar?"

"Acho que você precisa me contar o que está acontecendo! Estou aqui para você!" Alice exclamou, sentindo a frustração crescer.

Felipe deu um passo mais perto, seus olhos ardendo com uma mistura de dor e raiva. "Você não pode entender! Você não sabe nada sobre mim, sobre o que eu passei. E você nunca vai saber!" Sua voz estava alta, atraindo a atenção de alguns alunos que estavam nas mesas ao redor.

Alice sentiu um nó se formar em seu estômago. "Por que você está agindo assim? Eu só quero te ajudar! Eu sou sua amiga!"

"Amiga?" Felipe repetiu, rindo sarcasticamente. "Você não sabe o que é amizade! Amizade é o que me faz fraco!"

Alice deu um passo para trás, seu coração se partindo. "Felipe, isso não é verdade. Eu me preocupo com você."

"Então você deveria se preocupar em ficar longe de mim," ele gritou, a raiva explodindo. Em um instante de pura emoção desenfreada, Felipe levantou a mão e deu um soco no rosto de Alice.

O impacto a pegou de surpresa, e ela cambaleou para trás, levando as mãos ao rosto. A dor explodiu em seu maxilar, e lágrimas brotaram em seus olhos. O que havia acontecido? Por que Felipe agiu assim?

Alice olhou para ele, confusa e magoada. "Por que você fez isso?" A voz dela tremia, misturada com a dor física e emocional.

Felipe parecia se dar conta do que havia feito. Sua expressão mudou de raiva para horror, e a cor de seu rosto desapareceu. "Alice, eu... eu não queria... Desculpe!" Ele tentou se aproximar, mas ela se afastou, sua dor ainda fresca.

"Você não pode simplesmente me agredir e esperar que eu ignore!" Alice gritou, as lágrimas escorrendo por seu rosto. "Isso não é amizade, Felipe!"

O olhar de Felipe estava cheio de arrependimento, mas também de uma frustração reprimida. Ele se sentou à mesa, a cabeça baixa, enquanto a realidade do que havia feito começava a se instalar. "Eu... eu estou perdido, Alice. Eu não sei como lidar com tudo isso. Estou tão cansado de sentir dor e medo."

Aos poucos, a raiva de Alice começou a se transformar em empatia. Ela viu o menino por trás da máscara de raiva e resistência. "Felipe," ela disse, suavizando a voz, "eu entendo que você está sofrendo. Mas a violência não é a resposta. Eu quero te ajudar, mas você precisa se abrir para mim."

Felipe olhou para ela, a vulnerabilidade em seus olhos quase quebrando Alice por dentro. "Eu não consigo. Tenho medo do que você vai pensar de mim."

"Você pode me contar. Eu prometo que não vou te julgar. Estamos juntos nisso," Alice respondeu, sentindo a necessidade de curar o que havia sido quebrado.

Felipe respirou fundo, e a tensão entre eles parecia diminuir um pouco. "Eu tenho um irmão mais velho. Eu o amava muito. Mas um dia, sem querer, eu... eu o machuquei. Ele nunca voltou para casa. Desde então, carrego essa culpa. Eu me sinto jovem até hoje, como se eu estivesse preso naquele momento."

As lágrimas escorriam pelo rosto de Felipe, e Alice não hesitou em se aproximar. "Sinto muito, Felipe. Eu não sabia."

"Eu me sinto tão culpado," ele continuou, a voz cheia de dor. "Às vezes, eu não consigo lidar com isso, e as coisas ficam tão escuras. E você... você se importa tanto, e eu não quero que você sofra por minha causa."

Alice se agachou ao seu lado, segurando sua mão. "Você não está sozinho. Eu estou aqui. E nós vamos enfrentar isso juntos."

A conexão que tinham parecia mais forte do que antes, apesar da dor. Enquanto a tempestade de emoções os cercava, Alice soube que, mesmo em meio à confusão e à tristeza, havia esperança. Eles poderiam superar isso, se apenas conseguissem se abrir um para o outro.

O caminho seria difícil, mas a amizade deles era um farol em meio à escuridão, e Alice estava determinada a encontrar uma maneira de ajudar Felipe a se curar, assim como ela estava começando a se curar.

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