Capítulo 2

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      Sorrio satisfeita. Digito ok e combinamos o horário da minha chegada em seu apartamento.

      Fico pelada em frente ao espelho, admirando as tatuagens nos meus braços, me sentindo super bem com meu corpo. Minha boca é ligeiramente carnudinha e meu nariz, arrebitado. E meço 1,80 de altura. Meus braços e pernas são mais compridos que meu tronco, tenho seios pequenos e curvas discretas, quase andróginas.

      Ofereço à garota loura e nua diante de mim um sorriso adorável, apalpo meus seios de mamilos rosados com piercings. Me sinto hipnotizada por minha própria beleza. Como se um instinto muito mais forte do que eu me dominasse, ponho um indicador na minha vagina, começando a estimulá-la.

      — O que vou vestir pra te deixar louco, Dmitri?

      Quando meu indicador fica úmido com meus sucos, dou uma volta e ando até o armário. No meio de collants de balé, calcinhas, tangas e botas, encontro um microvestido preto e justo.

      — É perfeito.

      Escolho um fio dental preto de bolinhas tailandesas brancas, e para incrementar meu look, calço um par de botas de cano alto. Me olho no espelho, feliz com minha transformação de garota de olhar puro para uma mulher fatal.

      Penteio os cabelos, deixando-os soltos. Fecho a porta atrás de mim depois de borrifar um pouco de perfume no meu pescoço e pulsos.

      Os olhares das pessoas que saem do supermercado se direcionam a mim logo que saio, e isso me incomoda bastante. Não posso julgá-las. Russos não vêem com bons olhos garotas com tatuagens e com as coxas à mostra.

      Para evitar comentários, desço a escada e ando apressada até um ponto da Ulitsa Makovskova em que não há tanta gente. Fico de braços cruzados aguardando a chegada do carro de aplicativo, em frente à uma academia de musculação. Não demora cinco minutos e ele aparece. O motorista é um homem de olhar duro, de uns quarenta anos. Seu cenho se franze quando repara nas minhas roupas.

      — Dôbrey vyétchier — ele me saúda com uma cordialidade gelada, bem russa.

      — Dôbrey vyétchier retribuo sem sorrir, me sentando no banco traseiro.

      Não conversamos nada durante o percurso. Me limito a checar mensagens no meu iPhone, tentando ignorar a existência do homem à minha frente. Mas acabo flagrando-o olhando para mim pelo retrovisor. Por eu estar usando um micro vestido, os olhos dele mostram intenções perversas à minha vagina rosada, à mostra, engolindo as bolinhas brancas da minha calcinha.

      Mordo o lábio inferior, sorrindo com malícia. Ele percebe que o peguei olhando para meu sexo e passa a olhar para frente.

      Desço na Estação Volochaevskaya, atravesso a catraca após passar o cartão de embarque no leitor. Há mais pessoas do que eu imaginava, o que me torna um alvo fácil. Na última semana, um homem passou a mão na minha bunda. As coisas terminaram mal pra ele, já que reagi com um soco. Ninguém toca em mim se eu não deixar.

      Como não há um assento livre no trem, tenho que viajar em pé. Mas a viagem é curta, não durando mais que alguns minutos. Sem olhar pra ninguém e segurando a alça da minha bolsa no ombro, subo pela escada rolante e deixo a Estação Sibirskaya.

      Caminho em direção a um conjunto de prédios envidraçados.

      — Estou sendo aguardada por Dmitri Aleksandrovitch Pavlyuchenko — informo ao porteiro do prédio diante do qual estou parada.

      — Aguarde um minuto — ele ordena.

      Caminho graciosamente por um corredor, paro diante de uma porta cor de mogno com o número 57. Dmitri a abre logo após meu primeiro toque na campainha, e ao vê-lo à minha frente, me pergunto se vou dar conta desse.

Instinto PrimitivoOnde histórias criam vida. Descubra agora