𝐗𝐈

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A casa estava silenciosa, quase como se absorvesse todos os sons ao redor, criando um refúgio de tranquilidade.

A quietude era tão densa que eu podia ouvir o ritmo do meu próprio coração, um som surdo que ecoava no vazio. Cada batida parecia ressoar pela casa, que agora, em sua paz inquietante, parecia ser um lugar de exílio.

Eu me movia pelos cômodos com cautela, quase como uma intrusa em minha própria vida. A decoração simples, os quadros nas paredes, os livros nas prateleiras, tudo parecia familiar e ao mesmo tempo totalmente estranho.

A sensação de estar fora de lugar era tão desconcertante que eu quase não conseguia respirar.

Ran estava sentado no sofá da sala, os olhos fixos em mim enquanto eu examinava uma prateleira de livros, esperando que algo despertasse em minha memória apagada.

Sua presença, sempre tão firme e segura, me trazia um conforto estranho, como se ele fosse a âncora que me impedia de ser levada pelas correntes da confusão. Mas ao mesmo tempo, sua postura me deixava inquieta, como se ele estivesse esperando por algo, uma resposta, uma reação, um sinal de que eu estava começando a me lembrar.

𑁋 Você costumava gostar desses 𑁋 ele disse suavemente, segurando um livro em suas mãos.

A capa era gasta, as páginas amareladas pelo tempo, mas algo naquela imagem familiar fez meu coração acelerar. Eu peguei o livro de suas mãos, o peso dele parecendo mais significativo do que deveria.

Era um volume fino, com uma capa que parecia ter sido manuseada muitas vezes. O título não me dizia nada, e ao abrir as páginas, o cheiro de papel antigo encheu o ar, trazendo uma vaga sensação de nostalgia que não consegui identificar.

𑁋 Eu não consigo lembrar 𑁋 murmurei, segurando o livro com dedos trêmulos.

Havia uma sensação de perda, como se algo precioso estivesse fora de alcance, algo que eu sabia ser importante, mas que escapava de minha compreensão.

Mesmo fora daquele hospital psiquiátrico, eu ainda me sentia presa lá dentro. Procurando respostas.

Meus pensamentos eram um emaranhado de dúvidas e confusão. A ideia de que eu era acusada de assassinar alguém, e ainda por cima, alguém que eu não conseguia lembrar, parecia impossível de acreditar.

A realidade era que nada fazia sentido para mim, e o peso da incerteza era quase insuportável.

Ran se levantou e veio até mim, seus movimentos eram fluidos, quase predatórios, mas ainda assim havia uma delicadeza neles, como se ele soubesse que eu era frágil, à beira de me quebrar.

Ele tomou o livro das minhas mãos com delicadeza, mas o gesto parecia calculado.

𑁋 Você vai lembrar 𑁋 ele afirmou com uma confiança que me perturbava.

Havia algo em sua voz, uma certeza que eu não conseguia entender. Como ele podia estar tão seguro? Como ele sabia que minhas memórias retornariam? E mais importante, por que isso parecia importar tanto para ele?

Sua mão encontrou a minha, o toque quente e reconfortante. Eu olhei para ele, seus olhos estavam cheios de algo que eu não conseguia decifrar.

𑁋 Eu estou aqui 𑁋 ele disse, e por um momento, foi como se nada mais importasse.

Havia algo em Ran que me fazia querer confiar nele, algo que me fazia sentir que, apesar de tudo, eu estava segura ao seu lado. Mas a sombra do que eu não sabia pairava sobre nós, como uma ameaça invisível, sempre presente, sempre à espreita.

Mas.. ele era meu namorado, não era?

𑁋 Eu quero acreditar em você 𑁋 admiti, mas meu coração estava pesado com a incerteza.

𝐀𝐒𝐒𝐈𝐍𝐎 𝐂𝐎𝐌 𝐗; Ran HaitaniOnde histórias criam vida. Descubra agora