CHAPTER TWENTY-ONE.

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Enquanto eu caminhava pela sala, perdida em pensamentos que giravam em torno de Julius, senti uma pontada de frustração. Fazia um mês que ele me mandou para cá antes de partir para a guerra. Eu me vi sozinha, cercada por rostos desconhecidos, e agora, contra todas as expectativas, havia estabelecido uma espécie de amizade com Hakon.

Ophelia parecia satisfeita com isso, mas a verdade era que algo ali me incomodava profundamente. Hakon gostava de mim, eu tinha certeza. Mas isso era ridículo! Só de lembrar como ele tentara, sem aviso, ajudar-me a lavar roupa no dia anterior, eu já sentia a irritação crescer novamente. Quem pediu ajuda? Para quê? Imbecil.

Suspirei, tentando afastar os pensamentos que só aumentavam minha impaciência. Agora, mais do que nunca, eu ansiava pelo retorno de Julius, mesmo que eu soubesse que Hakon não suportava a ideia. O sentimento por Julius era um turbilhão de emoções conflitantes - ódio, confusão, e um desconforto que eu não conseguia entender completamente.

-Meggy? -A voz de Ophelia cortou o silêncio da sala, despertando-me dos meus devaneios como uma brisa fria que atravessa um campo adormecido. Pisquei rapidamente, tentando dissipar a névoa de pensamentos que obscurecia minha mente, forçando-me a focar na presença dela, que se tornava mais nítida a cada segundo que passava.

-Oi... desculpa, eu estava distraída. -Respondi, endireitando a postura de maneira automática, os ombros se alinhando enquanto meu olhar finalmente se fixava no rosto de Ophelia. Meus olhos procuraram os dela, tentando transmitir uma atenção que, até então, havia me escapado. Eu precisava parecer presente, mesmo que minha mente ainda estivesse envolta nas memórias perturbadoras de Julius e na confusão que Hakon estava causando em meu coração.

-Você sabe recitar algum salmo? -A voz dela veio com um tom de expectativa misturada com uma sutil impaciência, uma combinação que me fez sentir um leve aperto no peito. Eu percebia, pela intensidade do olhar dela, que aquela pergunta havia sido feita antes, provavelmente mais de uma vez, sem que eu tivesse percebido.

-Sei, sei sim. -Respondi, embora a confusão ainda estivesse presente em minha voz. -Por que você pergunta? -Minha mente vagava entre o que ela poderia estar querendo e a necessidade de oferecer uma resposta adequada.

-Estou a meia hora lhe perguntando e você não me responde. -Ela disse, a leve frustração tingindo suas palavras de uma forma que me fez sentir levemente culpada. -Eu quero saber por que você tem esse sotaque, Meggy. De onde você é realmente?

O mundo pareceu parar por um breve momento enquanto eu a encarava, minha mente correndo a mil por hora, tentando formular uma resposta que fizesse sentido dentro daquele cenário medieval. Como eu poderia explicar a verdade? Que eu não era desta época, que eu pertencia ao distante século XXI? Isso seria impossível de entender para ela. Eu precisava de uma resposta rápida, convincente.

-Eu? -Hesitei, sentindo meu coração acelerar, a mente tentando desesperadamente conectar os pontos. -Sou de... outro reino. Um lugar distante, mas o Julius sabe onde fica.

-Entendi. -Ophelia assentiu devagar, seus olhos estreitando-se em um sinal claro de que ela ainda estava processando minhas palavras. Havia curiosidade em sua expressão, misturada com um toque de desconfiança, como se ela estivesse tentando decifrar um enigma. -Você sabe qual é o nome desse reino ou de algum salmo?

-Alguns nomes me vêm à mente. -Murmurei, minha voz soando quase como um eco distante. Eu tentava soar convincente, mas minha mente continuava a girar em busca de algo que pudesse solidificar essa mentira. -Pergunte-me sobre algum, e eu direi o que sei.

-Você sabe o primeiro? -A voz dela era agora um teste, uma maneira de medir minha familiaridade com algo tão básico e importante como o Salmo número um.

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