𝐗𝐈𝐈𝐈

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Estava sentada em uma poltrona ao lado da janela da sala, perdida em meus pensamentos. Minha cabeça tem doído muito nos últimos dias e os sonhos que eu tinha, simplesmente pararam de acontecer.

O som rítmico das hélices cortando o ar me traz de volta à realidade, meu olhar segue o helicóptero que passa no céu lá fora.

A luz do sol atravessa a janela, banhando o chão da sala em um brilho pálido e tênue, contrastando com a escuridão crescente que sentia dentro de mim.

Sentada na poltrona, olho para Ran, que, como de costume, estava grudado ao telefone, sua voz baixa e furtiva enquanto ele caminhava pela sala.

Era a enésima vez que ele se afastava para uma conversa particular. Ele sempre me dizia para não me preocupar, que tudo estava sob controle, mas as sombras em seus olhos e a urgência em seu tom de voz me diziam o contrário. E aquele helicóptero.. o que ele estava fazendo ali?

Eu não tinha certeza, mas algo dentro de mim começou a sussurrar que talvez não estivéssemos fugindo apenas da polícia. Talvez houvesse alguém, ou algo, mais perigoso nos perseguindo. A ideia se instalou na minha mente, lançando uma nova camada de incerteza sobre minha já instável percepção da realidade.

Sem que eu percebesse, meus pés me levaram até a prateleira ali perto, procurando um meio de distrair minha mente.

Em cima dos livros , vi uma pequena caixa retangular. Meus dedos acariciaram o papelão da tampa antes de puxá-la para fora. Era uma caixa de quebra-cabeça.

Era como se o objeto me chamasse, um convite silencioso para escapar dos pensamentos turbulentos que rondavam minha mente. Sentei-me no chão da sala e, em um gesto automático, abri a caixa, espalhando as peças sobre o tapete.

Os pedaços coloridos me pareciam estranhamente reconfortantes, como se, ao colocar cada peça em seu lugar, eu pudesse restaurar alguma ordem dentro de mim.

Enquanto mexia nas peças, uma sensação de desconforto começou a se instalar. Não era o desconforto físico que sentia de vez em quando, como se meu corpo estivesse em desacordo com minha mente, mas algo mais profundo. Eu estava diferente do que um dia fui. Isso eu tinha mais do que certeza.

Ran finalmente terminou sua ligação e se aproximou, sentando-se ao meu lado. Ele depositou um beijo em meu pescoço antes de sua mão pousar em minha coxa.

𑁋 Você nunca teve paciência para essas coisas 𑁋 ele comentou, sua voz carregando uma suavidade que eu raramente ouvia.

Havia um sorriso em seus lábios, mas seus olhos, sempre atentos e calculistas, estavam focados nas peças em minhas mãos. Ele parecia intrigado, talvez um pouco preocupado.

𑁋 Talvez eu tenha mudado 𑁋 murmurei, sem desviar o olhar do quebra-cabeça.

Era mais uma afirmação para mim mesma do que uma resposta para ele. Eu sabia que estava diferente, mas ainda não conseguia entender o quanto.

A cada dia, parecia que eu descobria uma nova parte de mim que não encaixava com a imagem que ele tinha, ou com a imagem que eu deveria ter.

Ran ficou em silêncio por um momento, e eu senti seu olhar pesado sobre mim, como se estivesse tentando decifrar o que estava acontecendo dentro da minha cabeça.

O silêncio entre nós se estendeu, carregado de uma tensão que eu não conseguia explicar. Finalmente, ele suspirou e se inclinou para me ajudar a montar o quebra-cabeça, embora eu soubesse que ele não estava realmente interessado nisso.

Ele estava ali por mim, tentando de alguma forma me trazer de volta para a realidade que ele conhecia.

𑁋 Você costumava ser tão impaciente 𑁋 ele disse depois de um tempo, como se estivesse refletindo sobre isso 𑁋 Sempre pulando de uma coisa para outra, sem se apegar a nada por muito tempo. Era uma das coisas que eu mais gostava em você.

𝐀𝐒𝐒𝐈𝐍𝐎 𝐂𝐎𝐌 𝐗; Ran HaitaniOnde histórias criam vida. Descubra agora