Efeitos da espera

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— Então, aqui já conseguimos ver o rostinho da Erika...– disse a médica.

— Acha que parece mais com você ou comigo?

— Olha, pra mim não parece com ninguém. Tem cara de bebê comum.

— Você acabou de destruir as minhas ilusões de pai de primeira viagem.

— Certo, da próxima vez vou ficar quieta.

Ultrassom de seis meses de gestação, um pai ansioso e uma mãe levemente impaciente. Mas ambos muito felizes por conseguirem ver as formas do seu bebê. A médica chamou a atenção dos dois:

— Vamos ouvir agora o coração dessa menininha.

Ouviu-se as batidas daquele pequeno órgão em formação e os olhos de Nanami se inundaram de lágrimas. Um de seus maiores sonhos era ter uma família, mas não pretendia nem se casar enquanto ainda fosse feiticeiro Jujutsu. O destino, entretanto, tinha outros planos e, surpreendentemente, ele estava até satisfeito com a situação.

— Engole o choro, Kento... — diz Mei Mei segurando a mão dele.

— Deixa eu me emocionar em paz, alguém aqui tem que fazer isso. — responde o loiro envolvendo a mão da feiticeira de cabelos prateados. 

— Então, senhor e senhora Nanami, parece que está tudo certo com Erika. Podem ficar tranquilos.

— Ainda bem, todo o nosso cuidado está valendo a pena.

— Esse homem não me deixa fazer nada, doutora! Vou ficar até mal-acostumada depois que ela nascer. 

— Se me permitem dizer, fico muito satisfeita quando os pais vêm juntos para o ultrassom. — sorriu a médica. — Percebo que existe uma relação de parceria mais intensa entre o casal, isso é importante para o desenvolvimento do bebê. Vocês com certeza farão um ótimo trabalho juntos com a criação de Erika, ela será um bebê muito feliz.

Mei Mei e Nanami, que ainda estavam com as mãos unidas, se entreolharam um tanto quanto constrangidos. Talvez a atuação como casal grávido e feliz estivesse indo longe demais.

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— Sabe, tinha muito tempo que eu não me sentia assim tão feliz, apesar de não ter conseguido chorar como você. — comentou Mei Mei. A gravidez deixava-a mais bonita até, ela exalava vitalidade mesmo com aquelas roupas em tons escuros que ela insistia em usar.

— Se você diz, eu acredito. Estou contente demais também. — feiticeiro sorri. 

— Então vamos aproveitar essa felicidade toda e parar pra comprar um brioche?

— Juro que não sei como você não engorda comendo tanto pão, Mei.

— Sou uma pessoa privilegiada que não tem tendência a ganhar peso, ok? — Mei Mei sentiu o celular vibrar na bolsa e pegou o aparelho. — Ai, meu irmão resolveu me ligar justo agora...

— Olha, tem uma padaria que eu adoro logo ali. Posso entrar pra comprar os brioches e você atende Ui Ui do lado de fora, tudo bem?

Nanami entrou na padaria e lembrou do que havia acontecido naquele lugar. Olhava para as prateleiras do estabelecimento enquanto dirigia-se para pegar os brioches e recordou-se de que foi lá onde havia ajudado uma moça a se livrar de uma pequena maldição alojada no seu ombro. Aquele episódio o fez voltar a ser um feiticeiro Jujutsu para concretizar o propósito de ajudar mais pessoas e fazer a diferença no mundo com o seu trabalho. Era até curioso o fato de voltar lá tanto tempo depois, mas dessa vez por conta da vontade da mulher que daria a luz ao seu melhor propósito: sua filha Erika.

— Com licença, senhor, posso ajudá-lo?

Ele virou-se e reconheceu a moça da qual havia tirado a maldição. Ela pareceu reconhecê-lo também e sorriu.

— Ah, eu me lembro do senhor! Me disse uma vez que costumava vir bastante aqui porque gostava do pão que vendemos. Não sei se lembra de mim, o senhor me deu alguma ajuda para aliviar uma dor no meu ombro.

— Lembro sim, como vai? Está bem de saúde ou voltou a ter dores?

— Estou ótima, obrigada por perguntar! O senhor também parece muito melhor, sabe? Está com um aspecto mais saudável, uma expressão mais leve.

— É mesmo? Bem, eu agradeço a observação gentil. — Nanami parecia levemente envergonhado com aquele elogio. Não tinha o costume de ouvir aquele tipo de comentário.

— Senti falta do senhor, nunca mais apareceu...

— É que mudei de ramo profissional e estou focado em novos projetos pessoais. Então meus intinerários mudaram também. 

— Ah, fico feliz que essas mudanças estejam fazendo bem ao senhor. Volte quando quiser, ficarei muito satisfeita em atendê-lo. A propósito, me chamo Tohru Hino.

— Quem é essa aí, Kento?? Vocês parecem ter muito assunto acumulado, foi esse o motivo da demora???

Nanami ficou sem ação, nunca tinha visto Mei Mei tão ríspida. Como já tinha entendido que era melhor não contrariar a gestante, sentiu que era melhor pagar a compra e ir embora de uma vez. "Ah os hormônios..."

— Hino-san, essa é Mei Mei, minha esposa...

— ... que está grávida e muito impaciente para levar o brioche e voltar pra casa. — completou Mei de uma maneira bem irritadiça para os seus padrões.

O loiro corou até a raiz dos cabelos. Era o tipo da cena que, se alguém lhe contasse há um ano atrás, ele não acreditaria. Mas estava acontecendo: Mei Mei, uma das feiticeiras mais poderosas e calculistas da sociedade Jujutsu, estava esperando uma filha dele e quase fazendo um escândalo na padaria, provavelmente por ciúmes. E mais: pela expressão no rosto dela, se estivesse com seu machado amaldiçoado era capaz de atacar a funcionária.

— Oh, fico muito feliz por vocês! Aqui está, incluí mais três brioches de cortesia, um para cada membro da família. Desejo tudo de melhor e muita saúde para o bebê! — disse a moça sorrindo.

— Agradeço, Hino-san. Muito atencioso da sua parte.

— Muito. Vamos, anata? — a feiticeira estava impaciente. 

— Claro, vamos sim. Até logo, Hino-san. E nos desculpe por qualquer transtorno.

Os feiticeiros se retiraram da padaria, Nanami praticamente encaminhando Mei Mei até a saída do estabelecimento com um leve toque na cintura.

— O que foi aquilo? - perguntou o loiro assim que se afastaram do local. 

— Aquela mulher estava dando em cima de você, um homem casado. — Mei Mei se expressava de forma bastante irritadiça, estava até pisando mais firme no chão. 

— Não fale isso de Hino-san. Ela foi até simpática, nos deu três brioches extras de cortesia. E ela não tinha como saber, afinal nós nem usamos aliança.

— É, eu sei qual é o motivo da simpatia dela... E você é casado com ou sem aliança no dedo. Espero que não volte mais lá.

— Mas o pão do lugar é ótimo...

— Devem ter melhores. Naquela padaria você não volta mais.

Secretamente, Nanami ficou satisfeito com aquela reação de Mei Mei. Alguma coisa ela deveria sentir por ele, a relação dos dois não podia se resumir a um projeto de parceria parental e, com bastante frequência, sexo. Mas perdoaria o chilique de qualquer forma, afinal a culpa era dos hormônios.

Notas:

- Vocês acharam que a moça da padaria não ia aparecer? Olha ela aí!

- Quem pegar a referência da cena de ciúmes, pegou. Quem não pegou pesquisa aí "quem é essa aí?" e me diz o que encontrou 😁

- "Anata" é um termo que as japonesas usam para se referir aos maridos. É tipo "querido" ou "meu bem". 

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