Cap. 36 Desgraça e Salvação

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INÍCIO DE TUDO

O vento soprava forte contra os cabelos brancos da deusa da Lua e da Caça. A paisagem era deslumbrante vista do Monte Yrywns, dali podiam-se ver todo o Alto Mundo e suas enormes e majestosas criações. Era o lugar perfeito para a construção da sede do Alto Conselho, onde apenas os Deuses Primordiais tinham livre acesso.

Ela nunca imaginou que precisaria pisar os pés naquela montanha por motivos que lhe poriam em risco. Para a jovem deusa, um dia ela seria uma tecelã do destino, o que lhe tornaria tão ou até mais importante do que os deuses primordiais. Mas agora, seu futuro era incerto, mesmo que abdicasse de seu orgulho e implorasse para que o Alto Conselho não lhe abandonasse.

— Ainda não consigo imaginar o que de tão grave vocês poderiam ter feito para enfurecer o seu pai. — Uma voz doce e pacífica foi ouvida.

A presença divina e calmante de Amoa pôde ser sentida, a Deusa da Vida e da Cura, também se pôs a vislumbrar a vista que prendia a atenção de Tiana.

— Peço para que se lembre de nossos laços quando for nos julgar, pois no final das contas mesmo deuses podem errar uma vez na vida. — As palavras cortaram o vento e atravessaram Amoa como uma espada afiada.

Ela não podia imaginar sobre o que Tiana falava, pois havia enterrado muito fundo dentro de si aquele infeliz acidente que resultou na deusa que via hoje. Ela amava-a, mas não como uma filha, ela sabia que jamais poderia revelar o real parentesco com Tiana, por isso, se escondia atrás do que podia demonstrar.

— Sou mãe de sua mãe, não há nada que eu não faria por você e seus irmãos, desde que isso não ponha os mundos em risco, jovem deusa. — Aquela voz terna, que outrora acalentava Tiana, agora lhe enfurecia.

Não conseguia olhar em direção a deusa, pois sentia como se ela pudesse desvendar todas suas dores, assim como as revelações que havia feito. Ela não queria que a outra soubesse que ela sabia, pois isso de nada lhe ajudaria, mas de forma inconsciente, queria que ela recordasse do significado da deusa, pois se ela havia errado, não tinha como julgá-la por errar também.

— Sou filha de minha mãe e de meu pai, não há nada que eu não faria por eles, mas se mesmo isso não for suficiente, lembre-se de mim e de minha mãe, quando me levarem a julgamento. — Suas palavras foram pensadas minuciosamente para ficarem subentendidas.

Dito isso, a jovem deusa deu as costas para a vista na sua frente e seguiu seu caminho para o enorme templo que sediava as reuniões do Alto Conselho, deixando para trás uma Amoa cheia de dúvidas e sentimentos de pesar.

Quando encarou os demais deuses sentados na enorme mesa, sentiu medo pela segunda vez em sua tenra vida imortal. A primeira vez, se lembrou, foi quando viu o seu pai, após o parto, não gostava de se lembrar, mas a segunda, com toda certeza, foi naquele momento, quando viu a mesa repleta com os principais deuses do Alto Mundo, prontos para julga-lá.

Esperou para que todos se sentassem, Amoa foi uma das últimas a fazê-lo. Se pôs de frente para os presentes na mesa, não sentou-se, pois seria ela a pauta da vez. Não disse nada, mesmo quando ouviu nitidamente os sussurros entre os deuses, muitos curiosos pois Erlon não havia de fato falado qual seria o motivo daquela reunião.

— Silêncio! — A voz grave do Deus dos deuses foi ouvida e como um comando, reverberou por todo o ambiente, silenciando a todos.

A Híbrida Caçadora (Livro 1 da série: Destinados)Onde histórias criam vida. Descubra agora