Capítulo 16°

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- Tá errado. - falo apontando para o papel.

- O que tá errado? - ele pergunta.

- Esse kanji aí, você inventou ele agora?

- Não. - ele franze o nariz e olha a escrita mais atentamente. - Nem tá tão errado assim.

- Já é o quinto kanji que você inventa essa semana. - suspiro e me levanto. - Se você não dominar a escrita nunca vai aprender a fala.

- É mais difícil do que eu pensei que seria. - diz jogando o papel na mesa. Ele recosta o pescoço na cadeira e fica olhando para o teto.

- Tente de novo, vou fazer a comida. - Levanto e ando até a cozinha.

Amarro o cabelo para não cair nenhum fio e arregaço as mangas da blusa.

Abro um dos armários pegando panelas, em seguida vou até a despensa escolher alguns legumes.

Coloco tudo na bancada e começo e separar as coisas que vou usar primeiro.

Pego as batatas e as cenouras lavando elas na pia.

Corto elas e me viro pra colocar na panela, despejo um pouco de água da torneira e ligo o fogo.

Faço a massa para empanar o peixe e deixo ela descansando em um canto qualquer.

Me abaixo para procurar o arroz no armário e quando me levanto tomo um susto.

Yoriichi está olhando para mim com a cabeça apoiada em uma mão. Seus cabelos estão úmidos por ter tomado banho a pouco, e o kimono se abriu levemente com o tempo.

- Porque está me olhando? - pergunto voltando a preparar os ingredientes.

- Por nada. - segundos de silêncio. - Só estava pensando, moramos juntos a mais de duas semanas e eu não sei nada sobre você.

- Eu também não sei nada sobre você. - coloco a panela de arroz no fogo.

Sem perder tempo volto ao balcão para fazer o peixe.

- E você não acha isso estranho? - olho de esguelha pra ele.

- Não me importo muito, você está sendo tolerável. -  solto um sorriso travesso.

- Tolerável? Assim você magoa meus sentimentos. - ele coloca a mão dramaticamente no peito meio descoberto.

Desvio o olhar antes que eu começe a prestar muita atenção no corpo dele.

- Toda essa conversa tem algum propósito, ou você está só enrolando para não fazer o que eu falei?

- Ambas as alternativas.

Corto a carne do peixe, a empano com a massa e jogo no óleo quente.

- Pergunte o que quer saber - olho para ele. -, só não garanto que eu vá responder.

- Justo. - ele se ajeita melhor na cadeira. - Me diga, o que fazia antes de eu aparecer?

Penso por um segundo e vejo que não seria um problema responder essa pergunta.

- Morava em um templo. - dou de ombros. - Nada de interessante. - olho o peixe para não queimar. - Próxima pergunta.

- Hum. - ele me observa dos pés a cabeça. - Onde conseguiu a cicatriz?

Mesmo sem saber a resposta fico encomodada, como se a marca me ferisse emocionalmente.

- Não faço a menor ideia. - falo olhando para a cicatriz que vai do meu ombro até metade da minha coxa.

Ele só consegue ver uma pequena parte dela por causa da roupa que eu uso.

- Como assim você não sabe? - pergunta confuso.

𝐌𝐄𝐌𝐎𝐑𝐈𝐄𝐒 - 思い出Onde histórias criam vida. Descubra agora