D O I S

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Ethan

Pousei as malas no quarto de hóspedes que uma gentil senhora me apontou como nosso, meu e de Nicole,  pelo período em que estivermos aqui.

Segui calado e obediente como estava fazendo nos dois últimos meses. Desde que meu pai me encontrou em meio aos containeres com carga para a Argentina. Eu já estava o evitando fazia alguns dias, quando percebi que o dia havia chegado e ele havia encontrado uma noiva para mim.

Minha única exigência era que, antes de subir ao altar, eu pudesse passar um tempo com ela, conhecê-la, e pouco tempo me foi dado, mas talvez tenha sido o suficiente,  Nicole era ótima, linda e cativante, não tínhamos muitas conversas profundas e eu não a classificaria em um nível tão alto de inteligência, mas isso não era tudo, e eu sabia que, conforme o tempo ia passar, nos daríamos bem.

Então, após uma curta lua de mel antes do casamento, me senti mais tranquilo em cumprir meu dever. Apesar de ser contra a esse tipo de prática lucrativa de casamento nos tempos atuais.

Mas não tinha muita coisa que eu pudesse fazer. Josh, meu melhor amigo chegaria em dois dias e tornaria tudo ainda mais fácil.

Por enquanto, eu apenas assentia concordando com todas as ordens que me eram dadas. Data do casamento, local da cerimônia, as escolhas de decoração e buffet da festa, que terno usar, e muitas outras coisas, a real é que eu não estava me importando com nada disso.

Eu tinha algo bem maior ocupando toda a minha cabeça.

E quando me aproximei da sacada do quarto para observar o mar eu notei, pela primeira vez desde que chegamos, o farol. A enorme torre cinza distante o suficiente para não parecer tão assustadora, mas perto o suficiente para me causar um certo arrepio.

Por que aquela torre, aquele farol, me era tão familiar, eu já o vi antes, em pesadelos recorrentes nos poucos momentos em que consigo fechar meus olhos e pegar no sono.

A insônia tem se intensificado.

Sempre tive problemas para dormir, desde pequeno, nenhum diagnóstico era concreto, nenhum tratamento eficiente.

Aprendi a lidar com isso conforme os anos foram passando, mas os pesadelos, eles vieram a cerca de 2 anos e nunca mais se foram.

Neles, eu não estava em meu corpo, era outra pessoa, corria pela minha vida, vislumbrava a silhueta e cabelos negros a uma certa distância de mim, correndo com o mesmo desespero.

No horizonte, um farol escondia o sol que estava começando a se pôr, eu o olhava e sentia quase um alívio, mas então me lembrava de quem eu estava correndo.

Atrás de mim, um homem, gritava coisas inaudíveis, se aproximava cada vez mais até me alcançar, e quando isso acontecia ele me matava.

Todas. As. Vezes.

E então eu acordo, com os batimentos acelerados, falta de ar, como se eu tivesse acabado de parar de correr. Assim como em meu sonho.

Olhando para esse farol, tão semelhante aos de meus pesadelos sinto um aperto em meu peito. O estranho aperto que senti no momento em que entrei nessa casa.

Notei, no quarto ao lado, que Miranda, mãe de Nicole, havia saído a sacada, assim como eu, mas não me notou, sua atenção estava voltada para o jardim. Ali, Nathan conversava com uma mulher, uma empregada pelas roupas que usa, e isso parece incomodar Miranda.

Não consigo vê-los direito de longe, mas notei um certo caos exalar de Nathan assim que o encontramos no aeroporto algumas horas atrás, ele parecia propositalmente rebelde, como se sentisse a necessidade de ser assim para contrariar a família.

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