O enigma do homem mascarado

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Ao deixar a grandiosa sala de baile e adentrar os jardins iluminados por lanternas de óleo, o ar fresco da noite preencheu meus pulmões e trouxe um alívio instantâneo à tensão que me consumia. Amélia, ao meu lado, mantinha um olhar preocupado enquanto eu tentava recompor meus pensamentos. O perfume das flores noturnas envolvia-nos, criando um contraste de calmaria com a opulência e pressão do baile.

— O que aconteceu lá dentro? — perguntou Amélia, sua voz baixa e sussurrante.

Suspirei profundamente, hesitando antes de revelar os detalhes da conversa com o misterioso nobre. O medo de ter dito demais ainda pesava em meu coração.

— Eu... apenas me permiti falar demais, Amélia. Sobre a monarquia, as castas... e o príncipe — confessei, sentindo o rubor subir às minhas faces.

— Sabes que tais palavras podem nos levar à ruína, irmã — alertou-me ela, apertando minha mão com firmeza.

Antes que eu pudesse responder, ouvi passos atrás de nós. Virando-me lentamente, avistei o nobre de olhos verdes, ainda mascarado, mas com uma expressão decidida. Ele aproximou-se com passos largos e determinados, seu olhar fixo em mim.

— Milady, não pretendia assustá-las. Desejo apenas falar convosco por mais um momento — disse ele, sua voz firme, mas gentil.

Amélia lançou-me um olhar curioso e apreensivo. Concordei com um leve aceno, indicando que ela poderia se afastar um pouco. Relutante, ela se retirou, mas manteve-se à vista, pronta para intervir se necessário.

— Por que saístes tão abruptamente? — perguntou ele, agora mais próximo, seu olhar suave, mas penetrante.

— Temia que minhas palavras tivessem ofendido, milorde — respondi, tentando manter a voz firme.

— Vossas palavras foram ousadas, mas honestas. E, confesso, vós dissestes o que muitos de nós pensamos em segredo. A divisão entre castas e a conduta do futuro rei são questões que pesam em nossos corações — ele disse, aproximando-se ainda mais.

A surpresa e a confusão deviam estar claras em meu rosto, pois ele continuou:

— Sou mais do que pareço, milady. A máscara não oculta apenas meu rosto, mas também minha verdadeira identidade. Preciso que confie em mim, mesmo que apenas por esta noite.

Fiquei confusa com suas palavras. O toque suave da sua mão em meus braços me passou uma certa segurança, e respirei fundo.

— Espero que o senhor não comente com ninguém sobre o que conversamos, milorde — digo, firme.

Espero, do fundo do coração, que ele não abra a boca. Se vier a contar para alguém, eu e minha família estaríamos arruinados, pois, claramente, eu falei mal da monarquia para um membro da alta sociedade.

— Confie em mim, milady — diz ele, olhando diretamente para meus olhos, com um olhar de seriedade. — Poderia me confidenciar vosso nome?

Antes que eu pudesse falar, Amélia cutucou meu braço e apontou para a porta do palácio, onde estava a Viscondessa Catarina, dona do vestido que eu estava usando, nos encarando com um olhar desconfiado. Meu coração palpita e entro em desespero; com certeza ela reconheceu o vestimento e, apesar de ter mandado jogá-lo fora, sei que ela faz questão de tudo. Ficaria feliz em me deixar nua na frente de todos.

Percebo que ela começa a descer as escadas e vir em nossa direção. Amélia me puxa pelo braço para entrar na carruagem que já nos esperava. Antes que os cavalos pudessem nos levar para longe do castelo, digo ao homem mascarado:

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