Cap 10

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Pela manhã, foi muito difícil debater com a parte de mim que tinha certeza de que a noite passada tinha sido um sonho. A lógica não estava do meu lado, nem o bom senso. Agarrei-me às partes de que eu não podia ter imaginado - como o cheiro do cabelo dela. Tinha certeza de que nunca teria inventado isso sozinha.

Do lado de fora de minha janela, havia uma neblina e estava escuro, absolutamente perfeito. Ela não tinha motivos para não ir a escola hoje. Coloquei minhas roupas pesadas, lembrando que não tinha casaco. Mais uma prova de que minhas lembranças eram reais.

Quando desci Alex já tinha saído novamente - eu ia me atrasar mais do que tinha percebido. Engoli uma barra de granola e corri porta afora. Por sorte a chuva daria tempo um tempo até eu encontrar Jéssica.

A neblina era incomum; o ar era quase fumacento. Eu estava louca para entrar no calor da minha picape. Era uma neblina tão densa que eu estava a pouca distância da entrada de veículos antes de perceber o carro; um carro prata. Meu coração disparou, tropeçou e recuperou o batimento no dobro da velocidade.

Não vi de onde ela veio, mas de repente ela estava ali, abrindo a porta para mim.

- Quer carona comigo hoje ? - perguntou, divertindo-se com a minha expressão ao me pegar de surpresa outra vez. Havia incerteza na voz dela, ela realmente estava me dando alternativas - eu estava livre para recusar, e parte dela esperava por isso. Era uma esperança vã.

- Quero, obrigada - eu disse, tentando manter a voz calma. Enquanto entrava no carro quente, percebi uma jaqueta caramelo pendurada no banco do carona. A porta se fechou atrás de mim, e antes que eu pensasse ser possível, ela estava sentada ao meu lado dando a partida no carro.

- Trouxe o casaco para você. Não quero que adoeça nem nada disso - sua voz era cautelosa. Percebi que ela mesmo não estava de casaco, só com um blusão cinza  de tricô com gola em V e mangas compridas. Novamente o tecido colava em meu peito.

- Não sou tão frágil assim - eu disse, mas puxei o casaco para o colo, passando os braços pelas mangas compridas demais, curiosa para ver se o cheiro podia ser tão bom quando minha lembrança dele. Era melhor ainda.

Seguros pelas ruas envoltas de névoa, sempre rápido demais.

Ela se virou para sorrir para mim com malícia.

- Que foi, hoje não tem vinte perguntas ?

- Minhas perguntas te incomodam ?

- Não tanto quanto suas reações. - Ela parecia estar brincando, mas eu não podia ter certeza.

Franzi o cenho.

- Eu reajo tão mal assim ?

- Não é esse o problema. Você leva tudo com tanta frieza... Não é natural. Fico me perguntando o que realmente está pensando.

- Sempre digo o que estou pensando.

- Você edita - Acusou ela.

- Não muito.

- O bastante para me deixar louca.

- Você não quer ouvir - murmurei.

Ela não respondeu e me perguntei se teria estragado o clima.

- Onde está sua família ? - perguntei, muito contente por estar sozinha com ela, mas lembrando que o carro dela em geral estava cheio.

- Eles usaram o carro do Lex - ela deu de ombros ao estacionar ao lado de um conversível vermelho com a capota suspensa - chamativo não é ?

- Hmmm, caramba - disse à meia-voz - se ele tem isso porque pega carona com você ?

- Como eu disse é chamativo. Nós tentamos nos misturar.

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