CAPÍTULO 6

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[POV Narradora]

A luz fria do teto iluminava a sala de reuniões do quartel, revelando paredes cobertas de painéis táticos e mapas detalhados das últimas operações militares. Dois oficiais de alta patente, estavam sentados em lados opostos de uma mesa de madeira escura, os rostos marcados pelo cansaço das semanas recentes.

-Então, parece que a Tenente Albuquerque está se recuperando mais rápido do que esperávamos. A fisioterapia está progredindo além das nossas previsões. - o general batia os dedos na mesa como se tal ato ajudasse a organizar sua linha de raciocínio.

-Exatamente, senhor. No relatório de um mês atrás, nosso agente infiltrado disse que ela já conseguiu ficar em pé sozinha, sem apoio. Agora ela está usando muletas e se deslocando sozinha! A equipe médica está surpresa com a velocidade da recuperação, especialmente considerando o estado em que ela estava. - o coronel analisa o relatório em suas mãos.

O general encara seu coronel de forma tão intimidadora que o homem de meia idade força o máximo que pode seu cérebro para formular sua próxima resposta.

-Isso é uma ameaça para nós. Se ela continuar recuperando a mobilidade, é questão de tempo até que a memória dela comece a voltar também.

- General, até agora, as lembranças dela estão limitadas ao que aconteceu antes da operação. Ela não se lembra da emboscada, mas estamos andando em uma corda bamba aqui. Qualquer brecha e ela pode começar a juntar as peças.

Cruzando os braços sobre o peito e com o semblante sério, o general decidia o rumo da vida de Valentina como quem decide quando empurra ou não uma mera peça de dominó sobre a mesa.

-Precisamos garantir que isso não aconteça. Se Valentina descobrir que foi traída por alguém dentro do exército, as consequências serão desastrosas para todos nós. Já sabemos o que está em jogo.

-Sim, senhor. A questão é: como podemos garantir que ela não se lembre?

-Precisamos de uma abordagem mais sutil. Talvez manter o foco na recuperação física seja a chave. Se ela estiver totalmente concentrada em se curar, não terá tempo para explorar as lacunas de memória.

-Concordo, mas talvez devêssemos aumentar a vigilância. Qualquer coisa que ela diga ou faça deve ser reportada imediatamente. E, se necessário, podemos tentar redirecionar a investigação dela.

-Precisamos encontrar uma forma de manter Valentina próxima, mas sem levantar suspeitas. Alguma desculpa médica para monitorá-la de perto, mas que pareça inofensiva.

O coronel então sorri para o chefe.

-Podemos sugerir que ela precise de consultas regulares com a equipe de saúde mental, devido ao trauma. Isso nos daria uma desculpa perfeita para mantê-la sob observação constante.

-Faça isso. E não deixe escapar nenhum detalhe. Valentina é uma soldado valiosa e muito boa no que faz, mas agora, ela também é um risco que precisamos administrar com muito cuidado. E a outra sobrevivente?

-A médica? É mais burra que uma porta. Ela definitivamente não é uma ameaça. Só entende dos seus pacientes e nada mais. - o coronel conclui. Obviamente ele dúvida perigosamente da capacidade de Luiza Campos, mas algo no ar anuncia que em breve ele vai querer retirar tudo o que disse.

Os dois oficiais trocam olhares cúmplices, ambos cientes de que estavam lidando com um segredo que poderia desmoronar tudo o que haviam construído. Eles precisavam ser meticulosos, precisavam garantir que Valentina nunca se lembrasse da verdade sobre aquela operação.

Enquanto isso, não muito distante dali, após um mês desde que havia conseguido ficar em pé sozinha, Valentina finalmente começava a substituir os grandes e largos moletons que escondiam seu corpo por shorts e top de treino confortáveis enquanto treinava na academia da ala de fisioterapia com a supervisão de seu personal e é claro, da sua fisioterapeuta favorita.

Ela se sentia simplesmente viva por poder se exercitar de novo, sentir a endorfina percorrer seu corpo provocava uma sensação de êxtase maravilhosa. Valentina lutava incansavelmente por sua independência, já não usava mais a cadeira de rodas, mas o par de muletas ainda se fazia necessário.

Mesmo com algumas limitações ainda, ela sabia que recuperar sua forma física - que sempre foi impecável - , era metade do caminho pra ir em busca da verdade.

Por outro lado, Luiza acompanhava de perto toda aquela evolução e não poderia estar mais orgulhosa e ansiosa pra finalmente poder contar tudo em detalhes para sua mulher.

Agora, com uma melhora significativa como essa, Luiza cogita ainda mais contar tudo para Valentina, antes que ela descubra por outra pessoa ou pior que confie no que as pessoas erradas disserem.

Claro que ela tem medo da reação da amada ao saber sobre Eduardo, mas a essa altura qualquer cenário é melhor do que ser apenas uma memória bloqueada na mente da pessoa que ela ama.
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Do outro lado da cidade, uma nova aliança é formada, Hope Amorim, a médica do caso de Valentina compartilha com Rafaela Oliveira, seu receio referente a saúde de sua amiga.

-Mas então, qual é o risco que minha irmã corre? - sentadas na mesa de uma lanchonete de bairro para não levantar suspeita, a advogada encara a doutora.

-Sua irmã tem se esforçado para se recuperar e voltar a ativa fisicamente, o que é bom porque ela tem um propósito. Mas o que me preocupa é que ela está vivendo num universo paralelo.

-Se não for pra dar 110% de si, Valentina nem vai, ela sempre foi esforçada assim. Mas sobre contar tudo pra ela, acha que ela suportaria?

-Não sei, é tudo bem incerto agora.

-Entendi, como essa sua preocupação me ajuda então?

-Você precisa redobrar o cuidado com ela, observar de perto e conversar muito para entender o que se passa pela mente dela. Você precisa relatar tudo pra mim, assim saberei quando e se é preciso intervir.

-Não basta me fazer mentir pra ela sobre a morte do Du, - a advogada se emociona ao lembrar do irmão. -agora quer que eu fique de leva e traz?

-Eu não coloquei uma arma na sua cabeça e forcei a mentir pra ela, apenas te disse quais seriam as consequências médicas de suas ações na saúde da Valentina. - a médica que também é habilitada em psiquiatria sempre se irrita quando a colocam como a vilã da história. - Eu já vi o que lembranças reprimidas dolorosas como essas são capazes de fazer com a cabeça dos soldados mais condecorados do exército! Não quero que Valentina seja mais uma soldado perdida!

-Eu acho melhor contar isso de uma vez e focar em ajudá-la a superar do que ficar omitindo as coisas. Não é justo com ela e tá na hora de eu deixar de ser conivente com isso.

Rafaela reconsidera diariamente sua decisão de omitir algumas informações de Valentina pelo bem da sua recuperação, mas nos últimos dias essa vontade de contar tudo só tem aumentado.

-Rafa, por favor!

-Você tem um mês, nada além disso. E eu mesma contarei pra ela.

Essa situação é a representação clássica de um caminho que se divide em dois. Valentina finalmente se lembrar de tudo fará bem ou fará mal pra ela?

Quando a verdade é capaz de te matar, ela ainda vale a pena?

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Helloo! Tô muito legal né? Enchendo vocês de capítulo surpresa. Vou postar o próximo daqui uns 2 meses 😅 (é brincadeira!)

Você Me Salvou - ValuOnde histórias criam vida. Descubra agora