Prólogo

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Gradara, Comuna na Italia, 1839.

Katherine

O vento se chocava contra meu rosto, lançando meus longos cabelos negros para trás conforme eu contornava as árvores correndo o mais rápido que eu conseguia.

Ouvi os passos ligeiros se ecoando por todos os lados, como se fossem dezenas deles.

Meu peito queimava, assim como as lágrimas que escorriam silenciosamente, sendo arrastadas para os lados conforme eu cortava a brisa suave de outono.

Quando o bosque chegou ao fim e um lindo campo de trigo se abriu, arrisquei olhar para os lados, e o vi, Benjamin a poucos metros correndo como se nossas vidas dependesse disso.

E dependia.

—Katherine!

O grito autoritário carregado de ódio veio logo atrás de mim, era Hector, meu irmão, que estava a poucos metros de me alcançar, senti o desespero tomar conta de mim ainda mais. Avistei o cais ao longe, onde o barco ancorado esperava por nós.

Senti um sentelho de esperança, quis sorrir, iríamos conseguir, se minhas pernas que queimavam feito brasa não me traissem.

Mas tudo acabou, a esperança abandonou meu corpo em um único solavanco quando de relance vi Benjamin ser alcançado.

Vi a faca perfurando suas costas e os dois caindo entre o trigo sumindo da minha visão.

—Não!

Eu gritei sentindo meu corpo fraquejar, permitindo que meu irmão me alcançasse jogando seu corpo bruscamente sobre o meu.

—Não!

Gritei mais uma vez debatendo meu corpo, tentando me libertar de firmes mãos que me seguravam.

Chorei, com a voz falha e olhos turvos inundados por lágrimas senti meu coração se estilhaçar quando Hector me jogou nos ombros enquanto eu já não tinha mais forças para lutar e começou a fazer o caminho de volta de onde fugi. Vi o rastro de sangue rodear o corpo sem vida de Benjamin, sendo deixado ali, cada vez mais distante.

Alguns dizem que em vida podemos nós apaixonar diversas vezes, que nosso coração pode pertencer a muitas pessoas até a escolhida aparecer, mas eu tinha certeza que meu coração só pertencia a ele, e apenas a ele. Mesmo no meu leito de morte eu saberia que ele estaria no meu último pensamento.

E foi por isso que enquanto as lágrimas borraram a minha visão, enquanto eu o via de relance entre a neblina e o horizonte, eu prometi a morte que eu iria o encontrar, em todas as minhas vidas até a eternidade.

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