CHAPTER TWENTY.

16 7 0
                                    

A luz suave da manhã entrava pelas janelas empoeiradas da taberna, iluminando os grãos de pó que dançavam preguiçosamente no ar. Eu segurava o pano de limpeza com firmeza, meu olhar fixo na superfície da mesa marcada pelo tempo.

Cada movimento meu era meticuloso, como se estivesse tentando apagar não apenas a sujeira, mas também as lembranças de uma noite agitada. O silêncio confortável entre mim e Ophelia era quebrado apenas pelo som ritmado do pano deslizando sobre a madeira.

Ophelia, que estava ocupada arrumando algumas cadeiras, se aproximou devagar. Ela hesitou por um momento, os olhos castanhos me observando com uma mistura de preocupação e apreensão. Finalmente, ela suspirou, como se estivesse se preparando para dizer algo que há muito pesava em seu peito.

-Meggy, me perdoe pelo que eu vou dizer... -A voz de Ophelia era suave, quase um sussurro, mas carregava uma seriedade que me fez parar de limpar e olhar para ela. -Se o meu filho, Hakon, ficar bonzinho do nada, o ignore. Ele tem coração mole, sabe? E eu não quero que ele se apaixone por você. Nada contra, você sabe disso, mas...

Ela deixou a frase pairar no ar, como se temesse a minha reação. Encarei Ophelia por um instante, meus olhos se suavizando com um entendimento mútuo. Eu sabia que ela só queria proteger o filho, e talvez até mesmo me proteger de possíveis complicações.

-Tudo bem, Ophelia! -Respondi com um sorriso leve, mas firme. -Eu sei o meu lugar, e sei o dele...

Voltei a passar o pano na mesa, agora com mais determinação. As palavras de Ophelia ainda ecoavam na minha mente, mas decidi que não deixaria isso atrapalhar minha rotina. Eu tinha um trabalho a fazer, e limpar a sujeira da taberna parecia quase terapêutico.

No entanto, o som da porta se abrindo abruptamente interrompeu minha concentração. Quando ergui o olhar, vi Hakon entrando no recinto, com Hawise logo atrás. Ambos estavam cobertos de sujeira, seus rostos e roupas manchados de lama e poeira. A visão fez meu sangue ferver, minha irritação crescendo rapidamente.

-O que é isso? -Exclamei, largando o pano sobre a mesa com um baque surdo. Meus olhos faiscavam enquanto encarava os dois. -Vocês acham que podem entrar aqui desse jeito? Parece que rolaram no chão como crianças travessas!

Ophelia, que havia se mantido em silêncio até então, juntou-se à minha reprimenda. Sua voz era firme, quase imperiosa, enquanto dava ordens aos dois.

-Hakon, Hawise, vão já tomar banho! Vocês não vão sujar a taberna que acabamos de limpar. -Ela cruzou os braços, seus olhos estreitos mostrando que não aceitava objeções.

-E você, Hakon, obedeça logo a sua mãe! -Disparei, minha voz carregada de desprezo. -Não estou gostando disso. Não pense que eu não percebo essa sua tentativa de ser bonzinho de repente. Isso não me agrada nem um pouco!

Hakon me olhou por um instante, seus olhos claros refletindo uma confusão misturada com um toque de tristeza, mas ele não disse nada. Apenas deu as costas e seguiu para a outra porta, onde o banho o aguardava. Hawise o seguiu em silêncio, sem ousar desafiar minha autoridade e a de Ophelia.

Enquanto eles seguiam até a porta, peguei o pano de novo, mas minhas mãos tremiam levemente. Ophelia, percebendo meu estado, se aproximou e colocou uma mão reconfortante no meu ombro.

-Vai ficar tudo bem, Meggy... -Ophelia disse suavemente, mas eu apenas assenti, sem realmente acreditar nisso. Havia algo em Hakon que estava mudando, e essa mudança me deixava inquieta.

Depois de algum tempo, eu e Ophelia finalmente terminamos de arrumar e limpar a taberna. O sol estava mais alto no céu agora, e um leve brilho de suor começava a se formar na minha testa. Ophelia, sempre prática, deu uma última olhada ao redor, parecendo satisfeita com o trabalho que havíamos feito. Com um suspiro de alívio, ela se virou para mim, um sorriso leve nos lábios.

ENTRE SÉCULOS E AMORES.Onde histórias criam vida. Descubra agora