Victória
A essa altura eu já estava no automático, já havia desistido do dia e só queria que ele acabasse, não queria saber quais seriam as consequências dos meus erros na sala de jantar, então, fui direto para o quarto.
Mamãe estava encolhida em minha cama observando o mar pela janela, a lua era a única fonte de luz.
Tirei os sapatos e caminhei devagar até ela, me sentando ao seu lado, olhei para fora, onde as ondas se quebravam nas rochas da margem montanhesca que há perto do deck, e para o farol que rodava sua luz lentamente.
—Não fui ao jardim hoje– ela contou.
—Eu sei– toquei seus cabelos os alinhando– sinto muito por isso. As coisas por aqui vão ficar um pouco agitadas por um tempo.
Ela suspirou.
—Seu pai não me deixa procurar nada. Seu pai não gosta que eu esteja nas flores– ela disse e pude notar um certo tom de raiva.
Minha mãe tinha o costume de falar sobre meu pai como se ele ainda vivesse, isso acontecia vez ou outra, sobretudo quando ela estava abalada por algum motivo que não fosse a morte dele em si.
Aprendi a não questiona-la com o tempo.
Mas notei algo de diferente em suas palavras e isso me fez desviar o olhar do farol para encara-la.
—Procurar? O que a senhora está procurando?
—Ele deixou lá, é, ele disse que deixou, Richard disse que estava lá em algum lugar– respondeu abrindo um sorriso do qual eu tinha medo sempre que surgia– eu preciso procurar, preciso encontrar.
—O que você precisa encontrar?
—Richard?– ela olhou para trás, para o quarto escuro como se tivesse escutado papai entrar no quarto, mas não havia ninguém, nada que pudesse ter chamado a atenção dela.
—Está tudo bem mamãe– desisti e a acalmei.
—Não me deixaram ir até o jardim– repetiu ela, dessa vez seu tom era de pura tristeza.
—Você irá em breve– falei torcendo para que fosse verdade.
Mamãe então apoiou o braço na janela e depois o queixo sobre o braço apoiado, e voltou a observar o mar.
Sinto saudades dela, de como ela era, sã e saudável, feliz e esperta. Ainda me lembro dos dias felizes, cheios de paz e alegria, cheio de vida.
(...)
Meus batimentos já estavam acelerados o suficiente quando decidi parar para recuperar o fôlego. O sol havia nascido não fazia muito tempo e talvez esse seja os momentos mais tranquilos do meu dia nas próximas duas semanas.
O momento da minha corrida matinal.
Resolvi parar um pouco, a mansão já estava tão longe que agora não passava de um ponto branco no horizonte.
Me sentei na areia e inalei a maresia fechando os olhos, eu amava aquele lugar. E definitivamente sentiria falta quando finalmente conseguisse ir embora.
Observei com atenção a água se aproximar dos meus pés esticados e depois recuar sem antes toca-los.
Quando decidi que já estava na hora de me levantar e dar meia volta me levantei passando as mãos na bunda para me livrar da areia quando senti algo relativamente grande e duro preso ali.
Gritei, não tinha coragem de olhar, e agora de pé notei que o tecido fino do shorts estava mais pesado em certo ponto.
—Ah meu Deus, meu Deus – choraminguei me sentindo cada vez mais nervosa, respirei fundo– calma Victória, se acalma.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Torre de Cinzas
RomanceVictoria Castille é uma das empregadas oficiais da mansão de uma das famílias mais poderosas de Miami Beach, os Lancasters. Com a mãe em estado de insanidade mental desde a morte de seu pai ela precisa se esforçar muito para sobreviverem, e ser invi...