Brasa se acomodou em um dos bancos de madeira. Serpentinas haviam sido espalhadas pelas árvores e postes de luz, colorindo o pátio. Era uma festa organizada por alunos apenas para os jovens da escola, então ele já esperava que não haveria tanta comida como geralmente estava acostumado em festas. Alguns pratos eram até convidativos, mas era provável que causassem uma intoxicação, e era a última coisa que precisava. Das árvores, pendiam fitas com flores falsas, e feixes de luz arco-íris, vindos das lâmpadas, formavam padrões na calçada. Ele não entendeu como o fenômeno acontecia, mas também não estava interessado em magia. Do canto, música tocava, em um ritmo que lembrava valsa, saindo de uma enorme caixa preta.
Às vezes, humanos se pareciam demais com monstros.
Alguns alunos conversavam perto dos pilares que sustentavam o primeiro andar, alguns estavam até dentro da cantina, entediados com os retângulos brilhantes. Havia alguns casais dançando ao som da música, mantendo olhares firmes e cheios de paixão. Brasa ficou ali, retendo toda a informação possível. Observava humanos de longe, já que eles haviam aprendido à ignorá-lo. Gostavam de deixar claro que ele era diferente, e realmente era. Alguns comentavam sobre sua força sobre-humana, velocidade sobre-humana, ele era, para eles, a definição de sobre-humano.
Amedrontador, do modo que deveria ser. Como fora criado para ser.
Na verdade, depois de tanto tempo convivendo com eles, parecia que isso quase não importava mais. Havia crescido com várias crenças negativas sobre a espécie, mas eles pareciam... normais.
Era só não contar isso para o pai.
Havia pedido para seu tio ajudá-lo a mascarar suas características de monstro. Agora tinha orelhas redondas-as marcas de mordida na orelha direita eram irreparáveis, sardas escuras no lugar de suas manchas no rosto, e seus olhos estavam um pouco mais escuros, puxando para o marrom. Ele havia escolhido uma máscara dourada, com relevos de ramos incrustados de folhinhas redondas ao lado dos olhos e lanças que apontavam para suas pupilas. Quatro caracóis, dois vindo da testa e dois do nariz davam um toque prateado à máscara. Usava um colete vermelho com listras douradas, que formava desenhos de losangos debaixo do paletó preto, apenas jogado em cima dos ombros, calça social cinza e sapatos sociais pretos.
Um humano chegou ao lado de Brasa. Outro rosto vagamente conhecido, como era o da maioria dos alunos.
-Ei! A noite está bem fresca, não?
Um humano se aventurando a conversar com ele. Que incomum.
-É comum nesta época do ano- Iria acrescentar mais informações, mas derrubaria seu disfarce de aluno da UCNAM.
-Você fala como se já conhecesse o lugar, mas nunca te vi por aqui. Nem parece aluno novo.
Brasa ficou quieto. Desse jeito, seria difícil manter um disfarce.
-Você trabalha aqui, por acaso?
Agora estava menos tenso. O humano quase havia sido sua ruína, mas apresentou uma solução.
-Sim, é isso mesmo.
Um sorriso espontâneo apareceu no rosto dele.
-Como conseguiu que te chamassem para a festa? Pensei que era só para alunos.
Droga, não pensei em nada direito, refletiu enquanto sentia o sangue correr nas bochechas. Não saber muito da cultura humana não ajudava.
-Eu, eh...
-Deixa eu adivinhar, foi uma menina que te convidou, né?
Brasa franziu o cenho. Mas o garoto continuou falando, dessa vez da vida amorosa de pessoas que ele não conhecia, um assunto que parecia empolgá-lo, mas não empolgava Brasa nem um pouco.
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Kely e o Fantasma
FantasyKely é aluna da UCNAM, uma escola de prestígio que, com sua própria metodologia, prepara os alunos para a vida em sociedade, ensinando as matérias básicas, e proporcionando outras experiências que agregam à vida do aluno, como produção de textos, bá...