Desejos

144 14 31
                                        

Nanami estava em uma missão na qual a maldição a ser exorcizada era do tipo que ficava se multiplicando. Pareciam formigas do tamanho de ratos que quanto mais ele matava, mais apareciam. Era um galpão escuro, o que dificultava encontrar a matriz para que pudesse dar fim às demais. Em meio ao processo de concentração do feiticeiro, seu celular tocava insistentemente.

— Alô?

— Dava pra você passar na padaria antes de vir pra casa pra comprar croissant recheado de queijo brie?

— Comigo está tudo bem, obrigado por perguntar. — disse enquanto usava sua espada cega para exterminar as maldições. — Até dava, mas estou meio ocupado no momento. Não sei se vou encontrar padaria aberta quando terminar. Não dava pra você pedir pra entregar aí?

— Você acha que eu não pensei nisso? Nesse horário não achei mais padaria fazendo entrega.

— A baguete que eu levei ontem não serve pra matar sua vontade não?

— Seu filho vai nascer com cara de croissant, estou só avisando...

— Já entendi. Vou ver o que posso fazer aqui.

Agora sim ele podia dizer tinha um problema real. Acabar com maldições era coisa fácil em comparação a morar com uma mulher grávida e manhosa, se bem que, pelo que ele tinha visto nos livros sobre paternidade, as palavras "grávida" e "manhosa" poderiam ser quase sinônimos. Lembrou de seu pai explicando que um homem era apenas um menino se não tivesse uma mulher que testasse sua paciência lhe esperando em casa, mas talvez isso fosse até um incentivo para trabalhar de maneira mais eficiente.

Examinou o cenário da sua missão e percebeu que havia uma espécie de sótão no galpão de onde saíam mais dos seres amaldiçoados. Nanami rapidamente subiu as escadas e encontrou o ninho, usando sua espada rapidamente para exterminar o núcleo da criatura. O lugar tinha teto relativamente baixo e, na pressa para sair, acabou batendo a cabeça com força, abrindo o supercílio numa ferida que jorrava sangue. Xingou mentalmente e ignorou a dor aguda, ia resolver isso depois que passasse na padaria.

~ Casa da Mei Mei ~

A feiticeira de cabelos prateados se perguntava como era possível a pessoa passar tão mal e ainda assim ter vontade de comer. Entretanto, não era vontade de comer qualquer coisa, apenas o croissant com queijo brie ia lhe satisfazer. A experiência da gravidez estava tornando-a mais humana, pensou, sempre achou que desejos de uma mulher nessa situação fossem apenas caprichos ou uma crendice popular. Agora sua empatia estava se desenvolvendo: nenhuma grávida merecia passar vontade. "Malditos hormônios..."

Estava deitada em seu quarto descansando enquanto esperava Nanami voltar da missão. Será que era tão difícil encontrar uma padaria aberta essa hora? Ouviu o barulho da chave na porta e suspirou aliviada;

— É, bebê, "daddy is home", ainda bem. Ou você ia nascer com cara de croissant.

Foi ao encontro do loiro na cozinha e percebeu que seu rosto estava ensanguentado. Ela se surpreendeu, ele quase sempre voltava sem nem mesmo um arranhão.

— O que aconteceu com você? A maldição fez esse estrago?

— Na verdade foi um acidente por conta da pressa pra achar uma padaria aberta, mas eu vou sobreviver.

— Espera que eu vou buscar algo pra limpar e cobrir o ferimento.

— Não precisa...

— Claro que precisa, você me fez um favor e eu quero retribuir.

Mei Mei foi até o armário do banheiro buscar algodão e remédios para tratar do ferimento do pai do seu filho. Voltou para a sala onde encontrou o loiro sentado no sofá mexendo no celular.

Parceria ParentalOnde histórias criam vida. Descubra agora