01. captain

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Paris, julho de 2024.

As íris oceânicas de Amélia seguem a rota projetada na pequena tela em sua frente

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As íris oceânicas de Amélia seguem a rota projetada na pequena tela em sua frente. 

Era tão real quanto o ar em seus pulmões: Paris estava tão próxima do que um dia ela sequer pode imaginar.

Cada quilômetro percorrido pelo avião era como uma batida ansiosa de seu coração, que agora, mais do que nunca, estava acelerado. O sentimento de estranheza era tão vasto quanto a sensação de que tudo ao seu redor ressoava como um sonho vívido. Ser convocada por um dos técnicos de vôlei feminino mais renomados do mundo para trabalhar nas Olimpíadas de 2024, especificamente como médica da Seleção Brasileira, era um papel de altíssimo nível e imensa responsabilidade. Foram seis meses de intensos testes, entrevistas e muita preparação. O resultado comprovou que sua capacidade estava muito além do que sua mente poderia racionalizar por si só.

Foi então que as memórias começaram a ressoar em seu interior. A perda de sua mãe, que sempre a incentivou a perseguir seus sonhos, ainda doía como uma ferida aberta. As longas noites de estudo, as decepções amoras, os fracassos — tudo parecia agora tão distante e, ao mesmo tempo, intrinsecamente interligado a sua jornada. Cada dificuldade enfrentada moldou sua resiliência, cada vitória, um lembrete de sua capacidade de superação. A sensação de medo e euforia ao mesmo tempo era inegável. O sonho estava se realizando, e com ele, a responsabilidade de honrar o esforço e as esperanças depositadas nela. A velha Amélia, insegura e cheia de dúvidas, tinha se transformado em uma profissional confiante, pronta para enfrentar os novos desafios que a aguardavam.

De repente, a voz do piloto ecoou pelo avião, trazendo-a de volta à realidade: eles haviam aterrissado em seu destino final. Apesar das dificuldades enfrentadas no trajeto, o pouso foi um sucesso e as 11 horas de voo finalmente chegavam ao fim. Amélia fechou os olhos quando sentiu a brisa morna do verão europeu beijar seu rosto, fazendo-a sorrir de satisfação e admiração ao contemplar o crepúsculo alaranjado que se espalhava pelo céu acima de sua cabeça. Não foi difícil para a médica encontrar o portão de desembarque e localizar suas malas. Embora esta fosse sua segunda vez na Europa, sua fluência em inglês mostrava-se uma vantagem inestimável, permitindo-lhe navegar com facilidade pelos corredores movimentados do aeroporto. Com a mala em mãos e o coração cheio de expectativas, Amélia respirou fundo, pronta para escrever o próximo capítulo de sua história. 

Quando se direcionou até a saída na intenção de entrar no primeiro táxi que avistasse, a voz de alguém a fez congelar por um segundo:

— Com licença, Dra. Amélia Hayes?

Ela virou-se na direção oposta e encontrou um jovem alto, que vestia peças esportivas em tons de azul e possuía o brasão das Olimpíadas de 2024 radiante em seu peito. Ele tinha por volta dos seus 20 e poucos anos. Alto, sotaque americano — apesar de desenrolar bem o português. Portava olhos oceânicos como os seus e cabelos que recordavam o de príncipe William quando mais jovem. O rapaz segurava uma plaquinha com o nome da médica e por um momento Amélia se questionou como não foi capaz de localizá-lo assim que adentrou o aeroporto.

𝐀𝐮𝐫𝐚 | Gabi Guimarães Onde histórias criam vida. Descubra agora