11. anxiety

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aviso de conteúdo: este capítulo contém descrições atreladas à saúde mental que podem ser sensíveis para alguns leitores.

G A B R I E L A     G U I M A R Ã E S

Eu estava exausta, mas impedida de estar com sono. Meu peito estava pesado, acelerado e quente. Era a ansiedade me ameaçando vir à tona.

Atordoada internamente, meus olhos percorrem a sala de convivência, observando o comportamento de todos a minha volta até parar em Amélia. Ela estava tendo um momento agradável com as outras jogadoras, lindamente distraída em uma partida de xadrez com Júlia. Analisando daquela perspectiva, todas pareciam alheias ao mundo externo, principalmente ao que enfrentaríamos amanhã: O último jogo. No estado emocional em que me encontrava, os momentos de lazer e descanso estavam se tornando ainda mais agonizantes para mim.

— Ei, está tudo bem? — De repente, ouço a voz suave de Carolana me trazer de volta para a realidade — Notei você um pouco quieta desde o jantar.

— Apenas estou exausta. Acho que já vou para o meu apartamento.

— Tem certeza? Não quer se juntar a nós? — Ela toca o meu braço e inspeciona o meu rosto, como se fosse capaz de ler meus pensamentos.

— Desculpa, amiga.

— Sem problemas. — Ela afaga o meu ombro, sorrindo gentilmente — Descanse, capitã. Amanhã será um grande dia para nós.

— Estou indo dormir. — Digo especificamente para Amélia quando me aproximo da mesa.

— Mas já? Jogue uma partida conosco! — Júlia franze as sobrancelhas e todas começam a insistir para que eu permaneça.

Porém, os olhos de Amélia são voláteis ao me ler e perceber que há algo de errado. Comigo. Posso sentir a energia da sua preocupação quando sua mão entrelaça a minha suavemente, seu toque tranquilizando os meus nervos por um segundo e colocando a minha cabeça no lugar. Ela debruça toda a sua atenção sobre o meu comportamento, sua expressão se compadecendo com a minha.

— Ei, o que está acontecendo?

— Nada. Eu só... — Fecho os olhos, respirando fundo — Sinto que preciso descansar.

— Quer ir lá fora conversar um pouco?

De repente, ela esquece as peças do tabuleiro e começa a se levantar da mesa, mas eu a impeço. A última coisa que gostaria de fazer era envolve-lá em meu caos particular.

— Não, é sério. Eu estou bem. — Seguro os seus ombros, forçando um sorriso em meu rosto enquanto destilo a mentira — Vejo vocês amanhã.

Enquanto estou cruzando o corredor, a sensação parece ainda mais esmagadora ao redor do meu peito. Tento me apoiar contra as paredes até alcançar o elevador, mas ao encarar a cabine, tenho quase certeza que ter um ataque de pânico dentro daquele lugar iria ser dez vezes pior do que normalmente é, então eu subo as escadas. Por sorte, estamos na cobertura e a única válvula de escape que vêm à minha mente é o terraço. Os degraus da escadaria de incêndio parece drenar o meu melhor e quando atravesso a porta industrial, eu desabo. Merda, merda, merda. Minha cabeça começa a girar, meus pensamentos em total desgoverno. Não consigo enxergar nada além do parapeito e a sensação é assombrosa. Me sinto perdida em minhas próprias lágrimas e tento abraçar o meu corpo na intenção de conter os meus tremores, mas não é o suficiente. Nada mais parece ser o suficiente. A angústia e o vazio transbordam em meu peito, invalidando tudo o que vivi até aquele instante.

O ar cálido do lado de fora ricocheteia as minhas bochechas úmidas e parece que a qualquer segundo irei colapsar, pois sinto minha mente em total descontrole das minhas reações fisiológicas. Tento conter minha respiração, mas é inevitável. Nem mesmo a corrente de ar que esmaga o telhado parece ser eficiente para me trazer de volta. Sinto como se todo o oxigênio do meu cérebro estivesse se esvaindo lentamente, me deixando desnorteada, como alguém à deriva em uma ilha isolada. O meu coração parece estar preso em minha boca, prestes a saltar para fora. Quando viajo minha mão esquerda até o meu peito, a sensação piora. Você precisa se recompor, Gabriela! Tento repetir para eu mesma, minha visão ficando turva em função as lágrimas que não param de despencar dos meus olhos. Eu me sentia tão sozinha, completamente perdida.

𝐀𝐮𝐫𝐚 | Gabi Guimarães Onde histórias criam vida. Descubra agora