Confissoes sob a lua

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Os dias seguintes ao grandioso baile foram marcados por um novo ritmo em minha vida. O palácio, ainda ressoando com os ecos das celebrações, agora parecia mais um labirinto de trabalho constante e sussurros furtivos. Mas, entre as longas horas de trabalho e as tarefas diárias, havia algo que eu esperava ansiosamente: meus encontros com Lorenzo.

Nossos encontros eram breves, mas carregados de significado. Ele parecia sempre encontrar uma maneira de cruzar meu caminho, seja nos corredores do palácio, na cozinha ou na biblioteca onde eu ajudava com a organização de livros e documentos.

Lorenzo tinha um olhar atento e uma paciência que me fazia sentir à vontade para falar sobre os temas que me tocavam profundamente. Ele me ouvia com uma concentração quase reverente, suas perguntas sempre bem formuladas, como se buscasse entender não apenas minhas palavras, mas também a essência de minhas ideias.

— Então, Francesca, o que pensa sobre a desigualdade entre homens e mulheres na nossa sociedade? — perguntava ele em uma tarde, enquanto ajudávamos a arrumar os salões para um evento.

— Acredito que a sociedade está presa a tradições ultrapassadas que perpetuam desigualdades — respondi, organizando talheres com precisão. — Acredito que homens e mulheres deveriam ter as mesmas oportunidades e direitos, sem serem julgados pelo que são, mas pelo que podem contribuir.

Ele sorria, um sorriso genuíno que fazia seu olhar brilhar.

— Isso é uma visão inspiradora, Francesca. Às vezes, parece que a mudança é um sonho distante. Mas ouvir alguém com tanta convicção e clareza faz-me acreditar que é possível — disse ele, admirado.

Eu sentia uma profunda conexão com Lorenzo através dessas conversas. Havia algo de reconfortante em saber que, em meio a um mundo tão rígido, havia alguém que compartilhava das minhas aspirações. Discutíamos também sobre a abolição das castas, a necessidade de uma sociedade mais inclusiva e justa.

— A divisão entre castas — disse eu uma vez, enquanto preparávamos uma bandeja de doces — é uma das maiores injustiças que nossa sociedade enfrenta. Cada pessoa deveria ter a oportunidade de mostrar seu valor, não importando sua origem.

Lorenzo escutava com uma intensidade que raramente encontrava em outros. Havia uma faísca de esperança em seus olhos, uma chama que parecia alinhar-se com a minha própria visão para um futuro melhor.

Mas nem todos no palácio compartilhavam dessas esperanças.

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Certa manhã, enquanto eu estava na cozinha organizando os suprimentos, a Viscondessa Catarina fez uma visita inesperada. Sua presença era marcada por uma aura de autoridade que se impunha, e o olhar calculista com que me examinava fazia meu coração bater mais rápido.

— Francesca, que surpresa vê-la aqui — disse ela, com um tom de sarcasmo que era difícil de ignorar.

Eu a cumprimentei com um sorriso forçado, tentando manter minha compostura. Sabia que Catarina não tinha o menor respeito pelos criados, e suas palavras sempre carregavam uma veia cortante.

—Ouvi rumores interessantes sobre você, Francesca— continuou Catarina, cruzando os braços e me encarando com um olhar desdenhoso. — Alguns disseram que você se comportou como uma igual no baile, conversando com nobres e até dançando com um deles. Se eu não tivesse a visto com meus próprios olhos, iria rir sob tais rumores. Parece que você tem grandes aspirações para alguém em sua posição.

Meu coração acelerou. Catarina estava claramente informada sobre o que havia ocorrido e estava determinada a me colocar no meu lugar. Seus olhos penetrantes me avaliavam, e a humilhação estava prestes a se tornar uma realidade.

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