04. kiss it better

1.7K 143 199
                                    

A M É L I A      H A Y E S

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

A M É L I A     H A Y E S

Estava sendo árduo receber as investidas da capitã do time e resistir à isso.

Foi uma semana tensa e furiosa, com muito trabalho executado e estudos incansáveis. À cada dia que se aproximava do primeiro jogo, os hormônios de todos pareciam ficar à flor da pele, exalando uma mistura de fúria, ansiedade e entusiasmo. Acompanhei as jogadoras durante alguns treinos vespertinos no centro de treinamento, nas sessões de fisioterapia e na academia. O time levava muito a sério o compromisso com a própria rotina, algo muito admirável por si só.

Apesar de todas possuírem suas particularidades, eu sabia que somente a capitã era capaz de me afetar e tirar o meu fôlego. Poderia ser nos encontros na sala de convivência, no refeitório ou nos corredores do hotel. Ela não precisava proferir nada, mas bastava uma troca de olhares e o caos estava instalado dentro de mim. Eu cultivava bom senso e reconhecia que aquelas trocas eventualmente nos levariam para lugares ilícitos, um território do qual eu sequer poderia ousar perambular, apesar de sonhar com as possibilidades todas as noites. Afinal, eu já havia tido uma prévia antes.

Conforme os dias estendiam-se e o meu tempo na França prolongava, Gabi parecia cada vez mais disposta a me testar. E ela sabia exatamente o que estava fazendo. Tinha a impressão de que isso veio se intensificando noites atrás, após o nosso encontro casual no terraço, onde muitas confissões que anteriormente estavam retidas vieram à tona. Desde então, me esforcei ao máximo para me manter afastada. Estudei muito bem cada um de seus treinos e passei a praticar as minhas atividades em horários alternativos para não correr o risco de encontrá-la. Com exceção do tempo obrigatório em que tínhamos que dividir o mesmo espaço, eu me dissipava junto aos meus pensamentos em alguma parte da Vila Olímpica.

Agora, a canalização da minha energia estava sendo destinada à academia e isso estava funcionando como um bom escape nas últimas semanas. Sempre fui preocupada com a minha saúde integral, cultivando uma rotina de treinos e incrementando outras práticas na rotina que me ajudassem a encontrar um certo equilíbrio. Apesar de estar satisfeita com o meu físico atualmente, a frustração em relação à minha própria imagem já foi algo constante em minha vida, ao ponto de quase me fazer desencadear um transtorno alimentar em minha adolescência.

Ainda são nove da manhã e o clima está tão quente e abafado quanto um deserto da Califórnia. Nem mesmo o ar condicionado da academia parecia páreo para a temperatura europeia. Enquanto encarava o meu reflexo no vasto espelho, soltei os halteres no chão almofadado após a penúltima sequência de supino inclinado. Agarro minha garrafa de água e volto a me sentar no aparelho enquanto recupero o fôlego.

Bela execução, doutora.

Quase tive um mal súbito ao escutar aquela bendita voz se materializar, engasgando com o líquido em minha garganta.

𝐀𝐮𝐫𝐚 | Gabi Guimarães Onde histórias criam vida. Descubra agora