CHAPTER TWENTY-FIVE.

12 7 0
                                    

Me afasto de Julius e o encaro profundamente. Seu rosto está marcado por cicatrizes, cada uma contando uma história silenciosa de dor e sobrevivência. O que me intriga, no entanto, é o fato de que ele, com seus 22 anos, ainda não tenha um único fio de barba. Parece estranho, como se o tempo tivesse esculpido apenas sua pele, mas não sua masculinidade completa.

-Seu idiota, por que me beijou? -Pergunto, dando mais um passo para trás, mantendo uma distância segura entre nós.

Ele sorri, aquele sorriso confiante e levemente sarcástico que me irrita mais do que me agrada.

-Foi bom te ver também, Meggy. -Ele não perde o tom brincalhão enquanto puxa seu braço, colocando-o sobre meu ombro com uma atitude despreocupada. -Aliás, obrigada pelo beijo. Um troféu pela guerra vencida é sempre bem-vindo.

Sinto uma pontada de raiva e irritação crescendo dentro de mim.

-Eu já me lembrei do porquê eu te odeio. Agora cale a boca. -Digo, com firmeza na voz, enquanto apoio seu corpo contra o meu, tentando ignorar o peso dele e conduzi-lo pela floresta, passando com dificuldade pelo rio que murmura ao nosso lado.

O caminho é mais longo e árduo do que eu imaginava. Cada passo me faz perceber o quanto Julius está machucado. Esse pensamento, de alguma forma, mexe comigo, me fazendo sentir uma dor que eu não queria sentir.

Quando finalmente chegamos à taberna, empurro a porta com esforço, usando uma das mãos, e ao abrir, meus olhos encontram todos sentados às mesas. Ophelia e Hawise estão presentes, mas é Hakon, encostado no balcão com uma expressão fechada e dura, que mais chama minha atenção.

Conduzo Julius até uma cadeira, e ele se deixa cair nela, gemendo de dor. A sensação de impotência toma conta de mim; não há nada que eu possa fazer além de observá-lo, meu olhar atento e preocupado. Aproximo-me dele e começo a retirar sua capa, que está pesando com a sujeira e o sangue.

Quando finalmente a removo, vejo a extensão dos ferimentos em seu corpo. Ele está imundo, e me pergunto se nesses oito meses ele sequer tomou um banho ou cuidou de suas feridas. Algumas manchas de sangue parecem ter secado há muito tempo, enquanto outras ainda estão frescas, mal coaguladas.

-Hakon, me ajude a levá-lo para se lavar! -A voz firme de Hawise quebra o silêncio tenso, e ao olhar para Hakon, vejo-o revirar os olhos com evidente desdém. A raiva explode dentro de mim. Ele odeia Julius tanto assim?

-Tá. -Hakon responde, com um tom de voz que deixa claro seu descontentamento. Ele se aproxima de nós com passos pesados, e com um impulso, segura um lado do corpo de Julius, enquanto Hawise pega o outro. Juntos, eles o conduzem para um quarto nos fundos, e eu os sigo com o olhar até que desapareçam de vista.

Olho para Ophelia, que me devolve o olhar com um sorriso suave e compreensivo. Não consigo evitar reparar no corte de cabelo dela, que a faz parecer ainda mais forte e decidida. O corte é perfeito, realçando sua beleza de uma forma que quase me deixa invejosa.

-Esse alguém... -Começo a dizer, ainda a observando. -Obrigada por me avisar, Ophelia. Sou grata por ter uma amiga como você.

-Eu fiquei sabendo e calculei o tempo que levaria para ele chegar aqui. Imaginei que ele estaria lá. -Ophelia responde com a mesma calma de sempre. -Acho que você estava precisando.

Assinto com a cabeça, sentindo o peso de suas palavras. As horas passam lentamente, e a noite cai silenciosa e fria. Ophelia e eu decidimos ir para a cozinha preparar a refeição, mas eu insisto que sou eu quem deve fazer a comida de Julius. Há algo em mim que precisa cuidar dele, mesmo que eu não entenda completamente o porquê.

Quando termino de preparar o prato, vou até o quarto onde Julius foi colocado. Ao entrar, vejo-o sentado na cama, seu cabelo curto ainda molhado, e o peito nu, exibindo as marcas de batalha e sofrimento. Aproximo-me devagar, sentindo meu coração acelerar sem motivo aparente, e me sento ao lado dele, colocando o prato em suas mãos.

ENTRE SÉCULOS E AMORES.Onde histórias criam vida. Descubra agora