CHAPTER EIGHT.

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Sinto uma respiração quente em meu rosto e, com um movimento lento, abro os olhos cuidadosamente. Meus olhos se encontram com os de Julius, e um sobressalto repentino toma conta de mim. Um grito involuntário escapa dos meus lábios, e eu me afasto rapidamente, assustada.

Julius me observa com uma expressão tranquila, como se nada de extraordinário tivesse acontecido, e se ergue da cama com serenidade. A pergunta paira no ar: Ele esteve acordado esse tempo todo e optou por não me acordar?

-Até que enfim, irei preparar o jantar. -Julius diz, passando a mão pela cabeça e se pondo de pé com a naturalidade de quem está acostumado com a situação. Eu o encaro, incrédula, enquanto ele se afasta e deixa o quarto.

-Mas... -Tento articular, vendo-o desaparecer da minha visão.

Conforme desvio o olhar para o meu lado, noto que dormi sem proteção, sem o aconchego de cobertas. É estranho, pois normalmente sou incapaz de adormecer sem me cobrir. Observo atônita o meu vestido e percebo aliviada que ele não subiu durante meu sono, o que me traz certo alívio.

No entanto, ao observar mais cuidadosamente, noto que estou despida por baixo daquele tecido. Levo minhas mãos ao rosto, tomada por uma intensa vergonha. Como fui descuidada? Será que ele percebeu? Meu Deus, que constrangimento avassalador. Num movimento ágil, levanto-me da cama, saio apressadamente do quarto e desço as escadas em busca de um refúgio.

-Você se lavou? -Ouço a voz de Julius questionando, enquanto o observo segurando uma faca e habilmente cortando pedaços de carne.

-Sim, eu peguei a água. -Respondo, desviando de sua presença e, com discrição, recuperando minha vestimenta do chão, sem que ele perceba.

Saio da casa correndo, com a roupa suja em mãos, em direção à área externa. Observo o tanque de lavar roupas e o sabão ao lado, e uma sensação de nostalgia misturada com um certo desgosto toma conta de mim. Voltar no tempo tem seus contras, e a simples tarefa de lavar roupas à mão me faz lembrar disso.

Aproximo-me do tanque, deposito minhas roupas ao lado e me sento em uma pedra próxima. Observo detidamente minha calcinha, sutiã, e vestido, e uma profunda vergonha me invade. Será que Julius viu? As peças íntimas que uso, fora de época, são motivo de constrangimento para mim.

Despejo as roupas no tanque, aplico o sabão e começo o ritual de esfregar cada peça vigorosamente. Após finalizar a tarefa, enxáguo as roupas em água limpa, agradecendo em silêncio pelas habilidades adquiridas ao longo de uma vida marcada por privações e sofrimento.

Levanto-me com as roupas torcidas entre as mãos, e vislumbro um varal ao longe. Contemplo-o por um instante, preocupada com a possibilidade de ser vista por Julius ao estender a roupa. Opto por pendurar a calcinha e o sutiã de forma discreta, cobrindo-os com o vestido para não chamar atenção.

Após secar as mãos no tecido do vestido, refaço o rabo de cavalo que Julius gentilmente prendeu em mim. Retorno para dentro da casa e fecho a porta suavemente. Observo Julius concentrado, mexendo algo em uma panela no fogão. Com passos hesitantes, me aproximo de Julius enquanto observo atentamente a comida nas panelas, uma sensação de desconfiança paira no ar.

-O que está fazendo? -Minha voz soa incerta enquanto me aproximo dele, lançando um olhar crítico para a preparação culinária diante de mim. -Quer me envenenar? Isso parece estar ruim. -Comento, expressando minha preocupação com um franzir de sobrancelhas.

-Talvez. -Julius responde de maneira enigmática, finalizando a mistura da comida e me encarando com um olhar desafiador. Aponta em direção a um prato e me solicita. -Pega aquilo para mim, por favor? -Ele se refere ao objeto com um gesto discreto, e eu balanço a cabeça em sinal de recusa, mantendo minha postura firme.

ENTRE SÉCULOS E AMORES.Onde histórias criam vida. Descubra agora