Você já testemunhou a luz pura?

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Foi assim que eu fui de zero à cem.

Eu morei em Jinzhou a minha vida toda, e a história nunca foi piedosa com esse lugar. Quase totalmente destruída diversas vezes e ainda de pé. É pra poucos. Com tantos Fenômenos de Desgaste por Ondas, são raros os lugares que sobrevivem vários anos sem serem afetados de alguma forma pelo Lamento. Os cientistas da Academia já estão conseguindo prever alguns comportamentos das Dissonâncias Tácitas, mas nada que evolua muito nossa situação. O que nos resta é lutar até isso acabar. Que nem o General Jiyan uma vez disse: "Nossas famílias, nosso lar e nossas conexões. É por isso que lutamos". E eu? Luto pelo que? Eu não tenho família, eu não tenho um lar e certamente não tenho conexões. Estou sozinho nesse mundo e não tem nada que me prenda aqui. Até esse dia.

Andando nervoso, mas resiliente, estava eu indo para o que era para ser o meu último vislumbre do mundo, até que eu me deparo não estar sozinho no lugar dos meus sonhos... o ponto mais alto de Jinzhou, a Montanha dos Ares Límpidos. Eu nem tinha chegado perto ainda e essa pessoa já se levantou de uma cadeira que estava no pico da montanha e disse: "Olá". "Oi", eu suspirei e continuei, claramente frustrado, "Eu não sabia que teria mais alguém aqui". Parecia que ele já estava me esperando, mas não deixou isso claro, dando uma risadinha respondeu, "Sinto muito atrapalhar seu momento. Mas, podemos apreciar a vista juntos, se quiser", me convidou com um sorriso no rosto. Bem, não era como se eu tivesse outra coisa pra fazer, além de esperar ele ir embora. "Pode ser...", respondi sem emoção. Ele puxou uma cadeira e estendeu a mão, e eu me sentei. Ele quebrou o silêncio depois de alguns minutos. "Meu nome é Rover", disse ele esperando que eu me apresentasse também, "Rover? O Rover? Tipo, o herói de Jinzhou?", exclamei. Ele deu outra risadinha e respondeu "Pode ser, se é assim que me conhece, mas por hora, posso ser só um amigo", "Amigo? Eu nem te conheço direito", rispidamente respondi. "Sim, eu também não te conheço, mas estou disposto a conhecer", continuou com a mesma aura amigável do começo. "Você vir até aqui já é um sinal de que você tem bom gosto para vistas, fiquei curioso em saber sobre o que mais você tem bom gosto", ele me intrigou, "Kio. Kio Winter. Prazer", eu relutantemente me apresentei. "Muito prazer em te conhecer, Kio", disse, de novo, com aquele sorriso no rosto. "Longo dia? Veio aqui relaxar? Ou veio atrás de uma aventura?", perguntou olhando para o horizonte. "Não, eu nunca tinha vindo aqui antes. Esse era o último lugar que eu queria vir, como se fosse um desafio pra mim mesmo, ou uma recompensa depois de um objetivo concluído", declarei, sem nem saber o porquê de eu estar falando até meus cotovelos com alguém que eu acabei de conhecer, ainda mais o Rover, um herói, que deveria estar ocupado com coisas mais importantes do que isso. "E qual foi o objetivo que você concluiu?", me perguntou olhando nos meus olhos, esperando uma resposta sincera. "Uhh, nenhum. Eu não conquistei nada na minha vida", parece que o superpoder desse cara é fazer os outros vomitarem todos os sentimentos verdadeiros que estão sentindo, surreal. "Mas você tem muito tempo, você não parece nem ter 20 anos ainda", disse ele, o Rover, tocando na ponta do meu nariz, com aquele sorrisinho. "Você não tem coisas mais importantes pra fazer?", perguntei pra ele num rush de coragem, que veio do nada. "Não, você é a única coisa importante agora", infelizmente eu corei, mas ninguém resiste alguém falando assim, então eu fico mais tranquilo. "Que?", eu perguntei, e ele de novo, deu uma risadinha, "Relaxa, estamos no lugar mais tranquilo de toda Jinzhou e você está completamente tenso", como se fosse fácil relaxar com uma pessoa me deixando nervoso. "Eu não vim aqui pra isso", exclamei. "E para o que você veio?", perguntou sério, novamente me olhando nos olhos. "Essa seria a última vista pra mim, eu chegaria aqui, sentiria meu corpo ser envolto pelo vento e terminaria aqui, tudo o que nem começou". POR QUÊ? Alguém me explica, porque eu disse isso? "Eu te entendo", disse ele, alcançando a minha mão e a segurando. "Você pode começar de novo, comigo, que tal?", me perguntou, dessa vez, sem risadas e nem sorrisos amigáveis, só... ele. "Sim", eu disse, sem nem saber o que estava acontecendo. "Obrigado", disse ele, agora sim, sorrindo, "Primeiro, qual é o seu desejo mais profundo?". "Eu não tenho nada", disse eu, olhando para baixo, decepcionado comigo mesmo. "Você tem tudo. Olha pra isso...", disse ele, estendendo a mão para a vista de Jinzhou, "Você pode se sentir sozinho agora, mas pode ter certeza, enquanto eu estiver aqui, vou fazer de tudo para que não se sinta", ainda segurando minha mão, ele me olhou e disse isso, como que faz? "Por quê?", eu perguntei. "Hm?", ele respondeu como se estivesse distraído, mas ele estava me olhando o tempo todo. "Por quê você está fazendo isso?", "Isso o que?", "Me dando esperança". Eu só queria que aquilo acabasse, para que eu pudesse fazer o que eu fui fazer. "Porque você merece sentir algo além do que está sentindo agora", ele respondeu, eu me surpreendi e levantei minha cabeça e olhei pra ele também. "Você pode ser tudo o que quiser. Nesse mundo, tudo é possível", ele tentou me animar, "Mas e se eu não quiser ser mais nada?", eu perguntei. "Eu entendo esse sentimento. É excruciante sentir como se nada do que você fizesse fosse fazer alguma diferença. Não ter ninguém que possa me dizer: vai ficar tudo bem", eu me levantei em um momento de fúria, "Como?! Como que você entende isso?! Você é literalmente o herói de Jinzhou, você derrotou um Trenodiano sozinho, você restaurou uma ilha de um lapso do tempo, sozinho. Você é a pessoa mais importante que tem por aqui, você foi feito pra evitar tudo isso. Como que você me entende?!". Eu não sei o que deu em mim, eu nunca senti nada, imagina raiva de uma pessoa que nunca tinha visto, só ouvido sobre em jornais. "Você acha que eu nunca me senti sozinho?", disse ele calmamente, "Eu acordei numa praia, sem memórias de quem eu era, onde eu estava e o que estava acontecendo. Duas meninas me acolheram e me ajudaram a ficar de pé novamente. Até o momento em que elas me ajudaram a saber pelo menos um pouco do meu passado, eu estava me sentindo deslocado, um fardo. Até o momento que deu um clique de que eu não estava sozinho, onde elas provaram que estavam lá por mim. E era exatamente disso que eu precisava, sentir que precisavam de mim", ele me explicou e eu calmamente me sentei de novo na cadeira, arrependido de ter estourado daquela maneira. "Desculpa...", "Está tudo bem. Vai ficar tudo bem, mesmo que nada esteja fazendo sentido agora, vai fazer sentido logo. Você tem muito potencial, você só precisa se ver, como eu te vejo", ele me disse, com a mão no meu ombro. "Ugh... eu só queria que tudo isso acabasse, porque você tinha que estar aqui?", desabafei, mas aliviado de que aquele não era o fim, "Porque você precisava de mim, assim como eu preciso de você agora", disse ele.

Minha mente era pura escuridão, até que eu conheci e senti o que é a luz.

Atrelado à Luz - Wuthering WavesOnde histórias criam vida. Descubra agora