T R Ê S

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Victória

Mais um ataque de nervos no mesmo dia já era demais pra mim. Quando vi ele, o noivo, me observando como se estivesse enxergando minha alma e meus mais profundos pensamentos, senti como se o chão fosse sumir debaixo dos meus pés em qualquer momento.

Ele estava bem ali, na minha frente a poucos metros de distância.

Devo ter parecido uma tola para ele.

Novamente me vi parada em frente ao espelho do banheiro encarando meu reflexo, o que eu via não era eu de repente, além dos cabelos negros ondulados, a mulher que me encarava de volta não se parecia nada comigo.

Fiquei paralisada, era impossível me mexer, a observei com atenção.

Ela tinha os olhos marejados, o nariz avermelhado como se tivesse chorado as últimas horas sem parar. Ela lavou o rosto, não parecia me ver como eu a via, ela não olhava diretamente para mim ou para o próprio reflexo, era estranho.

Devo estar alucinando, é um dia estranho desde o momento em que levantei pela manhã.

Duas batidinhas na porta transformou a imagem da mulher em fumaça sendo levada para longe e novamente eu estava ali, no espelho.

Nancy colocou a cabeça para dentro do banheiro, havia esquecido a porta entreaberta, ela me encarou preocupada.

—Está bem querida?– perguntou.

—Eu não sei...– comecei a dizer, mas achei melhor me calar, não queria parecer louca com relatos bizarros– Sim, um pouco cansada só.

—Se precisar tirar o restante do dia podemos dar conta– ofereceu- afinal, as coisas vão começar a ficar corridas realmente daqui alguns dias quando as pessoas começarem a chegar.

—Não, tá tudo bem Nancy, obrigada – ajeitei meu avental e então subitamente me lembrei de algo importante – minha mãe, você a viu?

—Miranda ordenou que a deixassem longe do jardim para a chegada do noivo hoje, achei que ela tivesse ido para o quarto, mas Melinda comentou algo sobre ela estar na praia.

—Eles acham que ela é uma aberração– comentei tentando esconder minha raiva.

—Eles não acham isso – Nancy negou com a cabeça– sua mãe foi uma grande mulher principalmente para essa família, ela só está tendo um momento difícil agora.

—Já fazem 15 anos.

—Ainda assim, ela precisa estar somente com ela mesma, a mulher que conheci, lúcida e cheia de vida está dentro dessa mulher que conhecemos agora, está tentando sair, eu vejo a evolução dela dia após dia, você não?

Pensei no assunto, não falei nada.

—Querida, precisa parar de se preocupar tanto com sua mãe e pensar em viver um pouco também– sugeriu afagando meu ombro, ela havia se aproximado e eu nem notara– o médico disse que é uma condição passageira, em algum momento ela voltará para nós.

—Não é certeza – lamentei.

—Então vamos ter fé para que aconteça.

(...)

Nicole havia voltado do passeio casamenteiro um pouco antes do jantar, e com ela, alguns profissionais de decoração e cerimonial.

Estavam medindo, calculando, montando projetos e ideias para o grande dia, no ritmo em que estavam até parecia que o casamento ia acontecer na manhã do dia seguinte.

Ver tantas pessoas, homens e mulheres andando de um lado para o outro só me deu uma prévia da loucura que vai ser esse evento.

Paola, a cozinheira, havia me pedido para levar um café da tarde (bem tardio para o horário) até o quarto de Nicole, a pedido dela, pois não iria comparecer ao jantar, estava cheia de coisas para decidir e não queria perder tempo.

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