Capítulo 10

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Chateado e exausto, eu mantinha minha rotina de levar comida e bebida para Dalila todos os dias, mas a nossa interação se limitava a isso. Evitava olhar para ela, não trocávamos uma única palavra. Minha paciência estava no limite; sentia-me esgotado por fazer tanto por ela sem receber nada em troca.

Cada vez mais, me perguntava se eu era realmente um ser humano ruim, ou se minhas ações eram apenas uma consequência de tudo o que havia acontecido. A dúvida corroía minha mente, mas não havia respostas, apenas um silêncio pesado.

Eu amo tanto Dalila que dói na minha alma. Esse amor me consome, me corrói por dentro. Amar alguém a ponto de perder a sanidade, de fazer qualquer coisa para mantê-la ao meu lado, mesmo que contra a vontade dela, isso me torna um monstro?

Cada gesto, cada ação que eu tomei foi movido por esse amor desesperado e doentio.

Eu queria protegê-la, queria que ela visse o mundo como eu via, que entendesse que tudo o que fiz foi por nós. Mas ela não via assim. Ela só via o medo, o horror, o desespero. E isso me fazia questionar: até que ponto o amor justifica os atos? Amar tanto alguém a ponto de cometer atrocidades é ser uma pessoa ruim? O amor verdadeiro deveria ser livre, puro, não uma prisão.

Estou sofrendo de uma maneira indescritível. Cada dia é uma batalha contra a dor constante e esmagadora que sinto dentro de mim. A traição de Dalila me destruiu de uma forma que vai além das palavras. É como se cada fragmento do meu ser estivesse despedaçado, sem esperança de ser reconstruído.

A confiança que eu tinha nela era absoluta, e vê-la quebrar com tanta facilidade foi devastador. Foi como uma lâmina perfurando meu coração repetidamente. A cada lembrança, a cada pensamento sobre o que ela fez, sinto uma nova onda de dor. Eu amava Dalila com uma intensidade que era quase insuportável, e esse amor, essa devoção, foi o que me levou a esses extremos.

Vê-la com outra pessoa, saber que ela escolheu alguém que não fosse eu, rasgou minha alma em pedaços. Ela era meu mundo, minha razão de ser.

Eu sou um reflexo quebrado do homem que costumava ser, perdido em um abismo de tristeza e desespero. A traição de Dalila foi o golpe final, a prova definitiva de que o amor pode ser tão cruel quanto é belo. E agora, estou preso nesse ciclo, tentando desesperadamente entender onde tudo deu errado.

Admito que sou egoísta. No fundo, sempre soube disso. Meu amor por Dalila era tão intenso, tão possessivo, que se transformou em uma prisão para ambos. Eu queria ela para mim, apenas para mim, e qualquer desvio desse desejo era insuportável.

Ser egoísta significa colocar meus sentimentos, minhas necessidades, acima de tudo e de todos. E eu fiz isso. No meu desespero para mantê-la ao meu lado, acabei cruzando limites que jamais imaginei. O amor se transformou em uma obsessão, e essa obsessão me levou a tomar decisões das quais não posso voltar atrás.

Eu queria ser o centro do mundo dela, a única coisa que importava. E quando percebi que não era, que ela tinha se voltado para outro, isso me destruiu. A dor e a raiva que senti me cegaram, me empurraram para um caminho sombrio. Eu estava disposto a fazer qualquer coisa para tê-la de volta, para punir quem a afastou de mim.

Ser egoísta me fez esquecer quem eu era, me transformou em alguém que nunca imaginei ser. E agora, estou aqui, preso nas consequências das minhas próprias ações, tentando entender como cheguei a esse ponto. Admito que tudo isso é fruto do meu próprio egoísmo, e isso é algo com o qual tenho que conviver todos os dias.

Cada decisão, cada ato de violência, cada momento de dor infligida foi justificado pelo meu amor por Dalila. Não me importo com o julgamento alheio ou com as consequências. O que fiz, fiz por amor e por justiça ao meu coração partido.

Se tivesse a chance, tornaria a traição dela uma lição ainda mais dura, ampliaria o sofrimento dos que ousaram se interpor entre nós. Não foi suficiente o que aconteceu. Enert pagou com sua vida, mas eu ainda sinto a necessidade de punir todos que cruzaram nosso caminho. Se pudesse, intensificaria o castigo, tornaria as consequências de trair meu amor algo impossível de esquecer.

Não me arrependo. E faria tudo quatro vezes pior. Porque meu amor por Dalila, mesmo distorcido, ainda que transformado em obsessão, justifica cada uma das minhas ações.

No meu mundo, traição não tem perdão, e eu sou o juiz, o júri e o executor.

𝑷𝑺𝒀𝑪𝑯𝑶𝑷𝑨𝑻𝑯 | 𝑱𝑬𝑶𝑵 𝑱𝑼𝑵𝑮𝑲𝑶𝑶𝑲Onde histórias criam vida. Descubra agora