Segredos na penumbra

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Depois da declaração de Lorenzo, eu me senti nas nuvens. A forma como ele falou, com tanta sinceridade e paixão, fez meu coração disparar. No entanto, três semanas se passaram e Lorenzo parecia ter desaparecido do castelo. Não o vi pelos corredores, jardins ou em qualquer outro lugar. A preocupação começou a crescer dentro de mim, mas tentei me concentrar no trabalho.

Hoje, fui encarregada de limpar o salão das mulheres. Sabia que não haveria ninguém por ali, então decidi começar a limpeza logo pela manhã. Enquanto varria e espanava, meus pensamentos voltavam para Lorenzo e a angústia de não saber onde ele estava. De repente, minha mão tremeu e a vasilha com sabão caiu sobre o carpete. Suspirei e me abaixei atrás do sofá para tentar limpar a bagunça.

Foi então que ouvi a porta do salão se abrir. Reconheci as vozes de imediato: a Viscondessa Catarina e sua mãe, Lady Ágatha. Prendi a respiração e fiquei imóvel, esperando que não percebessem minha presença.

— Mãe, precisamos agir rápido. O príncipe Henrique III está vulnerável desde as festividades do aniversário de Eleonora. Ele tem se isolado mais do que o normal — disse Catarina, com um tom de urgência na voz.

— Concordo, minha filha. Com o rei doente e a incerteza sobre a sucessão, esta é nossa chance de garantir nossa posição. Você deve se tornar a nova rainha — respondeu Lady Ágatha, com firmeza.

— E como faremos isso? — perguntou Catarina, com um leve nervosismo.

— Primeiro, precisamos garantir que o príncipe veja em você uma aliada confiável. Precisamos explorar sua vulnerabilidade e ganhar sua confiança. Depois, podemos trabalhar para garantir seu apoio na corte — explicou Ágatha, com uma calma calculada.

Meu coração batia freneticamente. Eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Catarina e Ágatha estavam conspirando para tomar a coroa. A ideia de Catarina como rainha me enchia de pavor. Ela não era apenas uma nobre ambiciosa; ela era cruel e implacável.

Se a situação do país já estava terrível, mesmo a família real tentando melhorar a situação, se tivermos uma monarca que não liga para o povo, poderíamos ser exterminados.

— Mas mãe, e se ele descobrir nossas intenções? — perguntou Catarina, com uma ponta de medo na voz.

— Não se preocupe, minha querida. Temos que ser cuidadosas e calculistas. Use seu charme e inteligência para conquistá-lo. Mostre-se leal e indispensável — respondeu Ágatha, com um sorriso frio.

Percebo que o cérebro da operação não é Catarina, mas sim, sua mãe.

Eu sabia que precisava sair dali sem ser vista, mas meus movimentos tinham que ser precisos e silenciosos. Esperei o momento certo para escapar.

— E quanto os criados? Tem muitos que são fiéis a família real e que podem ser um empecilho para nossos planos — perguntou Catarina, repentinamente. — Aquela garota que usou meu vestido no baile... Francesca. Precisamos nos livrar dela. Ela, em especial, é um risco.

Senti um calafrio percorrer minha espinha. Precisava sair dali antes que elas decidissem algo contra mim.

Eu não entendi porque eu seria um risco para seus planos, eu nunca conheci o príncipe Henrique. Talvez ela me veja com esse olhar, pois deve ter ouvido a conversa que tive com o homem mascarado.

— Deixe isso comigo. Farei com que ela desapareça discretamente — disse Ágatha, com um tom ameaçador.

Ouço o som da porta ser fechado e percebo que estou finalmente sozinha no recinto.

Ao sair apressada do salão, quase trombei com a Viscondessa Catarina, que voltava em direção à porta. Meu coração disparou. Ela não poderia me ver ali, não agora, não depois do que eu havia escutado. Prendi a respiração, esperando que ela passasse sem me notar. Mas os olhos dela encontraram os meus, e eu vi um brilho de reconhecimento e suspeita.

— O que fazes aqui, criada? — ela perguntou, com a voz fria e cortante.

Senti um medo profundo, uma certeza de que, se ela descobrisse o que eu tinha ouvido, estaria em sério perigo. Sem pensar duas vezes, corri. Corri o mais rápido que minhas pernas permitiram, sem olhar para trás. Precisava sair dali, precisava me esconder, planejar uma fuga antes que fosse tarde demais.

Os portões do castelo estavam logo à frente, e eu parei para recuperar o fôlego. Foi quando ouvi uma voz masculina na escuridão, o que me fez gelar por completo.

— Francesca? — A voz era suave, familiar.

Uma figura saiu de trás dos arbustos, e eu soltei um suspiro de alívio ao reconhecer Lorenzo. Pelo menos ele não me entregaria. No entanto, ele parecia envergonhado, como se soubesse que me devia uma explicação.

— Francesca, eu... preciso pedir desculpas por ter sumido — começou ele, mas eu levantei a mão, interrompendo-o.

— Não agora, Lorenzo. Há coisas mais importantes — respondi, a urgência em minha voz clara.

Contei tudo o que havia ouvido no salão das mulheres, sem parar para respirar. Ele me ouviu em silêncio, seus olhos se arregalando com cada detalhe que eu revelava.

— Catarina e Ágatha estão conspirando para tomar a coroa. Elas querem que Catarina se case com o príncipe Henrique III e planejam se livrar de mim — concluí, finalmente tomando fôlego.

Lorenzo parecia abismado, e eu podia ver a seriedade em seus olhos.

— Isso é grave, Francesca. Precisamos resolver isso — disse ele, com determinação.

Entrei em pânico. A ideia de Lorenzo, ou qualquer outra pessoa, saber desse segredo me aterrorizava. Se descobrissem, ele estaria em perigo junto comigo.

— Não, Lorenzo! Se alguém souber, você será enviado para a guilhotina comigo. Não podemos correr esse risco — disse, quase implorando.

Ele tentou me acalmar, colocando as mãos em meus ombros.

— Francesca, fique escondida nos arbustos. Eu vou resolver isso — pediu ele, com uma confiança que eu não conseguia compreender.

Fiquei observando enquanto Lorenzo corria em direção ao castelo, sentindo-me impotente e desesperada. O que ele poderia fazer para me ajudar? Eu não sabia, mas sua determinação me dava um fio de esperança. Mesmo assim, não conseguia afastar o medo de que tudo pudesse dar terrivelmente errado.

Me escondi nos arbustos, esperando e rezando para que Lorenzo conseguisse encontrar uma solução. A noite estava fria e silenciosa, mas meu coração batia com força, e cada segundo parecia uma eternidade.

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