Capítulo 14

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Enquanto eu levava o prato de comida para Dalila, ela estava sentada na jaula, seus olhos fixos em mim com uma expressão que eu mal reconhecia. O contraste com a mulher que havia ignorado minha presença por meses era gritante. Seu comportamento tinha mudado completamente, e eu não sabia se isso era um sinal de arrependimento ou apenas uma nova forma de manipulação.

“Jungkook,” ela começou, sua voz suave e carregada de uma gratidão que parecia sincera. “Obrigada pelo almoço de hoje. O que é?”

Eu coloquei o prato na pequena abertura da jaula, tentando manter um semblante neutro. “É frango com arroz. Espero que esteja do seu gosto.”

Ela pegou o prato com uma mão trêmula, olhando para mim com um olhar que misturava esperança e uma tristeza profunda. “Parece ótimo. Eu realmente aprecio isso.”

“Por que você está se comportando assim agora?” Eu perguntei, tentando manter a calma, mas com uma ponta de raiva na voz. “Depois de tudo que você me fez passar, por que essa repentina mudança?”

Dalila hesitou por um momento, como se estivesse pesando suas palavras cuidadosamente. “Eu... eu não sei como explicar. Desde que meu pai morreu, eu tenho refletido muito sobre tudo. Sobre o que fiz, sobre o que somos. Eu só queria que você soubesse que sinto muito.”

Eu a encarei, a dúvida e a desconfiança claras no meu olhar. “Sentir-se mal agora não apaga o que você fez. Você acha que pode simplesmente mudar tudo com um pedido de desculpas e um sorriso?”

Ela desviou o olhar por um instante, como se estivesse lutando contra suas próprias emoções. “Eu sei que não posso consertar o passado. Mas eu estou tentando ser diferente. Eu quero fazer as coisas certas, se for possível.”

“Você está tentando me manipular?” Eu a interroguei, minha voz cheia de um tom severo. “Ou isso é realmente uma mudança genuína? Não posso simplesmente ignorar o que você fez comigo.”

Dalila levantou a cabeça, seus olhos encontrando os meus novamente. “Eu não estou tentando manipular você. Eu estou tentando mostrar que, de alguma forma, estou arrependida. Se houver uma chance de que eu possa fazer alguma coisa para compensar, eu quero tentar. Mas entendo se você não puder ou não quiser acreditar nisso.”

O silêncio se instalou por um momento. Eu estava lutando para processar o que estava ouvindo. A situação era tão inesperada que parecia quase surreal. Mas eu sabia que precisava ser cauteloso.

“É difícil para mim acreditar em qualquer coisa que você diga agora,” eu respondi, mantendo minha voz firme. “Você teve a chance de mostrar arrependimento antes, e falhou. Agora, suas palavras não significam muito para mim. Vamos ver se isso é realmente uma mudança ou apenas uma nova forma de manipulação.”

Ela parecia entender a seriedade da situação e não tentou argumentar mais. Agradeceu novamente, desta vez por um copo de suco que eu trouxe, e me olhou com esperança. Eu saí do porão, sentindo o peso da situação sobre mim, dividido entre a possibilidade de uma mudança real e a necessidade de proteger minha sanidade.

Durante a noite, enquanto a casa estava envolta em um silêncio pesado, eu desci ao porão com o jantar de Dalila. A luz fraca que iluminava o espaço criava sombras longas e dramáticas, tornando o ambiente ainda mais opressor. Eu entrei no porão e coloquei a bandeja de comida na abertura da jaula, observando-a com um olhar atento.

Ela estava sentada no canto da jaula, o rosto iluminado pela luz do corredor. Quando ela viu a comida, um sorriso tímido e esperançoso se formou em seus lábios. “Jungkook,” ela disse, sua voz suave e quase sedutora. “Você poderia fazer companhia a mim enquanto eu como? Sinto-me tão sozinha aqui.”

O pedido a princípio parecia genuíno, e eu estava prestes a responder quando notei algo peculiar. Enquanto ela falava, Dalila pegou o garfo que estava na bandeja e, ao invés de usá-lo imediatamente, cerrou os punhos ao redor dele.

Era um gesto sutil, mas um sinal claro de que ela estava se preparando para algo. Seus olhos não se desviavam dos meus, e o sorriso em seu rosto parecia forçado, um pouco desviado da naturalidade que eu esperava.

Eu percebi na hora que o pedido dela não era apenas uma solicitação de companhia, mas uma tentativa calculada de manipulação. O sorriso era uma máscara, uma fachada que escondia algo mais sombrio. A cena diante de mim não era nada além de um jogo que ela estava tentando me envolver.

Eu ri levemente, um som baixo e seco. Era uma risada cheia de ironia e frustração, um reconhecimento de que Dalila estava tentando jogar com minha mente. Se ela queria jogar, eu estava mais do que disposto a entrar no jogo.

“Você acha que pode me enganar com esse sorriso e esse pedido de companhia?” Eu falei, a voz fria e controlada. “Eu vejo através das suas intenções, Lila. Não vou cair na sua armadilha.”

Dalila tentou manter o sorriso, mas algo em seus olhos traiu a frustração e a surpresa. Ela sabia que havia falhado em sua tentativa. O garfo ainda estava em suas mãos cerradas, e ela o apertou com mais força, como se isso pudesse ajudar a esconder suas verdadeiras intenções.

“Eu só queria...” ela começou, mas a voz dela falhou, e o resto das palavras morreram na garganta.

“Você só queria o quê?” Eu interrompi, mantendo a postura firme e a expressão inabalável. “Mais uma vez, suas palavras não fazem sentido. Se realmente está arrependida, você encontrará maneiras melhores de mostrar isso.”

Eu me virei para sair, deixando-a sozinha com seus pensamentos e sua refeição. A noite parecia ainda mais pesada, com a consciência de que o jogo psicológico continuaria. Se Dalila queria jogar, eu estava pronto para jogar também, mas eu faria isso com a mesma frieza e determinação que ela usava para me desafiar.

𝑷𝑺𝒀𝑪𝑯𝑶𝑷𝑨𝑻𝑯 | 𝑱𝑬𝑶𝑵 𝑱𝑼𝑵𝑮𝑲𝑶𝑶𝑲Onde histórias criam vida. Descubra agora