Buck bate na porta do escritório mesmo depois de ver Bobby tomando seu café da manhã na cozinha cinco segundos atrás. Hábito, ele supõe. Uma rápida olhada no corredor lhe diz que não há ninguém por perto para impedi-lo de colocar este formulário de solicitação na mesa de seu capitão. Não que eles fossem impedi-lo de alguma forma.
Uma pequena parte de Buck queria ver o rosto de Bobby quando ele entregasse os papéis, esperando que uma compreensão repentina tirasse a venda de seus olhos. Que isso está acontecendo, mas não precisava acontecer. Buck daria qualquer coisa para voltar a ser como era antes do processo, mas não depende dele. Ele aceitou esse fato há dois dias.
Os sinos do alarme tocam muito depois que ele coloca o papel na mesa e, é preciso cada grama de força de vontade para não levá-lo consigo quando ele sai. Isso é para o melhor de todos. Bom, é o que ele continua dizendo a si mesmo.
Eles atendem quatro chamadas consecutivas e, desde que entrou no caminhão de bombeiros naquela manhã, Buck tem temido a ideia de retornar à estação. Ele não deveria ter entregue aquele formulário no início de um turno de oito horas. Ele deveria tê-lo entregue no final para poder correr para casa e chorar como o covarde que ele é.
Por algum milagre, as ligações os mantêm longe a maior parte do dia. Só depois da sexta hora eles conseguem recuperar o fôlego e Bobby está ocupado demais preparando comida para todo mundo para sequer pensar em seu escritório. Buck sabe disso porque, em vez de se esconder no andar de baixo como costuma fazer depois do processo, ele está empoleirado na parte de cima, encostado no sofá e ouvindo as conversas distantes.
Não é exatamente espionagem. Eles o viram, eles sabem que ele está lá. É só que com ele escondido atrás das almofadas, sua presença é ainda mais fácil de ignorar. Longe da vista, longe do coração.
“Bobby.” Os ouvidos de Buck se animam com a voz de Eddie. “Jackson e DeMayo acabaram de terminar o inventário e parece que estamos ficando sem algumas coisas. Quer que eu deixe a lista no seu escritório?”
Mil coisas passam em sua cabeça e lágrimas se formam no cantos dos seus olhos. Diga não. Por favor, diga não.
“Está tudo bem, me dê aqui. Tenho uma papelada para fazer depois que comermos.”
Então ele ganhou mais vinte minutos. Isso não o faz se sentir melhor.
Droga, ele não deveria se importar tanto. Sua suposta equipe o ignora há semanas. Sua família se recusa a sequer considerar seu lado das coisas, embora ele tenha se desculpado uma dúzia de vezes. Seus amigos só falam com ele por telefone e apenas no tom mais profissional. Seu melhor amigo...
Buck afunda as costas no sofá, sem fôlego. Não, essa memória ainda é delicada ao toque.
Exalando um suspiro silencioso, ele se levanta de seu esconderijo, sentindo os olhares perfurarem sua pele como sempre. Mais uma vez, Buck se lembra de que o que ele está fazendo é para o melhor.
“Você andou distraído hoje, Buckley. Tem algo que você gostaria de falar?”
É dever de um capitão garantir que cada membro de sua equipe esteja com a mentalidade certa para fazer seu trabalho. Buck sabe disso porque eles já tiveram conversas assim antes. Então, ele sabe exatamente o quão diferente é isso vir de seu capitão agora. Este não é um homem perguntando a um amigo com quem ele se importa se está tudo bem. Este é um profissional seguindo seu código de conduta.
“Não, senhor.” Pelo menos ele parece normal. “Desculpe, senhor. Vou tentar ser mais focado.”
Bobby nem responde a isso. A conversa muda rapidamente e todos voltam a ser como eram antes. Buck serve sua comida e desce, a levando para o vestiário.
Seu garfo está distraidamente empurrando espaguete pelo prato quando Eddie entra.
“Ei.” Oh. Buck não consegue se lembrar da última vez que Eddie começou uma conversa. “Sobre a festa do Christopher amanhã…”
Ah, claro.
“Eu entendi sua mensagem alto e claro Eddie. Não se preocupe, eu não gosto muito de invadir festas de aniversário de crianças de 10 anos.”
Algo parecido com confusão marca o rosto de Eddie. “Como assim, não entendi?”
Os sinos do alarme tocam acima de suas cabeças e a primeira, provavelmente a última, conversa com Eddie em uma eternidade acabou. Ele Joga o prato quase cheio no lixo, pareceu um pouco dramático, mas Buck não consegue se importar. Ele só quer ir para casa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Caiu sobre mim - (Buddie)
General FictionAs coisas não estão sendo mais as mesmas depois do processo, Buck decide que precisa deixar Los Angeles. Antes disso, porém a equipe atende a um chamado para resgatar um suicida. A conversa sincera de Buck com o homem desencadeia uma confusão de rea...