Saímos a todo vapor do reino de copas, o chapeleiro pilotava a carruagem rapidamente. Os tweedles conversavam, a ratinha se aninhava em um dos chapéus enquanto eu e a Hedy nos encaravamos.
Senti a carruagem voar levemente e depois voltar ao chão.
- Perdão! - gritou o chapeleiro - Estamos no vale Xadriov, a algumas milhas do reino branco.
- Obrigado Chapeleiro. - retribuiu Hedy
- De nada querida.
A ratinha pulou no meu cabelo e seguiu para janelinha para ficar perto do chapeleiro.
- Não confio muito nesse "Kingsleigh" - sussurrou a ratinha
- Precisamos confiar. - respondeu o chapeleiro - Eu sinto que ele veio para algo grandioso, assim como a minha querida Alice.
Como assim "minha querida Alice"?. Depois de longas horas de viagem, estávamos finalmente vendo o reino branco do alto da colina.
O vento gelado soprava pelas janelas da carruagem enquanto o céu começava a tomar tons de cinza. A estrada estreita cortava o vale como um corredor tortuoso, e os passos pesados do exército da Rainha de Copas se aproximavam a cada segundo. Eu podia ouvir o som de tambores ao longe, acompanhado pelo trotar incansável dos cavalos de guerra e pelas armas afiadas dos soldados.
- Eles estão cada vez mais perto! - sussurrou Hedy, os olhos fixos no horizonte
- Espera, você sabia que eles iriam nos perseguir? - sussurrei desesperado
- Você sabe a peça que é minha mãe. Não precisa nem conhecer ela direito pra saber que ela não desiste nunca.
Antes que eu pudesse responder, o Chapeleiro puxou as rédeas com força, fazendo a carruagem virar uma curva estreita. Por um instante, senti que íamos tombar, mas a habilidade dele nos manteve de pé.
- Segurem-se! - gritou ele. - Estamos quase no Reino Branco! O portal está a algumas milhas!
Mas o exército não desistia. À medida que nos aproximávamos da fronteira, comecei a ver o contorno dos portões brancos reluzindo ao longe, como um santuário em meio ao caos. Contudo, a Rainha de Copas e seus soldados também os tinham avistado, e a perseguição se tornava cada vez mais intensa.
De repente, uma rajada de flechas voou sobre nossas cabeças, algumas se cravando na madeira da carruagem.
- Isso está ficando arriscado! - Tweedle Dum murmurou, agarrando-se ao assento.
- Confie em mim, Tweedle, ainda temos uma chance! - respondeu o Chapeleiro, com um sorriso ligeiramente maníaco.
Eu podia ouvir os gritos dos soldados da Rainha de Copas logo atrás, enquanto tentavam se organizar para nos alcançar.
Aproximamo-nos do território do Reino Branco, havia uma ponte do tamanho exato da carruagem. Parecia que não conseguiríamos atravessá-la a tempo, mas o Chapeleiro estalou a língua para os cavalos, e, com um último esforço, eles dispararam através da ponte. Assim que passamos pela ponte, ela desabou pesadamente, com o exército de Copas preso do lado oposto.
- Isso deve nos dar algum tempo! - exclamou o Chapeleiro, com um brilho de triunfo nos olhos.
Silêncio. Olhavamos o exército parado, desistindo de nos perseguir. Por um momento, tudo parecia em suspenso, e nós trocamos olhares de alívio.
- Foi por pouco... - sussurrei, sentindo meu coração ainda acelerado.
A ratinha pulou do meu cabelo e olhou para o Chapeleiro, com um misto de desconfiança e admiração.
- Ainda não confio em você, mas admito que salvou nossas vidas hoje - ela murmurou.
O Chapeleiro deu uma risada leve e acenou com a cabeça.
- Apenas cumprindo meu papel, querida.
De repente ouvi relinchos pesados e trotados estridentes a todos vapor. Me virei bruscamente e me vi a fera em cima do cavalo. A rainha, com uma cara de psicopatia, pronta para matar qualquer pessoa.
- Desgraçados! - gritara a rainha - Eu vou decepar suas cabeças até ver carmim esvoaçando pelo ar!
Tremi ao ouvir as ameaças, senti algo dentro de mim, Casper novamente tomava o comando da minha mente. Em um impulso sai da carruagem e fui direto ao assento para pilotar a carruagem.
Empurrei o chapeleiro para o lado e tomei o comando.
- Anthony, você sabe dirigir? - perguntou o chapeleiro
- É o que vamos descobrir! - respondi com um sorriso maquiavélico
- Seu idiota, - interrompeu Hedy - se você quer bancar o corajoso tudo bem. Mas nos matar já está fora de cogitação.
- Se você souber pilotar uma carruagem pilote então. A é, você não sabe. - me virei lentamente para ver sua expressão - Você deveria estar no castelo passeando pelo jardim - abri um sorriso debochado
- Como é seu imbecil! - esbravejou ela - Escuta aqui seu marmanjo chorão... - ela estava quase saindo pela janela.
Já era tarde, porque eu já dei a largada e começamos a trotar. A carruagem esvoava pelo ar em plena velocidade. Éramos como flechas ao vento, os passageiros dentro tremiam e voavam dentro da carruagem por causa dos buracos que passávamos.
Com um solavanco, a carruagem disparou pela estrada irregular, sacolejando violentamente enquanto eu tentava domar as rédeas. A rainha, atrás de nós, acompanhava de perto, seu cavalo negro e poderoso bufando nuvens de vapor. Seus olhos eram brasas de fúria, brilhando como duas tochas enquanto ela levantava uma espada longa e cruel, refletindo a pouca luz que atravessava as árvores retorcidas da floresta.
- Eles estão se aproximando! - gritou o Chapeleiro, tentando manter o equilíbrio enquanto voávamos pelos buracos e saliências da estrada.
Casper estava em total controle, e eu sentia o toque de sua ousadia e loucura correr pelas minhas veias. Puxei as rédeas com força, desviando por uma trilha mais estreita e cheia de obstáculos. As rodas saltaram por pedras e raízes salientes, mas a rainha era implacável. Ela ergueu a espada e brandiu no ar, a lâmina faiscando enquanto fazia círculos ameaçadores.
Hedy, pendurada pela janela, olhava para trás e gritava enquanto o cavalo da rainha ganhava terreno.
- Você vai nos matar, Anthony! - Hedy urrou, segurando-se com todas as forças no encosto de um banco. - Se você sobreviver a isso, eu mesma vou te esganar!
- Relaxa, Hedy! - retruquei com um sorriso de canto. - Só precisamos ganhar tempo para chegar ao Reino Branco.
No horizonte, pude ver a luz cintilante que indicava a fronteira do Reino Branco. O contraste entre o bosque sombrio e a clareira iluminada pela magia do reino era quase surreal. Mas a rainha também viu isso, e seus gritos de ódio ressoaram mais alto que nunca.
- Vocês não vão escapar! - ela bradou. - Eu vou despedaçá-los antes que pisem naquelas terras!
Ouvindo isso, chicoteei as rédeas e a carruagem avançou ainda mais rápido. A velocidade era tamanha que mal conseguíamos nos manter sentados, os passageiros balançavam para todos os lados. De repente, um grande tronco caído bloqueava a estrada. Eu não tinha tempo para parar. Sem pensar duas vezes, segurei firme as rédeas e fiz a carruagem saltar sobre o tronco, aterrissando com força do outro lado. A rainha, forçada a contornar o obstáculo, perdeu alguns preciosos segundos.
- Segurem-se! - eu gritei, enquanto nos lançávamos pelo caminho final até o reino.
Com um último salto, passamos pela fronteira que delimitava o Reino Branco. Assim que cruzamos, uma barreira mágica surgiu atrás de nós, luminosa e impenetrável. A rainha, furiosa, ergueu sua espada e tentou atravessar a barreira, mas foi repelida com um choque de energia. Seus gritos de raiva ecoaram pelo ar, mas ela sabia que não poderia ultrapassar a magia do Reino Branco.
Nós, finalmente seguros, paramos a carruagem. Eu desci do assento, respirando fundo e sentindo o alívio misturado ao cansaço. Hedy e o Chapeleiro também saíram, todos com olhares de exaustão e adrenalina.
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Wonderland: a sucessão de Alice
Short StoryAnthony Kingsleigh é um garoto de 17 anos que ao mesmo tempo que luta pela sua vida, tem que lidar com seus frequentes transtornos de dupla personalidade. Um dia passeando pelo bosque do hospital, cai num buraco de coelho e se depara com Wonderland...