Capítulo 7

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          Flashback on:

      Comecei a fazer sexo aos quinze anos de idade. Mas antes de abrir as pernas, já trocava selinhos com os meninos do colégio particular onde eu estudava. Eu já tinha fantasias de como seria minha primeira vez. Namorar, porém, não estava dentro dos meus planos. Para ser sincera, o balé sempre foi mais importante que tudo e eu não pensava em namorar um garoto tão cedo, pois temia que um compromisso sério atrapalhasse minha carreira.

      Claro que eu gostava de olhar para os meninos, admirar suas bundas, barrigas retas e braços musculosos, e não achava isso errado. Eu também gostava de ser olhada por eles, e ser a garota mais bonita do colégio me dava popularidade. 

      Uma das coisas legais do colégio Santa Eudóxia eram as aulas de Educação Física, e por se tratar de uma escola de alto padrão, obviamente toda a estrutura era igual as das High Schools americanas: com uma quadra onde se podia jogar basquete, futsal e vôlei.

      No meu último ano no Ensino Fundamental, integrei a equipe feminina de vôlei e saí pra competir em campeonatos entre colégios particulares. Eu não era uma super jogadora, mas tinha impulsão pra saltar, e graças à minha altura atípica para uma garota de catorze anos, dava cortadas fortes e cirúrgicas que faziam a bola explodir no chão adversário. Eram os únicos momentos em que eu amarrava o cabelo em rabo de cavalo, parecendo menos bailarina, mais comum.

      Vencemos vários torneios naquele ano, e até hoje guardo minhas medalhas de primeira colocada junto das medalhas dos festivais de balé.

      Nosso uniforme era um pouco inapropriado, para meninas tão jovens. Camiseta preta de manga curta, um short vermelho que mais parecia uma calcinha da Calvin Klein e deixava nossas bundas à mostra, meiões e tênis brancos. Com esse uniforme nem um pouco discreto, era inevitável que não chamássemos a atenção dos meninos.

      Só que por mais que eu interagisse legal com pessoas “normais”, eu sabia que aquele não era meu mundo. Não um mundo em que eu me sentisse cem por cento à vontade. Meu mundo era o balé. E além disso, tinha dias que era difícil aguentar as futilidades e brincadeiras das minhas companheiras de equipe. Às vezes discutíamos na quadra e no vestiário por bobagem.

      Jacque era a pior de todas. A capitã da equipe primava pela arrogância e prepotência, e por eu ser a mais jovem da turma, era alvo de suas frustrações. Quando perdemos uma partida de virada por 3 sets a 2, ela me deu um esporro na frente de todo mundo, dizendo que eu precisava ficar ligada no jogo e tal, e outras merdas em que nem prestei atenção. Ela esqueceu que eu herdei da minha mãe seu sangue italiano, quente, e não me calei, e a mandei deixar de ser idiota, lembrando-a que era só a merda de um jogo. Ela me chamou de bostinha.

      Só não nos pegamos porque a turma do deixa disso interveio. Emputecida, saí apressadamente em direção ao chuveiro pra tomar um banho de água fria, e nesse momento, bati numa pequena, mas forte parede de concreto em forma de garoto.

      O Dante.

      Simplesmente o garoto mais gato do nono ano, dono de um par de olhos verdes claros, cabelos escuros caídos nos olhos e rosto anguloso. Todas as meninas suspiravam quando ele chegava de manhã de carona na Mercedes importada do pai, que era desembargador, e ele era tão atraente que podia ser modelo. Mesmo que usasse trapos ao invés dos jeans justos e das camisetas coladas no corpo, pareceria bonito.

      Ao me olhar, a expressão dele passou instantaneamente do choque para a raiva.

      — Olha por onde anda, garota — ele me segurou pelos ombros e me tirou para o lado.

Instinto PrimitivoOnde histórias criam vida. Descubra agora