Cap 4

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Em meus sonho estava muito escuro e a luz fraca que havia parecia irradiar da pele de Lena. Não conseguia ver seu rosto, só as costas enquanto ela se afastava de mim, me deixando sozinha na escuridão. Por mais rápido que eu fosse não conseguia alcançá-la; por mais alto que gritasse, ela não se virava. Perturbada, acordei no meio da noite e não voltei a dormir pelo que pareceu um longo tempo. Depois disso, ela entrou em meus sonhos quase toda noite, mas sempre fora de cena, nunca ao meu alcance.

O mês seguinte ao acidente foi inquietante, tenso e, no início constrangedor.

Acabei sendo o centro das atenções pelo resto da semana. Tyler Crowley estava impossível, seguindo-me por toda a parte, obcecado por se redimir de alguma forma mesmo após Alex ameaçar ele de todas as formas possíveis para ficar longe de mim. Tentei convencer ele que estava tudo bem e que esquecesse tudo aquilo, mas ele insistia sem parar.

Ele me seguia entre as aulas e se sentava a nossa mesa, agora abarrotada. Mike e Eric foram ainda menos amistosos com ele do que entre si, o que me deixou preocupada com a possibilidade de ganhar outro fã indesejado.

Ninguém parecia preocupado com Lena, mas expliquei várias vezes que a heroína era ela - que havia me tirado do caminho e quase fora atropelada também.

Perguntei a mim mesma porque ninguém a viu parada tão longe de mim, antes que ela salvasse a minha vida de repente e daquele jeito impossível. Com pesar, percebi a provável causa - ninguém mais tinha ciência da presença constante de Lena como eu. Ninguém a observava da mesma forma que eu fazia. Que pena.

Lena nunca ficou cercada de uma multidão de curiosos ansiosos por seu relato em primeira mão. As pessoas a evitavam, como sempre. Os luthors sentavam-se à mesa de sempre, sem comer, conversando entre si. Nenhum deles, em especial Lena, voltou a olhar na minha direção.

Quando ela se sentou ao meu lado na aula, o mais distante de mim que a carteira permitia, parecia totalmente inconsciente da minha presença. Só ocasionalmente, quando seus punhos de repente se curvavam - a pele esticada ainda mais branca sobre os ossos - é que eu me perguntava se ela estava tão distraída como parecia.

Ela queria não ter me tirado do caminho da van de Tyler - não havia outra conclusão que eu pudesse ter.

Queria muito conversar com ela e, no dia seguinte ao acidente, tentei. Da última vez que a vi, do lado de fora da emergência do hospital, nós estávamos furiosas. Eu ainda tinha raiva por ela não ter me contado a verdade, embora cumprisse com a minha parte do acordo. Mas ela salvou a minha vida, independente de como tenha feito isso. E, da noite para o dia, a temperatura elevada da minha raiva desapareceu numa gratidão reverente.

Quando cheguei na aula de biologia Lena já estava sentada, olhando para a frente. Eu me sentei, esperando que se virasse para mim. Ela não deu sinais de ter percebido minha presença.

- Oi, Lena - eu disse de um jeito agradável, para mostrar que ia me comportar.

Ela se virou só um pouquinho para mim sem me olhar nos olhos, balançou a cabeça uma vez e depois desviou o rosto.

E esse foi o último contato que tivemos, mas ela ficava ali, a trinta centímetros de distância todo dia. Eu a olhava às vezes, incapaz de me conter - mas de longe, no refeitório ou no estacionamento. Eu a observava à medida que seus olhos verdes ficavam mais escuros dia após dia, eu podia jurar que vi traços dourados em seus olhos. Mas na aula, eu não prestava atenção nela mais do que ela permitiria. Eu estava infeliz, e os sonhos continuaram.

Apesar das minhas mentiras, o tom dos meus e-mails alertaram Eliza de minha depressão, e ela ligou algumas vezes, preocupada. Tentei convencê-la de que era só o clima que me deixava desanimada.

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