15 - Que Comecem os Jogos

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Os jovens olharam um para o outro, perdidos, e quando as mulheres baixaram o pano, perceberam-se atrás de um ginásio. A diferença da construção com os estádios do mundo humano eram mínimas, mas ainda não havia muito o que ela pudesse avaliar, além de tijolos de pedra verde que eram um pouco mais da metade de seu tamanho, unidos por algo que não era concreto. Meiski fez um sinal para os dois saírem da caixa, e os dois saíram, com os traseiros doendo e com dificuldade de se mexer.

— Ok, campeões — Meiski voltou a falar— Querem fazer um lanche antes do jogo? Ainda dá tempo.

Os dois trocaram olhares. Kely se perguntava se havia algo naquele local que pudessem consumir.

— Eles têm sorvete — Meiski respondeu, como se ouvisse os pensamentos da garota.

— Sorvete! — disseram os dois adolescentes em uníssono.

O quarteto saiu de trás do ginásio, deixando o pano e o caixote ali mesmo. Kely e Jonathan ficaram encantados com o que viram à frente. Era como o centro de uma cidade pequena, com lojas, prédios, tudo era bastante familiar, mas as construções pareciam ter sido trazidas de um tempo distante, algumas das casas e lojas unidas como se fossem uma coisa só e outras deixando pouco espaço entre elas. As cores dos tijolinhos que davam forma à casa variavam de construção para construção, algumas variando em mais de uma cor. Era como olhar uma foto de uma cidade colonial, mas ao invés de preto e branco enxergar uma enxurrada de cores. Debaixo dos pés, ela sentia a irregularidade da rua formada por tijolos de pedra. O calçamento era ignorado pelos pedestres, o que motivou um motorista de uma carroça com animais de tração vociferar de raiva. Ele quase passou por cima de um canteiro de flores que Kely nunca tinha visto na vida, que dividia as duas vias da rua.

Na verdade, a visão trouxe mais perguntas a Kely. Humanos, monstros e gente morcego habitando o mesmo espaço, todos conversando normalmente, numa cidade arco-íris, em uma língua que Kely não reconhecia, não era a visão que ela esperava. Aquilo passava dos limites do que considerava familiar, e do que havia entendido sobre aquelas espécies até então. Lembrou-se de ver a UCNAM de longe, quando atravessaram por cima do rio.

Pararam em uma lanchonete pequena, de tijolos brancos, que atendia os clientes na calçada. Parecia vazia, até Meiski tocar a campainha. Ouvia-se o barulho de patas pesadas se aproximando. Um lobo apareceu para atendê-los, e começou a falar naquela língua desconhecida. As duas mulheres falavam com ele como se fossem velhos amigos, e entendiam a língua. Em certo momento, as duas fizeram seus pedidos e o lobo falou com os dois humanos.

— Não vão fazer seus pedidos? É falta de educação deixar os outros esperando — repreendeu a mulher morcego.

— Não entendemos o que ele fala — respondeu Jonathan, em um tom seco. Ele foi mais rápido do que Kely.

— Caramba! Verdade né? Esqueci desse detalhe completamente! Chik, dá seu colar pra eles.

As duas tiraram os colares que carregavam, e suas palavras se tornaram irreconhecíveis. Kely já tinha ouvido falar desses colares. Amuletos de Tradução. Continham uma pedra que tornavam qualquer língua reconhecível. Aqueles colares eram uma prova da existência de um acordo entre Marcus e os povos que viviam por ali. Talvez não estivessem tão longe da UCNAM quanto Kely pensava. Meiski parecia ter aproveitado para fazer uma piada, e os três desataram a rir. Kely não sabia sobre o que falavam, e levou para o pessoal. As duas mulheres entregaram o colar para eles.

A garota colocou mais um colar. Ela sentiu mais um peso em volta de seu pescoço. Meiski tomou um longo gole da bebida que estava tomando.

— Enfim, agora que podemos nos entender, prazer, meu nome é Lobo.

Kely e o FantasmaOnde histórias criam vida. Descubra agora