Epílogo

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Três anos

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Três anos.

Tempo suficiente pra coisas incríveis acontecerem.

Embora não seja, parece que foi ontem que todas aquelas coisas aconteceram na minha vida.

Já fazem mais de seis anos que estou com Yorichii.

Já fazem mais de três anos que adotamos o garotinho que criei como meu filho.

Já fazem mais de três anos que matei o último sangue do meu sangue.

Penso nele todas as vezes que vejo meu reflexo, vejo seu sangue salpicado em meu rosto.

Enxergo o fantasma dos seus olhos escarlates em meus pesadelos e me lembro de todos os séculos que passei em seu domínio.

Fiz o que prometi. Cumpri minha promessa de vingança.

Então, porque ainda sinto um vazio tão profundo no buraco que deveria guardar meu coração?

Todos os dias que acordo tento me lembrar que isso ficou no meu passado.

Pelas manhãs, olho pro lado vendo meu Parceiro se aconchegar em mim. Sinto nosso laço, seu coração batendo e seu amor por mim.

Isso aquece meu próprio coração. Aquece e conforta tanto como agora, nesse exato momento em que observo as duas pessoas mais importantes da minha vida.

Uma vida que já se prolonga a muito tempo.

O vento bate nos fios esbranquicados do meu cabelo, o cheiro adocicado das flores adentrando minhas narinas e se alojando na minha memória.

De longe, observo Yorichii e Kenji sem interferir na interação deles. Os dois brincam em meio ao campo verdejante de flores.

Ambos sorriem sem notar minha presença.

Sentada na grama, pincelo minha tela mais uma vez. Com delicadeza eternizo esse momento tanto física como mentalmente.

Kenji, após passar pelo processo de cura teve seu corpo um pouco afetado. Agora parece ainda ter seis anos, mesmo que tenha por volta de dez.

Kocho nos prometeu que com o tempo isso não vai mais ser tão perceptível, acalmando os ânimos dos pais super protetores que o garotinho ganhou.

O menino pula nas costas de Yorichii, o mais velho se deixa cair no chão com ele nas costas, percebendo a felicidade do menor em o ter "derrotado".

Kenji pode até não ser nosso filho biológico, já que eu sou incapaz de gerar uma vida e Yorichii também não tem mais esse dom.

Mas o amamos como se fosse um pedacinho da nossa própria alma.

Gosto de pensar que se não fosse pelo sacrifício dessa criança esperta demais pra sua idade, eu nunca teria conhecido Yorichii.

Nossos caminhos nunca iriam ter se cruzado. Eu não conheceria meu Parceiro, Kenji continuaria como um Lua Inferior sem que eu soubesse e Muzan permaneceria vivo.

Gosto de pensar que todas as coisa aconteceram exatamente como deveriam ter acontecido.

É reconfortante.

Os dois finalmente parecem me perceber aqui, parada, os observando. Ambos acenam em minha direção.

Deixo os materiais de pintura de lado e me levanto do gramado dando alguns passos a frente, abandonando o quadro já pronto.

Kenji se desvencilha do pai e corre em minha direção com um lindo sorriso infantil.

Ele pula em meus braços escondendo o rosto no meu pescoço.

O sol banha nossa pele alva, o calor como um peso sobre mim, sempre me lembrando que dentre eles, sou a única diferente.

A única não humana.

A cura não funcionou em mim...

Às vezes isso me entristece. Se tivesse funcionado eu poderia engravidar? Poderia passar por todo o processo de gerar uma vida?

Quando me pego pensando assim logo me repreendo. Parece que sou ingrata pelo que tenho se pensar desse modo.

Lembro que meu laço com Yorichii nos torna eternos, mas Kenji...

Tento não pensar muito sobre o assunto. Me parece muito mórbido e pertencente a uma época passada de nossas vidas.

Aperto o garotinho contra o peito. Vamos dar um jeito quando chegar a hora.

Afinal, sempre demos um jeito.

Por ser quem sou e ter vivido o que vivi, às vezes acabo me achando indigna dessa família.

Tenho todos esses pensamentos que ainda me assombram...

Meu Parceiro sorri andando em nossa direção. Ele me beija como sempre faz e logo depois me oferece um abraço apertado fazendo de Kenji uma criança esmagada.

- No que está pensando? - com delicadeza prende minha franja rebelde atrás da orelha.

- Memórias.

Ele balança a cabeça em confirmação, entendendo exatamente o que quis dizer.

Sempre entende o que quero dizer e sempre sabe o que estou sentindo. Ele sorri, seu sorriso tão acolhedor como os raios do sol.

Comigo mesma, os mesmos pensamentos rondam minha cabeça.

Por tudo que eu fiz nesse milênio, deveria sofrer e ser julgada mais que qualquer outra pessoa.

Matei pessoas, feri muitas outras. Depois fugi por séculos como uma covarde.

Mas esses dois...

Eles são minha redenção.

Yorichii aproxima o rosto do meu ouvido, sua respiração arrepiando meu corpo frio.

Kenji deve ter dormido já que não se mexeu muito depois que veio até mim.

Consigo sentir que Yorichii sorrir, só não sei se pelo seu rosto estar tão perto ou se por pura intuição.

Ele une nossas testas e acaricia os cabelos escuros do nosso filho.

- Esqueça, Kōri querida. - sua voz grave retumba meus ouvidos. - Agora são só memórias.

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𝐌𝐄𝐌𝐎𝐑𝐈𝐄𝐒 - 思い出Onde histórias criam vida. Descubra agora