CAPÍTULO 25

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[POV Valentina]

3 dias depois

O cheiro de lençóis limpos foi a primeira coisa que me atingiu ao abrir os olhos. É suave, mas familiar, me lembra a casa da Lu. Eu estou em casa - ou pelo menos, num lugar mais seguro que o cativeiro em que eu estava sendo mantida. O quarto está escuro, iluminado apenas pelo abajur da mesinha de cabeceira.

Meus músculos doem, como se cada fibra tivesse sido rasgada e costurada às pressas. Faço força para mexer a mão livre e sinto a dor irradiar pelos meus braços. Aos poucos, os flashes me atingem: Mendes, as incontáveis torturas, meu pai?

Meu peito aperta com a possibilidade, mas me forço a controlar a respiração para me manter estável.

Viro a cabeça devagar e logo vejo Luiza sentada numa poltrona ao lado da minha cama, dormindo com a cabeça pendendo em um ângulo desconfortável. Ela segura minha mão. Suas unhas curtas e cuidadas chegam a contrastar com a minha pele marcada por cicatrizes e o roxo causado pelas correntes.

-Lu... - minha voz sai rouca, quase inaudível. Resolvo tentar apertar sua mão e acho que funciona.

Ela se mexeu imediatamente, como se estivesse em alerta constante mesmo dormindo. Seus olhos castanhos piscam algumas vezes antes de me encararem, arregalados.

-Valen... - o alívio em sua voz é palpável. Ela se inclina pra frente, apertando minha mão com um pouco mais de força, como se tivesse medo de que eu desaparecesse.

-Tô aqui. - tento sorrir, mas meus lábios não me obedecem.

Ela sorri, mas vejo algo nos olhos dela. Uma mistura de cansaço e dor que me faz querer levantar e abraçá-la forte.

-Você me assustou... -sua voz sai baixa, quase um sussurro.

Embora eu queira de verdade prestar atenção  nela, meus sentidos falham um a um, pisco lentamente, como se isso fosse me ajudar a entender o que ela está dizendo.

-Quanto tempo dormi? - pergunto com a voz rouca, me sinto quente, mais fraca.

-Três dias. Você teve febre alta, ainda está com um pouco de febre inclusive. - ela pega uma compressa com água morna e coloca em minha testa. -É a primeira vez que acorda e conversa de fato, até agora foram só algumas alucinações.

Desvio o olhar do seu, tento disfarçar e relaxar a mandíbula tensa. Detesto me sentir vulnerável.

-Depois de..depois de tudo você ainda ficou aqui comigo.. -tento entender como ela foi capaz disso tudo por mim.

-Não havia outro lugar onde eu quisesse estar. - ela abre o sorriso mais lindo desse mundo e acaricia meu rosto.

-Obrigada por isso e por todo o resto, Lu. Sério, se não fosse.. - ela me interrompe.

-Amor, eu tô com você para absolutamente tudo, entenda isso de uma vez, tá? - apenas balanço a cabeça em confirmação. 

-Meu pai tava aqui? Tive a impressão de ter visto ele - perguntei, tentando esconder a irritação que subia em mim. - Ou foi tudo uma alucinação?

-Não foi uma alucinação, amor. Seu pai tá vivo e ele está na sala. Não quis sair até você acordar. Quer ver ele?

-Não quero vê-lo agora - murmurei mesmo que uma parte de mim desejasse um abraço dele por tantos anos longe.

-Ótimo, primeiro vamos cuidar de você. Depois decidimos o que fazer.
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Ela me ajudou a sentar na cama, e a dor foi uma nova pancada que percorreu meu corpo. Mordi o lábio para não gemer de dor, mas Luiza percebeu. Ela sempre percebe.

Você Me Salvou - ValuOnde histórias criam vida. Descubra agora